Os recentes acidentes com vítimas fatais ao longo da via exclusiva BRT Transoeste, mais precisamente na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, estão gerando questionamentos quanto a possíveis erros de projeto no novo sistema de transporte público do Rio de Janeiro.
O arquiteto Sidney Menezes, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ), defende que uma sinalização de trânsito mais agressiva ao longo da via poderia prevenir melhor a população destes riscos. O serviço BRT Transoeste entrou em funcionamento em junho, transportando passageiros da Barra à Santa Cruz com tempo de viagem reduzido.
“É necessário um projeto complementar mais agressivo de sinalização vertical e horizontal no BRT Transoeste. Houve uma preocupação tímida com essa questão no projeto. Ele apenas atinge a determinação mínima. Teria que ir além do exigido pela legislação, pois se trata de uma via com vários cruzamentos”, disse Menezes, que complementa sua opinião:
“Ainda dá tempo para fazer um estudo elaborado e investir mais verba na sinalização. A via toda deveria passar por uma revisão para se identificar os pontos mais vulneráveis, onde vêm ocorrendo mais acidentes. Sobretudo nesses locais, é preciso aumentar a dose de sinalização, intensificando o uso de placas e de marcação nos cruzamentos”, completou.
Passarela é solução?
Sobre a questão de se construir ou não passarelas ao longo da Avenida das Américas, que diminuiriam os riscos de acidentes, a Secretaria Municipal de Obras esclarece em nota que “não é permitida a construção de passarelas na Avenida das Américas, por determinação do Plano Diretor Lúcio Costa".
O órgão comunicou ainda que outro ponto considerado no projeto é que as passarelas geralmente são construídas em vias expressas, como Aterro do Flamengo e Avenida Brasil - o que não é o caso da Américas. "A concepção do projeto está correta: temos semáforos para travessia de pedestres, que foram colocados de acordo com a demanda de cada local”, comunicou o órgão.
O Plano Diretor Lúcio Costa foi elaborado nos 1970 para nortear a ocupação urbana na Barra da Tijuca até os dias de hoje. Porém, segundo Sidney Menezes, o tal plano diretor até hoje não entrou em vigência. O arquiteto também estranha e rebate o argumento utilizado pela Secretaria de Obras.
“Eu concordo que não é o caso de se construir passarelas ao longo da via. Na verdade, não sei dizer se passarelas resolveriam o problema. Mas aposto, sim, numa melhor sinalização, moderna e atual. E o Plano Lúcio Costa foi um estudo realizado que nunca foi implantado e até agora não é vigente e nem serve como referência. Além do mais, já está defasado e descaracterizado. Portanto, o argumento de se construir ou não passarelas não pode ser fundamentado nele”, observou.
A Secretaria Municipal de Transporte, por meio da assessoria de imprensa, alega que os acidentes estão sendo causados exclusivamente em decorrência da má educação no trânsito. E que a Avenida das Américas, além de ser a segunda via com maior incidência de acidentes na cidade (só perde para a Avenida Brasil), sempre teve histórico de acidentes de trânsito, mesmo antes da inauguração do BRT Transoeste.
O órgão comunica também que as campanhas de educação de trânsito direcionadas aos motoristas, pedestres e ciclistas começaram ainda antes da inauguração do corredor expresso e seguem sendo realizadas de forma intensiva em escolas, estações dos BRTs, e através de folhetos e anúncios de busdoor, por exemplo.
E que, apesar de já existir há meses um semáforo há 200 metros do local, acaba de ser colocado um novo semáforo em frente a uma escola estadual de ensino médio, na Avenida das Américas, na altura da estação BRT Bosque da Barra. Recentemente ocorreram três acidentes com três vítimas fatais no local.