Juntam-se deficiências do setor de transporte e um razoável volume de obras que interrompe o fluxo de veículos em vários pontos da cidade. Imobilizada ou lenta, a cidade enfrenta longos congestionamentos, até então comuns nos bairros mais movimentados, cortados por importantes vias de acesso. Neles, a cidade se acostumava com os frequentes gargalos no trânsito e intermináveis engarrafamentos. Hoje toda a cidade está afetada por esse fenômeno que virou notícia em todo o país e é medido em número de quilômetros. Foi-se o tempo em que se tratava de problema localizado.
Fortaleza convive com paradas esporádicas ou não do trânsito, especialmente, nos momentos de pico. O mais contraditório é que nunca se falou tanto sobre acessibilidade e mobilidade urbanas. São muitas as medidas do tempo gasto pelos cidadãos em seus deslocamentos. Das pesquisas temos dados e informações que registram e indicam o tempo perdido ou tempo gasto nos deslocamentos. Para não perder tempo, muitos se ocupam com diferentes atividades durante o tempo parado no trânsito. Leitura de livros, jornais ou uso de celulares e tablets, pessoas que fazem bordados, crochês ou tricôs.
A implantação dos transportes de massa, não acompanhou o ritmo do crescimento do número de veículos particulares. A redução do IPI provocou um considerável aumento da frota na cidade. Entretanto, Fortaleza conta praticamente com a mesma estrutura urbana do século passado. A grande diferença é que hoje a cidade é cercada por uma imensa coroa metropolitana, constituída por quatorze municípios e muitos deles, crescendo em ritmo superior ao da capital.
Quanto à fisionomia urbana, Fortaleza se inscreve numa lógica global como centro dinâmico de prestação de serviços especializados, de produção, circulação de capital, pessoas e mercadorias. Seu perfil registra cada fase de sua importância como centro cosmopolita que se institui. Amplia sua expressão, sua inserção na teia do turismo internacional para fins de lazer ou eventos. A Copa das Confederações e a Copa do Mundo confirmam essa condição privilegiada da cidade. A necessidade de ajuste às novas demandas resulta em obras e muitas promessas de soluções plausíveis que indicam o possível fim do infortúnio diário. Entretanto, constata-se que pouca coisa mudou. A cidade conta com os mesmos terminais de integração e foram poucas as vias abertas com o objetivo de facilitar o fluxo dos transportes coletivos. O Metrofor não entrou em funcionamento pleno. Seu projeto original se estendia de Maracanaú à Caucaia. Contamos apenas com a metade do trecho previsto.
As intervenções nos moldes de BRS (Bus Rapid Service) ou BRT (Bus Rapid Transit) e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) são tímidas face aos problemas diários enfrentados pela comunidade de Fortaleza e seu entorno.
Enquanto isso, o que fazer aqui parado nesse longo congestionamento?
José Borzacchiello da Silva
borza@secrel.com.br
Geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará