Na semana passada, o Rio de Janeiro foi palco de uma ampla discussão sobre o uso da bicicleta como meio de transporte no Brasil. O biciRio 2012, ou II Fórum Internacional da Mobilidade por Bicicleta, realizou-se entre 23 e 25 de setembro, e contou com a participação de especialistas internacionais em mobilidade urbana.
Entre eles, a opinião geral é que o país necessita um projeto de urbanização que torne seguro o tráfego das magrelas, com um forte investimento dos governantes em ciclovias, ciclofaixas, bicicletários e educação no trânsito.
Alguns foram bem críticos em relação à experiência brasileira. A urbanista dinamarquesa Helle Soholt, sócia-fundadora e CEO da Gehl Achhtects, por exemplo defende a proposta de um planejamento de cidades centrado na valorização do ser humano. Por esse conceito, que ganha impulso em todo o mundo, a bicicleta é identificada como meio de transporte por excelência para uma vida mais saudável, contribuindo para reduzir os gases de efeito estufa e melhorar a mobilidade urbana.
"Os governantes precisam ter coragem para enfrentar o problema do trânsito de forma efetiva, utilizando uma nova concepção de urbanização. Quanto mais bicicletas nas ruas, menor o número de carros e acidentes de trânsito", critica Helle Soholt.
A urbanista citou o exemplo da cidade de Copenhague, onde a maioria da população já adotou a bicicleta no dia a dia. Lá, o número de bicicletas já ultrapassa o de carros, diz Soholt, enquanto exibia fotos de pessoas pedalando mesmo debaixo de neve.
"As pessoas não têm medo nem receio de pedalar na neve porque a manutenção das ciclovias tem prioridade em relação aos carros. Elas são limpas e o excesso de gelo é retirado constantemente", afirmou a urbanista.
Outra percepção teve sobre o sistema cicloviário carioca o canadense Alain Grinard, diretor do escritório regional Rio de Janeiro da ONU Habitat (eque desenvolve a campanha global Evolua com Mobilidade). Grinard foi direto: "Estou morando no Rio e tenho medo de andar de bicicleta em Copacabana, por exemplo. Não há estrutura para o ciclista pedalar com segurança. Precisamos mudar essa realidade com apoio civil e muito trabalho do governo", criticou.
Bikes compartilhadas
Já o mexicano Bernardo Baranda Sepúlveda, diretor latino-americano do Instituto de Transporte e Desenvolvimento, se disse favorável ao sistema de bicicleta compartilhada desenvolvido pelas prefeituras do Rio e São Paulo, com apoio do banco Itaú. Ele conta que também na Cidade do México há um sistema semelhante de empréstimo de bicicletas, igualmente bem sucedido.
Para ele, este é um caminho que pode ajudar a reduzir o número de automóveis em circulação nas cidades: "Numa vaga para um só carro cabem dez bicicletas. Então, é muito mais justo. A iniciativa de diminuir o número de carros nas ruas deve ser feita pelos governos, que são quem tem poder para tomar tal decisão", observou.
Helle Soholt, Alain Grinard e Bernardo Baranda Sepúlveda participaram biciRio 2012, promovido pela Secretaria do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, dentro da Semana Nacional de Trânsito.