Um pensamento preconceituoso, envolvendo mobilidade urbana, tornou-se comum em São Paulo, nos últimos anos. Costuma-se dizer que as estações do metrô estão superlotadas e caóticas devido… ao crescimento da rede. Ao chegar a regiões da periferia antes não servidas, ela teria incorporado as multidões que a sufocaram. Pobre metrópole gigante: nela, até mesmo algo racional, como o transporte público, seria inviável…
Esta concepção é rigorosamente incorreta, revela hoje uma série especial de três matérias produzidas pelo jornalista Guilherme Soares Dias e publicadas pelo jornal Valor (1 2 3). O problema do metrô é, na verdade, o oposto. O sistema está superlotado não porque tenha crescido muito, mas porque avançou devagar demais. O congestionamento atual pode ser perfeitamente superado com a inauguração de novas linhas e estações. Esta providência desafogará as atuais, redistribuindo o tráfego.
O metrô paulistano, revelam as reportagens, estacionou após a década de 1970 (quando foram inauguradas as duas primeiras linhas). Nos últimos 18 anos, sob governo estadual do PSDB, foram estendidos apenas 27 km de trilhos, 1,5 km por ano. A malha total limita-se a 74,3 km — contra 285 km em Seul, ou 200 km na Cidade do México, onde os sistemas têm aproximadamente a mesma idade. Nem se fale dos 420 km. de Shangai (cuja primeira linha foi inaugurada apenas em 1994…)
É a rede reduzida que concentra o fluxo de passageiros em poucas linhas e estações. As reportagens dão dois exemplos. Inaugurada há pouco mais de dois anos, a linha 4 já está sobrecarregada. Um dos motivos é o atraso na extensão da linha 5, que um dia ligará a região de Santo Amaro, na periferia Sul, à avenida Paulista. Deveria estar pronta há vários anos. Inacabada, obriga quem faz o trajeto a usar (e congestionar) duas outras linhas ferroviárias: a 9 (de trens urbanos) e a 4, do metrô. Outro exemplo: a linha 4 foi aberta, em 2010, com apenas parte das estações operando. A estação Paulista tornou-se insuportável, em certos horários do dia, por concentrar, além de seus usuários naturais, os que normalmente se dirigiriam a Oscar Freire e Higienópolis, ambas inacabadas.
Os sinais de que a sobrelotação se reduz, quando a malha se expande, já começaram a aparecer. A inauguração da linha 4, por exemplo, diminuiu em 18% o número de usuários da estação Sé, e aliviou seu caos: ela deixou de ser passagem obrigatória entre as linhas 1 e 2.
Produzida nos limites da mídia tradicional, a reportagem do Valor não pôde ser crítica, como era necessário, em relação aos últimos governos de São Paulo. Ela aceita sem questionar as afirmações do Palácio dos Bandeirantes, que fala em construir 100 quilômetros de linhas, até 2018 (como se sua reeleição fosse garantida, aliás). Mantido o ritmo de expansão do metrô observado nas gestões de seu partido, o governador Geraldo Alckmin precisaria de 66 anos para alcançar tal meta…
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