O PAC Mobilidade Médias Cidades, anunciado ontem (19) pelo governo federal, a um só tempo preocupa e entusiasma o professor Maurício Andrade, do departamento de engenharia da UFPE - Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru.
Para o especialista, embora seja inegável a importância do recurso aos municípios de porte médio, alarmante é o prazo para elaboração dos projetos. Pelo edital, as prefeituras têm até 31 de agosto, ou, pouco mais de um mês, para preparar e lançar seus projetos de mobilidade.
"Os municípios terão muito pouco tempo para apresentar projetos, e o risco é que talvez o façam na base do improviso, sem estudos de embasamento e bom detalhamento”, declarou Andrade. Além disso, alerta o especialista, as tecnologias de transporte a serem adotadas (BRT, VLT ou outros) devem estar associadas às necessidades locais, "e não a grupos com interesse em impor suas soluções".
O professor da UFPE defende que a partir destes planos seria possível traçar diagnósticos que dariam as diretrizes mais eficientes para cada cidade. “É muito relevante que o governo federal manifeste sua preocupação com a mobilidade também das cidades de porte médio. Nelas, os problemas ainda são sanáveis e podem ser resolvidos com menores custos", esclareceu. "Nessas cidades pode-se trabalhar preventivamente para que não se atinja o caos que já se instalou nas metrópoles brasileiras", completou.
E observou ainda: "É fundamental, antes de se pensar em projetos, que sejam feitos planos de mobilidade preconizados no Estatuto da Cidade e na nova Lei Nacional de Mobilidade Urbana, em vigor desde abril passado".
Caruaru: projeto de VLT
O programa de mobilidade recém-anunciado injetará até R$ 7 bilhões em investimentos para financiamento de projetos de mobilidade urbana nos municípios com população entre 250 mil e 750 mil habitantes. E a previsão é que os municípios beneficiados sejam anunciados em dezembro. Caruaru, que está entre as 5 cidades pernambucanas com perfil para concorrer ao PAC, apostará num projeto de transporte sobre trilhos - um VLT (veículo leve sobre trilhos).
O secretário de Planejamento da prefeitura de Caruaru, Ricardo Góes, diz que pretende enviar nos próximos dias a carta consulta ao Ministério das Cidades, informando sobre o projeto de implantação de uma linha de VLT para a cidade. Com valor aproximado de R$ 300 milhões, o novo sistema aproveitaria um trecho da antiga Rede Ferroviária Federal, que está desativado.
A proposta é de construção de uma linha com 20 km de extensão, partindo da Cohabe 3 ao Alto do Moura, um dos principais pontos turísticos da cidade. “Este projeto seria o primeiro sistema sobre trilhos do interior de Pernambuco. Mas ainda estamos em fase embrionária. Já existe um estudo de mobilidade urbana desenvolvido pela URB de Caruaru, mas outros levantamentos ainda serão feitos”, afirma Góes. Além do VLT, a proposta também contemplará a obra de um novo terminal integrado para o Corredor Leste Oeste, já em implantação, ao custo estimado de R$ 4,5 milhões.
Jaboatão dos Guararapes, Petrolina, Olinda e Paulista são os outros municípios pernambucanos que poderão concorrer ao PAC da Mobilidade para médias cidades. Destes, apenas Jaboatão sinalizou com a possibilidade de concorrer a investimentos em mobilidade sobre trilhos. Ontem o secretário de Serviços Urbanos, Evandro Avelar, citou seis projetos que estão nos planos da prefeitura, sendo um deles a construção de duas novas estações para o VLT que corta a cidade.
O vice-presidente da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro), Diogo Morais, tem a expectativa de que, diferentemente do Recife, as prefeituras que podem concorrer a recursos do PAC invistam com projetos ferroviários. “É importante que esses recursos sejam utilizados para a expansão da malha ferroviária pernambucana, pois diferentemente do governo estadual, que priorizou o transporte através de ônibus, o governo federal parece estar disposto a mudar a realidade do transporte coletivo através de um eficiente transporte sobre trilhos. Infelizmente enquanto médias cidades vêem o VLT como uma solução, a capital pernambucana adotará um sistema de BRT ineficiente nos projetos de mobilidade urbana”, criticou.