Apenas estádios ficam prontos até 2014, diz especialista

Mas falta tempo para outras obras, avalia o diretor do Sinaenco, José Roberto Bernasconi.

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 |  Autor: Rafael Massimino / Portal 2014  |  Postado em: 01 de julho de 2011

José Roberto Bernasconi

José Roberto Bernasconi

créditos: Divulgação

Na corrida para entregar a tempo as obras de infraestrutura para a Copa de 2014, o Brasil pode acabar deixando o trabalho pela metade.


Para o engenheiro José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco-SP (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia) e coordenador para assuntos da Copa do sindicato, teremos estádios para abrigar a competição. Mas, quando se trata de aeroportos e mobilidade urbana, o atraso para o começo das obras pode levar o país a ter que adotar soluções paliativas, como decretar feriados e reservar terminais para os convidados da Fifa.


“Acho que, no limite, se as cidades não se prepararem, teremos que tomar medidas que chamo de heterodoxas”, afirmou o engenheiro, que participou nesta quinta-feira (30) do “Road Show 2014 – Vitrine ou Vidraça”, evento promovido pelo Portal 2014 e o Sinaenco, em Porto Alegre, para discutir a infraestrutura da cidade para o Mundial. A seguir, uma entrevista com o engenheiro.


Sua avaliação é que o Brasil perdeu muito tempo, desde que foi anunciado como sede da Copa de 2014. Ainda há muito a ser feito?

 

Penso que sim. A primeira exigência é ter estádios adequados, e acho que o Brasil vai conseguir fazê-los. Mas não sei se serão as 12 cidades. Em breve, a Fifa deve anunciar se haverá cortes ou não. Com relação a estádios, vamos resolver. Particularmente, o Rio Grande do Sul está bem, porque vai ter dois estádios prontos até a Copa.


E os aeroportos, ficarão prontos a tempo?

 

Os aeroportos são uma tragédia hoje, e para nós, não para a Copa do Mundo. É bom lembrar que a Copa é jogada entre junho e julho e, no Hemisfério Sul, esta é uma época de intempéries, os aeroportos fecham por problemas meteorológicos. Imagine uma seleção tendo que se deslocar de Curitiba para Porto Alegre, e o aeroporto fechado? Temos que resolver isso e acho que perdemos muito tempo. Porém, temos que saudar a presidente Dilma porque ela decidiu, antes tarde do que nunca, chamar a iniciativa privada para trabalhar junto. Concessões e parcerias público-privadas têm que ser usadas, pois vão ajudar a ampliar a capacidade do nosso parque aeroportuário. Mas temo que para a Copa do Mundo já não dê tempo.


Também as cidades enfrentam problemas para tocar as obras de mobilidade urbana.
Creio que é um problema somente para algumas cidades. Porto Alegre e São Paulo têm programas bons sendo feitos na área de transportes públicos. Agora, outras cidades estão um pouco mais atrasadas. Acho que, no limite, se as cidades não se prepararem, teremos que tomar medidas que chamo de “heterodoxas”, que seria decretar férias escolares no período da Copa e, eventualmente, decretar feriados em dias de jogos.


Para acelerar as obras da Copa, o governo tenta aprovar o Regime Diferenciado de Contratações por meio de medida provisória. Qual o efeito dessa mudança?


Essa medida provisória busca comprar tempo, mas um tempo inexistente. Já perdemos 44 meses e não vai dar para acelerar esse processo exageradamente. E tem mais: se estabeleceu uma polêmica que, do meu ponto de vista, não é fundamental, a respeito do sigilo dos orçamentos. Se tiver que haver conluio, não será o sigilo que definirá isso.
O problema é a falta de projeto de engenharia que instrua a contratação das obras. É ele que define o que é a obra, indicando a qualidade e a quantidade dos materiais e serviços, que são o que determina os orçamentos. Do projeto também decorre o processo construtivo e, portanto, o prazo para construir.


O texto da MP lista quais obras podem ser incluídas no RDC?

 

Essa MP prevê que pode ser colocado no rol da Copa obras situadas a até 350 km das cidades-sede. Um aeroporto a 200 km de São Paulo pode ser incluído. O problema é exatamente esse: essa MP está mudando a Lei de Licitações. As obras mais importantes do Brasil estarão abrangidas nesse raio.


Com os atrasos, corremos o risco de não entregar a infraestrutura que prometemos à Fifa e à população?

 

A grande promessa que fizemos à Fifa foram os estádios de futebol. Acho que vamos entregá-los. Quanto aos aeroportos, se o Brasil der uma solução de algum tipo, eventualmente fazendo bloqueio de aeroportos para convidados especiais, num certo momento a Fifa tem que se conformar. Agora, a África do Sul foi duramente criticada durante a Copa das Confederações, mas fez os aeroportos de Johanesburgo e Cidade do Cabo, que são melhores que quaisquer terminais do Brasil. Acho que o Brasil vai entregar os estádios, e os aeroportos do jeito que der.

 

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