'Mãozinha' será foco da campanha do pedestre em SP, diz secretário

A campanha completa um ano esta sexta-feira (11)

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: CRISTINA MORENO DE CASTRO  |  Postado em: 11 de maio de 2012

O gesto da mãozinha é um sinal para pedir passagem

O gesto da mãozinha é um sinal para pedir passagem

créditos: Divulgação

O gesto da mãozinha --sinal feito com a mão para pedir passagem-- será o foco da campanha de proteção aos pedestres agora, diz o secretário municipal de Transportes de São Paulo, Marcelo Cardinale Branco. A campanha completa um ano esta sexta-feira.

 

Branco disse à Folha que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) perguntou aos motoristas o que os faria respeitar mais a faixa, e cerca de 80% responderam que gostariam que os pedestres demonstrassem que querem atravessar. "As pessoas se sentem constrangidas de fazer o gesto, porque ainda acham que o carro tem prioridade ali. A campanha vai ser centrada nisso".

 

Leia a íntegra da entrevista:

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Folha - Como o sr. avalia este primeiro ano de campanha de proteção ao pedestre, com redução de 8% no número de mortes por atropelamento no município [dados de maio a janeiro de 2011]?

Marcelo Cardinale Branco - Acho que o avanço foi muito grande. Estamos falando de etapas que foram cumpridas neste primeiro ano. Começamos no centro da cidade, onde houve redução significativa de atropelamentos com mortes, em torno de 40%, depois entramos com outras áreas, depois entramos com fiscalização. Somando essas etapas todas teve um sucesso muito grande nessa campanha.

Mas como dizíamos até antes de começar a campanha, ela é uma mudança de comportamento. Só vamos conseguir ter sucesso absoluto nessa ação se houver mudança de comportamento de todas as pessoas da cidade de São Paulo. E essa mudança de comportamento é difícil. É difícil para as pessoas que já se conscientizaram do problema e querem mudar de comportamento e mais difícil ainda para as que não se conscientizaram. Quando lida com mudança de comportamento realmente é um caminho longo. Não achávamos que ia ser mais fácil.

Acho que a fiscalização é fundamental. Os países que conseguiram ter sucesso na redução de acidentes de trânsito focaram muito na fiscalização. E é uma conquista gradual. Não podemos deixar de analisar eventuais fragilidades do programa.

 

Quais fragilidades foram encontradas e o que poderá ser ajustado agora?

Houve algumas fragilidades. Em determinado momento concentramos as informações nos motoristas de ônibus, porque achamos que estavam chegando pouco a eles. Em outro momento chamamos o sindicato dos motociclistas autônomos para que eles também assumissem essa postura. Tivemos uma redução muito grande de atropelamentos por motocicleta. Esse acompanhamento é fundamental, vendo exatamente onde existem essas fragilidades.

Falamos no começo da ideia de conversão do verde compartilhado. Estamos avaliando ainda essa questão. Essa medida amplia o tempo de travessia do pedestre. Antes eu dizia que gostaria de colocar o verde compartilhado em um ano. Estamos concluindo um ano e acho que não é o momento ainda, talvez a gente faça um teste.

Tem que ir avaliando com responsabilidade junto com a sociedade. Não temos que ter sucesso porque fez um ano, fez dois, ou porque é ano eleitoral. Isso tem que estar fora dessa questão do pedestre.

 

A fiscalização continua tão intensa quanto era no começo, em setembro?

Continua intensa e a demonstração disso são os números de multas que nós temos. Ele continua no mesmo patamar. Gostaríamos que fosse caindo porque identifica o respeito - tendo a mesma intensidade de fiscalização, se cair o número de multas é porque houve um respeito maior.

Houve pequena queda, mas está se mantendo.

Existe ampliação de fiscalização do ponto de vista de agentes: no começo dedicamos alguns agentes a essa atividade, depois fomos ampliando, e hoje todos os agentes têm essa preocupação.

Mas tem que acompanhar isso de uma forma muito atenta e equilibrada. Qualquer exagero é muito condenável. Mas precisa ter a cobrança de uma postura que todos queremos, que é o respeito à faixa.

 

Vai ter novidades no segundo ano de campanha?

A ideia é que a gente vá ampliando essa campanha nas partes periféricas. Identificamos as vias que têm grandes concentrações de acidentes. A CET está chamando mais 500 monitores de tráfego.

Temos uma nova etapa da campanha de mídia. Gostaríamos muito de centrar as informações no gesto do pedestre. Isso é importante. Na última pesquisa que fizemos identificou-se que 80% dos motoristas gostariam que o pedestre fizesse o gesto. Quando perguntados se respeitam, e o que acham que poderia ajudar para respeitarem mais, os motoristas dizem que gostariam que o pedestre demonstrasse que quer atravessar.

Em Brasília foi assim que começou. Acho que tem um componente subjetivo que é o domínio das vias pelo carro. As pessoas se sentem constrangidas de fazer o gesto, porque acham que o carro tem prioridade ali.

 

Fizemos o teste em ruas da cidade e identificamos que ninguém usa a mãozinha, ainda há muito desrespeito e não vimos nenhum amarelinho (monitor de tráfego) nas regiões visitadas - Santo Amaro (zona sul), Pinheiros, Jardins (oeste) e região central.

Teria que ter os amarelinhos, temos quase mil [são 850]. Mas efetivamente afastamos um pouquinho do centro.

Sobre a mãozinha, tem que conscientizar que aquilo é para o benefício do pedestre. Meu entendimento é ainda essa questão de o pedestre não estar seguro com sua prioridade na faixa. Quando uma pessoa sente que está sendo ferida no seu direito, ela reclama seu direito. A mãozinha é um pouco isso de reclamar seu direito. Mesmo o pedestre não acha ainda que tem essa prioridade. A campanha vai ser centrada nisso.

 

A CET de Santos apresentou uma estratégia de colocar agentes à paisana para incentivar o uso do gesto.

Tudo isso vai somando para uma estratégia. Vamos olhar se está dando resultado e adaptar para cá. Se o carro identificar que o pedestre tem o direito de atravessar, ele respeita mais. Se o pedestre também identificar que tem o direito - e tem deveres, de atravessar na faixa - também se sente mais seguro de fazer o gesto e atravessar. É uma busca constante.

 

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