Horário de pico, vagões lotados de passageiros, e o trem para de repente. A cena já virou rotina para quem utiliza diariamente a rede de transportes do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), cuja média de falhas "notáveis" - que afetam os usuários de alguma forma - é de ao menos uma por semana. Entre o início do ano e o último dia 16 deste mês, foram registradas 21 ocorrências no Metrô - sendo uma delas a colisão entre duas conduções da linha 3-Vermelha, que deixou dezenas de feridos -, e 16 problemas na CPTM.
De acordo com a Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM), o Metrô transporta diariamente cerca de 4,5 milhões de pessoas e apresenta, em média, uma falha a cada 21,5 mil viagens, o que representa um problema a cada cinco dias - são realizadas cerca de 4,5 mil viagens diárias. Já a CPTM atende a 2,7 milhões de passageiros por dia e registra uma ocorrência a cada 18 mil viagens, uma por semana, em média.
Cada empresa tem uma metodologia para classificar essas falhas notáveis, mas os problemas podem ser desde uma falha elétrica, uma interrupção na circulação de trens por mais alguns minutos ou até fatores externos, como o alagamento dos trilhos por conta de uma enchente ou um "apagão", por exemplo.
Pesquisadores ouvidos pelo portal "Terra" dizem que o índice está dentro da média mundial e atende aos parâmetros internacionais, mas apontam uma razão para essa sensação de piora relatada por muitos usuários: o aumento estrondoso no número de passageiros - a rede atraiu 2,3 milhões de novos adeptos desde 2008.
"Obviamente, a percepção é maior hoje que há 10 anos, porque tem muito mais gente usufruindo do sistema, portanto, as falhas causam impacto sobre um número maior de pessoas, que hoje documentam os fatos com mais rapidez (por conta dos smarphones)", avalia o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos, Ailton Brasiliense.
Na CPTM, o cenário costuma chamar ainda mais a atenção, pois é comum que os passageiros desçam dos vagões e comecem a caminhar sobre os trilhos, o que costuma agravar o problema, já que toda a rede é paralisada quando há pessoas do lado de fora dos vagões. Entretanto, segundo dados da STM, o número de ocorrências registradas entre janeiro e a segunda quinzena de maio deste ano foi 45% menor que o mesmo período de 2011, quando ocorreram 29 problemas (no ano anterior, foram 28 falhas no período). Comparando os balanços anuais, a mudança também não foi grande: foram 42 falhas registradas no sistema de trens em 2011, e 49 no ano anterior.
Já no Metrô, entre janeiro e a segunda quinzena de maio de 2011 e 2012, o número de problemas foi praticamente o mesmo, respectivamente, 20 e 21. Entretanto, se comparado ao mesmo período de 2010, houve um aumento notável: naquele ano, foram apenas oito falhas registradas no período, e 30 ao longo de 12 meses.
Para os especialistas, a melhora na tecnologia adotada pelo governo, que promete investir R$ 45 bilhões em obras de expansão e melhoria na rede, deve causar efeitos (em longo prazo) sobre a diminuição no número das falhas, mas a rede jamais ficará livre de problemas. E a tendência, avaliam, é que as panes sejam cada vez mais notados pela população, já que a previsão oficial é que o número de passageiros atendidos diariamente na rede de transporte sobre trilhos (trens e metrô) salte de 7,2 milhões para 9,1 milhões até 2014.
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