O metrô seria a solução ideal para o transporte de massa em Salvador, mas acabou tornando-se motivo de problemas, e de piadas. Ao longo de 12 anos em construção, a Linha 1, com 6,5 km de extensão no primeiro tramo (Lapa-Acesso Norte), é chamada de tudo pela população: ferrorama, calça-curta e montanha-russa. Tudo menos metrô.
Sob responsabilidade da prefeitura, o sistema metroviário, cujo projeto inicial perfazia 13 km (Lapa-Pirajá), consumiu até agora R$ 720 milhões apenas para a metade do percurso e mais 27% das obras do segundo tramo (Acesso Norte-Pirajá), segundo o secretário municipal de Transportes, José Mattos. O orçamento inicial era de R$ 307 milhões e a entrega de toda a linha estava prevista para 2003.
Mattos afirma que até o final desse semestre, o novo transporte será disponibilizado para a população, nove anos após vencer o primeiro prazo da entrega da obra.“Estamos em fase de comissionamento (testes dinâmicos e estáticos) e pelo planejamento, o metrô será colocado em operação assistida até junho”, garante.
O secretário ressalta que o governo federal assegurou recursos da ordem de R$ 33 milhões para subsidiar as operações ao longo de um ano. “A população deve, inicialmente, adaptar-se a usar o sistema. Só depois, começaremos a cobrar a tarifa”, diz. O custo do bilhete, garante, será o mesmo cobrado no transporte coletivo, além de ser integrado aos ônibus. “No período de duas horas, o cidadão poderá fazer a integração com apenas um bilhete”, comenta.
A longa viagem da construção do metrô, de acordo com Mattos, enfrentou uma série de pedras no caminho (veja Linha do Tempo). Contingenciamento de recursos, mudança dos financiadores e da constelação de instituições envolvidas no projeto, assim como questões políticas estão entre os principais fatores. “O acordo era para que a empresa executora entregasse a chave do trem e a prefeitura colocasse a população dentro, mas uma série de questões relacionadas ao projeto começaram a atrasar o cronograma”, recorda.
Entre os eventos que ralentaram o andamento das obras, afirma Mattos, está a intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU) em 2007, quando o órgão determinou a divisão da linha em dois tramos, cada um com 6,5 quilômetros de extensão. “A suspeita de superfaturamento motivou a decisão do órgão federal, mas não se confirmou. Em paralelo, a alimentação irregular de recursos e uma série de paralisações nas obras retardaram todo o processo”, expõe.
Além disso, entraves politiqueiros também emperraram a finalização da obra, na opinião do secretário. “A questão política começa a existir quando há uma irregularidade no fluxo de recursos. Se houvesse vontade política, a obra não se arrastaria por tanto tempo”, avalia Mattos.
As obras do segundo tramo, de acordo com ele, devem ser reiniciadas nesse semestre. “A projeção para a conclusão é em 2013. Esse sistema será integrado ao metrô da Paralela, cuja obra está a cargo do governo estadual”, reforça. O orçamento das obras do segundo tramo, diz o titular da Setin, foi elaborado pelo Exército, a pedido do TCU. “Ainda não podemos divulgar os valores porque o Tribunal ainda não recebeu o orçamento. A empresa executora também precisa avaliar a compatibilidade e a viabilidade da execução de acordo com os valores apresentados pelo Exército”, menciona.
Na avaliação da especialista em transportes Denise Ribeiro, a falta de gestão é o principal motivo dos sucessivos atrasos no cronograma. “Existiram estudos preliminares e o projeto foi bem concebido. Os problemas da implantação estão relacionados a essa falta de pulso do administrador, até porque a viabilidade econômica já havia sido verificada. A essa altura, dizer que houve problemas com recursos não dá”, opina.
“O gestor tem que conhecer todo o projeto e trabalhar para que questões políticas não atrasem o andamento da obra. A questão é que muitas prioridades políticas não coincidem com as prioridades do projeto”, argumenta a especialista. O metrô de Salvador terá seis trens, cada um com quatro vagões e capacidade para transportar 1,2 mil passageiros por viagem. O percurso do primeiro tramo será feito numa média de dez minutos, com velocidade máxima de 60 km/h.
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Linha do tempo
Abril de 2000: é iniciada a construção da Linha 1 (Lapa-Pirajá), com previsão de entrega em 2003, sob responsabilidade do Consórcio Metrosal. O investimento inicial é de de R$ 307 milhões.
2002: obras da estação Acesso Norte prosseguem, mas uma série de paralisações na construção dos elevados na BR-324 ameaça a entrega do sistema.
16 de julho de 2003: duas frentes de escavação do túnel do trecho Lapa-Pólvora, com 1,5 quilômetro de extensão, se encontram.
Abril de 2004: no local da futura estação Brotas são executados serviços de demolição das residências desapropriadas, destocamento e limpeza do terreno.
2005: com dois anos de atraso, novo prazo para entrega do sistema é estabelecido para o final de 2006. O prazo é vencido mais uma vez.
Em 2007: obras do metrô são paralisadas completamente, sob suspeitas de irregularidades, incluindo superfaturamento.
Obras são retomadas em 2008, com o início da montagem dos trilhos. Em novembro, os três primeiros trens são entregues, totalizando 12 carros.
2009: os três últimos trens são entregues, completando uma frota de seis trens com 24 carros. O equipamento comprado pelo governo do estado teve investimento de US$ 50 milhões.
2010: uma década após o início das obras, os primeiros vagões são posicionados nos trilhos e novos prazos para a etapa de testes são estabelecidos. O metrô já tinha virado piada.
Dezembro de 2011: enfim, os testes são iniciados. O metrô inicia a fase de avaliação dos sistemas de segurança (freio e tração). A previsão é que a população comece a usar o sistema metroviário até junho 2012.
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Sobre a Linha 1 (Trecho Lapa-Pirajá)
Extensão Total: 13 km
Extensão em Subterrâneo: 1,4 km
Extensão em Elevado: 4,8 km
Número de Estações: oito, sendo 2 subterrâneas e 2 em elevado
Média passageiros/dia: 200 mil
Trens Elétricos (TUE's): doze, com 4 carros cada
Custo Inicial Previsto: R$ 307 milhões
Fonte: Metrô de Salvador
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