Crescimento com mobilidade urbana é desafio para 19 bairros de Fortaleza

Bairro de Fátima tem renda quase três vezes superior a Parangaba, mas caos no trânsito é problema comum

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Fonte: Diário do Nordeste  |  Autor: Lêda Gonçalves  |  Postado em: 07 de janeiro de 2013

A Feira dos Pássaros provoca caos no trânsito

Feira dos Pássaros provoca caos no trânsito

créditos: Alex Costa

 

A Feira dos Pássaros provoca caos no trânsito e suja a Lagoa da Parangaba. O Bom Futuro, considerado o melhor bairro para se morar em Fortaleza, enfrenta graves problemas socioeconômicos. Sua população ganha, em média, segundo o Ipece, R$ 789. Os moradores querem transporte público e posto de saúde.


Quando o ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, Enrique Peñalosa, esteve no Brasil para uma série de palestras, afirmou que "uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público. Cidades assim não são uma ilusão. Elas já existem", indicando o exemplo da capital colombiana.

 

A comerciante Paula Maria da Silva, moradora da Parangaba, nunca ouviu falar em Peñalosa, e acha que não estará viva para ver essa realidade em Fortaleza. "O bairro em que moro cresce sim, mas o caos no trânsito é coisa para deixar qualquer doente". Por enquanto, afirma, o metrô não conseguiu minimizar o sufoco e retirar uma boa quantidade de veículos das ruas.

 

As questões inerentes à falta de mobilidade urbana são pontos em comum nos 19 bairros da Secretaria Executiva Regional IV (SER IV): José Bonifácio, Benfica, Fátima, Jardim América, Damas, Parreão, Bom Futuro, Vila União, Montese, Couto Fernandes, Pan Americano, Demócrito Rocha, Itaoca, Parangaba, Serrinha, Aeroporto, Itaperi, Dendê e Vila Pery.

 

Crescer de forma sustentável em harmonia com o meio ambiente, saúde, educação e direito de ir e vir com qualidade serão os grandes desafios desses bairros para os próximos anos. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), a SER IV possui o segundo melhor índice médio de infraestrutura domiciliar da cidade. A mais rica e melhor estruturada é a SER II.



Assim, se os problemas no trânsito são comuns aos 19 bairros da Regional IV, as desigualdades econômicas são grandes. O Bairro de Fátima, por exemplo, está entre as dez melhores rendas de Fortaleza, seus moradores ganham, em média, R$ 1,7 mil. O Aeroporto está entre as 15 piores, média de R$ 398. A Parangaba e o Montese também têm rendas até três vezes menores do que o Bairro de Fátima.


Agravantes
Se a habitação e o saneamento básico são bem avaliados pela população da Regional, a saúde, educação, lazer e segurança merecem severas críticas. "O Frotinha da Parangaba vive tendo problemas como a falta de médicos e remédios", aponta a contabilista Aparecida de Souza.

 

Entre os bairros da Regional IV, nenhum enfrenta um problema ambiental tão grave quanto a Parangaba com a chamada Feira dos Pássaros.

 

Para os representantes do conselho de moradores do local, a venda de animais não é a única dor de cabeça dessa feira. Outros agravantes, apontam, são as péssimas condições sanitárias e os transtornos que ela causa ao tráfego de veículos. Sem pontos suficientes para estacionar, os motoristas param em qualquer local, invadindo o espaço público, gerando caos no trânsito. "A AMC e a Polícia Militar fazem o que podem, mas ainda é insuficiente", analisa o aposentado João Neto. 

 

A gestão passada cogitou mudar a feira de local, mas ficou somente na promessa. A população pede ação da Prefeitura no sentido de resolver o problema. "Cada dia fica pior, prejudicando o comércio formal e aumentando a poluição", diz ele.

 

Na avaliação da arquiteta e urbanista Mariana Pereira, atualmente, o entorno da Lagoa da Parangaba já não mais retrata as animadas tardes e noites de outrora, e sim o estado de abandono dos mananciais urbanos. Segundo ela, o espaço abriga resquícios das diversas etapas de sua urbanização, que vão desde ocupações irregulares, comércio ilegal, principalmente de animais e veículos, e prédios históricos em deterioração. "Isso, infelizmente, mostra o descaso com a natureza, sociedade e história local", frisa a arquiteta.

 

Trânsito
A questão da mobilidade ou o comprometimento dela é apontada pelos moradores dos bairros da SER IV como sendo o "calcanhar de Aquiles" da região. Especialistas divergem. Uns defendem construções de viadutos, túneis, alargamento e extensão de avenidas; uns apontam o rodízio de veículos; e outros, como a doutora em Planejamento Urbano, Cleide Bernal, a única e possível alternativa real está sucateada: o transporte público. "Fortaleza ainda tem a estrutura de trânsito dos anos 90. Assim fica impossível e isso vem sendo avisado faz tempo", comenta.

 

O engenheiro de transportes Paulo Henrique Dias lembra estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), intitulado "Cidades: Mobilidade, Habitação e Escala - Um chamado à ação". De acordo com o documento, a imobilidade afeta "o desenvolvimento do País ao restringir o fluxo de pessoas, bens e ideias, resultando em menos produtividade, inovação e qualidade de vida".

 

É preciso reestruturar o que existe, já que não se pode expandir, como no caso de bairros como Fátima, Montese, Parangaba, Benfica e Parreão, defende Paulo Henrique. Para ele, a ideia defendida pela CNI, ou seja, investir em soluções para que a população possa morar, trabalhar, estudar e se divertir em áreas bem próximas seja a alternativa mais viável. "É imperativo começar, senão corremos o risco de só piorar e, talvez, até parar por não conseguirmos simplesmente nos locomovermos pelo caos no trânsito", alerta.

 

Bom Futuro enfrenta muitos problemas

A esperança dos moradores do Bom Futuro está no nome. No presente, afirmam eles, os desafios são muitos. O bairro é considerado o melhor para se morar em Fortaleza, segundo aponta levantamento do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), mas é carente em vários fatores.

 

A Regional IV foi o destaque da pesquisa. Além do melhor bairro da cidade, o Bom Futuro, Fátima, Damas, Jardim América, Parreão e José Bonifácio conquistaram índices relevantes e estão entre os 15 melhores da Capital cearense em relação ao esgotamento sanitário, coleta de lixo, energia elétrica e abastecimento de água. Apesar disso, dos 6.405 habitantes do Bom Futuro, de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,28% ou 210 pessoas vivem na extrema pobreza e exigem medidas da nova gestão municipal.

 

O bairro é pequeno. São apenas 11 vias que cortam a localidade e, segundo o professor Erivan de Sousa, morador da Rua Dulcineia Gondim, o transporte público é precário. "Para pegar qualquer ônibus ou van, temos que ir para a Avenida João Pessoa ou à Gomes de Matos", informa.

 

Além disso, o bairro carece de posto de saúde, escola municipal e mais segurança. "Sei que a insegurança é problema de Fortaleza toda, mas, aqui, é bem complicado e dizer que o Bom Futuro é o melhor para se morar é passar por cima de muitos e muitos problemas", afirma. 

 

 


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