Meta de 30 minutos da casa para o trabalho

Até 2040, Prefeitura de SP espera que nenhum morador leve mais do que meia hora até onde trabalha

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Fonte: Diário de S. Paulo  |  Autor: Felipe Sansone  |  Postado em: 26 de novembro de 2012

O engenheiro Marco Tinoco se mudou de casa para fi

O engenheiro Marco Tinoco se mudou para ficar mais perto

créditos: Bruno Poletti/Diário SP

 

A 47 dias do fim da gestão, a Prefeitura lançou o SP2040, um plano com metas para a capital atingir até 2040. De todos os objetivos, o mais polêmico, caro e discutido foi o Cidade em 30 Minutos, que trata da mobilidade urbana. Ele propõe uma rede pública de transportes desenvolvida para que os paulistanos não necessitem de mais de 30 minutos para deslocar-se de casa para o trabalho. O DIÁRIO ouviu especialistas, percorreu bairros que poderiam ser utilizados como exemplo e conversou com quem já consegue gastar até 30 minutos para ir ou voltar do emprego para verificar a viabilidade do plano.

 

O custo do Cidade em 30 minutos é de R$ 178,9 bilhões, quase 57% dos R$ 314,5 bilhões do SP2040. A Prefeitura entraria com R$ 29 bilhões e os governos estadual e federal, com R$ 149,8 bilhões. O documento também recomenda a captação de recursos com parcerias público-privadas e pedágio urbano.

 

O primeiro bairro visitado foi a Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte. O local, a 15 quilômetros do Centro, concentra um polo comercial que atende a moradores e oferece empregos a pessoas da região. Há desde pequenas bombonieres até grandes e tradicionais lojas de departamento ao lado do Terminal Vila Nova Cachoeirinha.

 

Na Zona Sul, a região da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini é uma das que mais recebem escritórios comerciais na cidade. Até 2014 são esperados mais 94.480 mil m² deles. A região fica a 14 quilômetros do Centro e, além de concentrar empresas do setor de serviços, reúne praticamente todo tipo de estabelecimento necessário para o dia a dia. Além disso, a Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) margeia a avenida.

 

A visita terminou em Ermelino Matarazzo, Zona Leste, a 22 quilômetros da área central. Lá fica a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. A vinda da faculdade para a região atraiu repúblicas de estudantes, dinamizou o comércio e tornou o bairro do Tatuapé, próximo ao campus, ainda mais importante como polo de serviços e comércio na Zona Leste.

 

Entrevista: Tomás Wissenbach: coordenador do SP2040

DIÁRIO_ Não seria melhor lançar o SP2040, que custou R$ 2,7 milhões, na metade da gestão, em vez de apenas 47 dias antes do fim dela?

TOMÁS WISSENBACH_ Por um lado houve o investimento de tempo e de recursos na discussão com a sociedade e isso leva tempo. Isso pode parecer em um primeiro momento um tempo maior do que desejado, mas ele gera um ganho enorme, que é traduzir  a visão da cidade sobre o que ela deve ser no futuro e quais os principais desafios. É um instrumento muito forte para trilhar um caminho de longo prazo. Agora há uma referência de longo prazo que pode permitir sempre que cada governante possa alinhar as suas prioridades ao cenário desejado de longo prazo.

 

O custo previsto do Cidade em 30 minutos é de R$ 179,8 bilhões, sendo que a Prefeitura entraria com R$ 29 bilhões e os governos estadual e federal com o restante.

Procuramos identificar dentro das atribuições de governança de cada esfera. Os grandes beneficiários de uma produtividade maior também vão ser a União e o governo do estado, que vão ter arrecadação adicional. Conseguimos demonstrar que o plano tem viabilidade financeira, mas tem grande dependência das receitas oriundas de projetos em parcerias com a  iniciativa privada.

 

As expansões do Metrô, dos corredores de ônibus e do monotrilho são possíveis de serem  realizadas no tempo previsto?

Procuramos apenas registrar o compromisso que há e as proposições dos projetos num ritmo que é ousado, mas que outras cidades demonstraram ser possível.

 

Especialistas questionam como aplicar o projeto

Enquanto a administração da capital defende a viabilidade do plano, especialistas questionam as previsões feitas no estudo.

Além de achar pouco provável que as metas da rede de Metrô e monotrilho sejam atingidas, o arquiteto e consultor em mobilidade urbana Flamínio Fichmann diz que o pedágio urbano poderia ser implantado antes de 2025 e não há a necessidade de aplicar esse tipo de recurso em todas as vias do centro expandido.

“A data para implantação do pedágio urbano poderia ser adiantada, já que São Paulo mostra a cada dia que necessita disso”, afirma Fichmann. “Conceitualmente é correto é implantar (o pedágio) não em polígono, mas em vias críticas, como Nove de Julho, Rebouças, Brasil e Paulista. Em contraponto, não é necessário aplicar no Jardim Europa, que tem vias residenciais.”

O coordenador da área de mobilidade urbana do Instituto de Energia e Meio Ambiente, Renato Boareto, ressalta que é preciso dar bastante atenção ao “custo financeiro necessário para colocar o projeto de pé”.

 

Remédio para a mobilidade

Não é fácil fazer todo mundo trabalhar a 30 minutos de casa. Para tanto, projeto fez diagnóstico e propôs soluções:

O Mal

Os serviços sobre trilhos, apesar da aceleração dos investimentos, seguem na proporção de 7 km/milhão de habitantes. Em cidades como Hong Kong, Shangai, México e Moscou, o índice atinge quase 25, enquanto em Paris é da ordem de 100

Em média, as classes C e D gastam 21% mais tempo em deslocamento no transporte coletivo do que a classe A

Há muita concentração das oportunidades de emprego, consumo, educação, saúde, cultura e lazer e da infraestrutura de transportes no centro expandido de São Paulo, onde a relação de emprego por habitante é 1,85. No restante do município, fica em 0,34.


A Cura

ADMINISTRAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO DE PASSAGEIROS


1 Política de habitação que crie empregos onde há moradores e leve moradores para onde há emprego

2 Bairros residenciais terão de criar vocação comercial e vice-versa 

3 Bairros residenciais terão de criar vocação comercial e vice-versa 

4 Pedágio urbano no centro expandido, onde está a maior concentração de viagens em São Paulo, para forçar que 70% dos deslocamentos sejam feitos por transporte coletivo em 2040.


MELHORIAS NO SISTEMA DE TRANSPORTE

1 Promover a integração de todos os meios de transporte em operação na cidade

2 Expandir o Metrô até que haja 25 km de linha por milhão de habitantes. Para tanto, a rede metroviária deve crescer dos atuais 74 km para 264 km em 2040 
Continuar o programa de modernização e expansão da CPTM, que deve ter 325 km até 2025

3 Os monotrilhos deverão atingir a marca de 24 km em 2016 e 130 km em 2025, o que significa uma expansão de cerca de 10 km ao ano

4 Os corredores de ônibus, que hoje somam 154 km na região metropolitana, concentrados no município de São Paulo, chegarão a 325 km em 2016 e 617 km em 2025, considerando tanto os corredores municipais quanto os intermunicipais

5 Aprimorar a logística urbana, com o término do Rodoanel e do Ferroanel, para retirar a carga de passagem das áreas urbanizadas ou ambientalmente sensíveis

 

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