Nas demais cidades, o programa Travessia Segura, lançado em dezembro pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, ainda é ignorado. Mesmo assim, a entidade orientou as sete prefeituras para que comecem a multar os infratores na quarta-feira.
Na região central de São Caetano, grande parte dos condutores já para para aguardar a travessia dos pedestres em faixas não semaforizadas. "Aqui o pessoal respeita quem está a pé. Moro em São Bernardo e vejo a diferença", avalia a estudante Ana Carolina Amaral da Costa, 19 anos.
O secretário de Mobilidade Urbana de São Caetano, Iliomar Darronqui, avalia que o sucesso da campanha na cidade se dá pelo fato de as atividades terem sido iniciadas sete meses antes dos demais municípios. "Desde então, não paramos com a divulgação e sempre colocamos pessoas na rua para fazer a conscientização", explica. Diariamente, equipe de atores faz performance em cruzamentos para orientar motoristas e pedestres.
Em Santo André, o desrespeito à faixa é cometido por quem deveria dar exemplo. A equipe do Diário flagrou carro do Departamento de Trânsito passando normalmente pela faixa enquanto uma mulher, acompanhada de uma criança, tentava atravessar. Em São Bernardo, foi flagrado ônibus intermunicipal parado em cima da faixa enquanto aguardava o embarque e desembarque de passageiros. A irregularidade foi vista na Avenida Senador Vergueiro, no Centro. Mesmo em frente a hospitais e escolas, é difícil quem dê passagem às pessoas.
Em São Bernardo, a enfermeira Erica Nascimento, 32, avalia que desrespeito à sinalização estimula a travessia em locais proibidos. "Que diferença faz atravessar na faixa? Ninguém para", reforça. Para a estudante de São Caetano Thuany Rama, 19, o desrespeito é resultado da má formação de condutores. "Respeitar o pedestre é lei, e isso deveria ser claramente explorado durante as aulas na autoescola", sugere.
O comerciante de Santo André Franco Gonzalez, 49, entende que ainda é cedo para que as multas comecem a ser aplicadas. "Não se vê campanha pelas ruas. Deveriam aumentar a divulgação antes. Apesar disso, acho que o povo só aprende com multa", pondera.
No dia 5, o presidente do Consórcio e prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), solicitou aos demais chefes do Executivo que intensificassem a campanha. As prefeituras dizem já ter fortalecido as ações por meio de panfletos, outdoors e faixas espalhadas pelas ruas.
Para especialista, multas irão forçar mudança de hábito
Criador do projeto pioneiro de Travessia Segura, o urbanista Nazareno Affonso avalia que só haverá respeito ao pedestre quando as prefeituras começarem a multar motoristas infratores. Affonso era secretário de Transportes de Brasília em 1996, ano em que a campanha foi colocada em prática.
"O povo só desrespeita porque ainda não sentiu no bolso", avalia. O especialista acredita que, apesar da pouca divulgação, o Grande ABC está pronto para iniciar as autuações. "Todo mundo sabe que tem de respeitar o pedestre. É lei, não tem essa de gostar ou não. Faça enquete, pergunte aos seus amigos se sabem que é preciso parar na faixa. Garanto que mais da metade dirá que sabe", acrescenta. Segundo ele, o desrespeito se dá pela ausência de fiscalização.
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