A calçada nos arredores de uma escola pública no município paraibano de Santa Rita, a 12 km de João Pessoa, era precária, de terra batida, e sobre ela amontoavam-se entulhos, pedras e muito mato. Pelos maus tratos no passeio, as crianças que estudavam na EMEF Índio Piragibe tinham de andar na rua e ficavam sujeitas a acidentes.

Em pouco tempo, a ONG Educar para o Trânsito Educar para a Vida (Etev) deu um exemplo de cidadania e, mesmo sem o respaldo do poder público, identificou o problema e arregaçou as mangas. Por meio de um mutirão, requalificou 333 metros de calçada, implantou cinco rampas para cadeirantes, instalou 18 placas de sinalização e pintou três faixas de pedestre, além de decorar toda a escola com placas alusivas à educação no trânsito.

Com apoio da entidade norte-americana Safe Kids, e de seu braço no Brasil (ONG Criança Segura), a Etev, uma pequena organização com apenas 15 voluntários, conseguiu viabilizar todas as intervenções a um custo de apenas R$ 15 mil, a maior parte delas custeada pela patrocinadora, a empresa de logística Fedex, e o restante levantado por meio de doações dos habitantes da cidade. 

Quem conta essa bela história é Luiz Carlos André, que já foi objeto de reportagem aqui do Mobilize Brasil (relembre): “Tudo começou em novembro de 2011, com reuniões entre professores, moradores e o pessoal da ONG. Realizamos estudo de comportamento, para ver por onde as crianças andavam e os pedestres passavam, quais eram os horários de risco. A partir daí, foi elaborado esse projeto e a obra começou em junho de 2012.”  

Entre as melhorias, ele destaca a construção de uma passagem elevada, que garante plena acessibilidade sem precisar de rampa, facilitando a vida dos cadeirantes.  “Aqui chamamos essa passagem elevada de ‘triutilidade’: os carros fream, as pessoas passam com segurança e o cadeirante não tem nenhum degrau para subir”, conta, orgulhoso.

Ainda motorista na empresa Rodoviária Santa Rita à época da primeira reportagem no Mobilize, Luiz Carlos ganhou credibilidade graças à ONG: seus patrões o liberaram do trabalho nas ruas e o encarregaram da gerência de tráfego, agora no escritório da companhia. Assim, ele tem mais liberdade para se dedicar à entidade que criou e que, aos poucos, transforma a realidade da cidade –e, por que não, serve de inspiração para todo o país.  

A atuação já rendeu à Luiz Carlos uma viagem para a Suécia, onde ficou por 15 dias e tirou a lição de que, mais do que investir em placas, sinalização e calçadas, é necessário melhorar a educação no trânsito. “Nenhum projeto de mobilidade urbana é eficaz se não investir na educação. E é isso que a ONG está fazendo, mostrando à criança por que existe aquela placa, por que ela deve andar na calçada. A educação é o caminho para um transito mais seguro”, afirma.

O desafio agora é ampliar as ações da Etev. Esta terça-feira (23/4), aliás, será decisiva para o futuro da entidade. “Não tivemos apoio da prefeitura de Santa Rita ou do governo da Paraíba durante esses três anos e meio, mas amanhã nos reunimos com a diretora de trânsito da cidade. Existem grandes chances de que eles nos proponham um convênio, seja com apoio logístico, financeiro ou moral, para a ONG implantar o projeto em mais cinco colégios”, conta.  

O apoio do poder público é crucial, mas, até aqui, o saldo da ONG de Luiz Carlos pode ser considerada mais do que positivo. “A transformação para a gente aqui é lenta, mas objetiva e eficaz. É obrigação de todo cidadão fazer algo para mudar o entorno da sua localidade, mudar a comunidade fazendo o que está ao seu alcance”, conclui.