Foi como um não-veículo que a motocicleta se incorporou ao trânsito, inventando um espaço que jamais existiu em qualquer projeto de engenharia e na lei de trânsito.
Em nome da lógica da agilidade, a tomada do "corredor" pelos motociclistas subtraiu deles mesmos e dos demais condutores e pedestres a segurança de circulação.
A invisibilidade da motocicleta no "corredor" é fatal ao motociclista, mas não só para ele. Em 2011, as motocicletas causaram o atropelamento e morte de 138 pedestres na cidade (22,4% dos pedestres mortos no trânsito).
Investigação conduzida pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) já revelava em 2009 que mais de 2/3 dos atropelamentos envolvendo motocicletas ocorriam em meio de quadra, ou seja, durante a travessia dos pedestres, enquanto buscavam brechas entre os veículos parados.
A formação do "corredor" exige pista dupla e, no mínimo, duas faixas por sentido. Quando isso não ocorre --como na rua Augusta, o motociclista cria uma posição para o "corredor": circula sobre a sinalização horizontal dupla amarela ou com a moto na faixa de sentido contrário.
E quando nem a contramão é possível? Ocupa-se a calçada simplesmente.
Longe dos olhos da zona de máxima proteção ao pedestre, descobrimos que não bastam as faixas de travessia e o gesto decidido de sinalizar o uso da faixa.
É preciso lutar pelo respeito à calçada, o espaço primário da segurança do usuário mais frágil do trânsito.
EDUARDO BIAVATI é sociólogo e especialista em educação no trânsito
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