O 'Smart Parking - Estacionamento Inteligente', implantado recentemente na cidade de São Francisco, na Califórnia, é uma solução inovadora, que bem poderia ser replicada em cidades brasileiras. Relativamente pequena, com uma população de menos de um milhão de habitantes, a cidade americana ganhou em janeiro deste ano o prestigioso Prêmio de Transporte Sustentável, em parte graças ao novo sistema.
No Brasil, o Smart Parking poderia vir associado à construção de garagens próximas a estações de trem e metrô, bem como de terminais de ônibus. "Seria um incentivo à continuidade das viagens por transporte coletivo", observa o planejador urbano Thiago Guimarães.
O Smart Parking funciona assim: sensores magnéticos sem fio, instalados sob 8.200 vagas de estacionamento nas ruas de São Francisco, em garagens públicas e novos parquímetros, mandam dados em tempo real para um nó da rede mais próximo; deste ponto, a informação é encaminhada para um “comando central”. Operando assim, essa central pode informar quantas e quais vagas estão abertas na cidade, a cada momento.
O preço da vaga por hora sobe ou cai conforme o número de vagas ocupadas, num sistema chamado “Demand-Responsive Pricing” (um preço que responde à demanda). Por esse sistema, o preço varia - dependendo do quarteirão, horário e dia da semana - de 25 centavos a 6 dólares por hora. A atualização do preço também é feita constantemente nos novos parquímetros que integram o sistema.
A política de precificação, um diferencial da proposta de São Francisco em relação a outros sistemas de estacionamento inteligentes, desestimula o uso do carro quando a demanda está muito alta. Assim, pelo mesmo princípio do pedágio urbano, a solução acaba contribuindo também para a mobilidade urbana sustentável.
Em São Francisco, o motorista pode saber da disponibilidade de vagas através do site SFPark.org, em tempo real. Ou, mais fácil ainda, no App para Smartphone, e ainda ligando para o número de informação do sistema.
A praticidade continua na hora de pagar, pois os novos parquímetros aceitam moedas, cartões de crédito ou de débito, e cartões de pagamento do sistema. Pelo sistema “pay-by-phone”, o cliente pode pagar por celular - ou seja, não é necessário voltar ao carro. E também nem precisa controlar a hora, pois o sistema manda torpedos avisando quando o tempo pago no parquímetro está perto de acabar.
Com os parquímetros, no ano passado as receitas da cidade subiram e as multas caíram - um bom resultado tanto para o governo quanto para clientes. Mas o Smart Parking, além de gerenciar melhor o estacionamento, diminui os transtornos causados pela falta de locais seguros para deixar os veículos. Do lado da mobilidade sustentável, o importante é a possibilidade de se investir as receitas dos parquímetros no transporte coletivo e em projetos urbanos como parques públicos, por exemplo.
Jay Primus, que gerencia o projeto, ressalta que ao longo do processo a agência de SF Park tem se empenhado em ser aberta e transparente, num grande esforço de marketing para atrair e ensinar o público a usar o sistema. Centenas de reuniões tem sido feitas com o público, grupos da comunidade e donos de empresas envolvidas, para ouvir e responder às suas preocupações, conta Primus.
E no Brasil?
Aqui, vem a questão que não quer calar: Por que grandes cidades brasileiras, como São Paulo, com gravíssimos problemas de congestionamento e de estacionamento, não se movem para utilizar tecnologias deste tipo, que comprovadamente melhoram as condições de transporte?
Segundo Thiago Guimarães, sistemas inteligentes são relativamente comuns em cidades europeias, e tendem a facilitar duplamente a vida dos motoristas: “Eles tornam a oferta de vagas mais transparente e reduzem a margem das empresas que operam à base do oportunismo.”
Para montar um sistema parecido em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, ele avalia que o primeiro passo seria a elaboração de uma diretriz política razoável de estacionamento. Para o planejador, as cidades poderiam começar a pensar na instalação de um sistema como o de São Francisco, e ao mesmo tempo se esforçarem por construir e melhorar as garagens próximas de estações de metrô e trem e nos centros das cidades.