Ao menos na rua Venezuela, na região dos Jardins, área nobre da zona oeste paulistana, onde é comum vê-los fugindo do trânsito por sobre os passeios. Colocam em risco a vida dos pedestres, que relatam desrespeito, acidentes e risco de atropelamento.
A Folha esteve no trecho perto da avenida Brasil, que tem faixas estreitas e dificulta às motos grandes passarem entre carros. Ao longo de duas horas e meia no pico noturno (uma hora e meia na segunda e uma hora na terça-feira), viu 18 motos nas calçadas. Não havia fiscalização.
Enquanto a reportagem ouvia um morador, uma moto buzinou, pedindo passagem na calçada. Atravessou a rua e sumiu pela outra calçada, em alta velocidade.
"Outro dia, vim caminhar à noite e o camarada quase me atropela. Como posso imaginar que vem uma moto pela calçada?", reclama o tecnólogo Edson Massicano, 61.
Todos que passam com frequência por ali já presenciaram a infração, classificada como "gravíssima" pelo Código de Trânsito Brasileiro e sujeita a 7 pontos na carteira e multa de até R$ 573,63.
O caseiro Marcos Gonçalves, 41, abria o portão da garagem para a dona da casa entrar quando passou um motociclista. "Ainda me xingou!", diz ele, que deu uma vassourada em outro que "tirou fina" dele em outro dia.
Luiz da Costa, 49, também quase foi atropelado: "Quase me pegou. E ainda me perguntou se eu achei ruim".
As histórias se sucedem. Há o relato do "bacana" que pilotava uma moto na calçada, com o filho em outra moto. Acabaram se chocando.
Outro presenciou um motociclista levando um tombo ao passar por buraco da calçada. E um engenheiro quase bateu em uma moto quando tirava o carro da garagem.
A Folha viu o motociclista Wilson, 47, vindo cautelosamente pela calçada. Ele jura que era a primeira vez que subia no passeio ("é que estou com pressa"), embora já tenha visto isso.
"Fazem para adiantar, mas não justifica."
MÁ EDUCAÇÃO
Reinaldo de Carvalho Bueno, presidente da Federação dos Motoclubes de São Paulo, atribui as infrações à má educação dos motociclistas e à crença de impunidade. "Eles não sabem a pena por andar na calçada." Para ele, o comportamento "de poucos" se reflete na visão que todos têm dos motociclistas.
Para o consultor em engenharia de tráfego Horácio Figueira, a prática é normal em várias partes da cidade. "Vai além de todos os limites."
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) diz que a rua é fiscalizada periodicamente, especialmente nos picos, mas vai intensificar a ação no local.
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