Pedalada Pelada: ciclistas preparam manifestação com passeio "sem roupa"

"Nus é como nos sentimos pedalando nesta cidade!". Esta é uma das mensagens principais do site que anuncia a 5ª Pedalada Pelada de São Paulo

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Fonte: Revista Superinteressante  |  Autor: Lydia Cintra  |  Postado em: 09 de março de 2012

Pedalada Pelada em São Paulo

Pedalada Pelada em São Paulo

créditos: World Naked Bike Ride Brasil

Muitas vezes sem condições seguras de tráfego sobre duas rodas em grandes cidades, ciclistas correm riscos todos os dias para colocar em prática uma proposta de vida com mais qualidade e mobilidade, fora dos carros que congestionam avenidas e longe do medo de um contato mais próximo com a cidade e as pessoas.

 

O evento faz parte das edições brasileiras do World Naked Bike Ride, movimento que começou no Canadá em 2004. Além de São Paulo (que organizou a primeira pedalada em 2008), cidades como Brasília e Aracaju também já participaram.

 

A ideia é bem-humorada, mas chama a atenção para um assunto sério. A manifestação reunirá vários ciclistas na noite do dia 10 de março, sábado, em São Paulo, para promover um passeio-protesto por mais respeito no trânsito. Alguns podem se perguntar: e precisa fazer isso sem roupa?

 

Segundo a organização do evento, o humor é a melhor arma para chamar a atenção, divulgar ideias e fazer as pessoas pensarem sobre um assunto. “Encarar o trânsito de veículos motorizados com os nossos corpos nus é uma boa maneira de defender a nossa dignidade e de expor os perigos que os ciclistas e pedestres sofrem diariamente”.

 

O propósito é “celebrar a pedalada e o corpo humano. A pedalada demonstra a vulnerabilidade dos ciclistas nas ruas e protesta contra a dependência do petróleo (…) Divertir-se e alcançar a opinião pública não é excludente. As pessoas nos veem nas ruas e suas cabeças começam a trabalhar: ‘o que é isso?’, ‘por que eles estão fazendo isso?’. (…) Fazer as pessoas sorrirem é um grande meio de conectar-se a elas e compartilhar ideias. Percebemos que sempre haverá uma minoria que não está disposta a compartilhar as ruas com os ciclistas ou em aceitar o estado natural do ser humano. Felizmente para nós, este número de pessoas é cada vez menor”.

 

Ou seja, quanto mais chamar a atenção, melhor. “As pedaladas não acontecem atrás de portas fechadas, nós as fazemos em alto e bom som e somos orgulhosos do que fazemos. Afinal de contas, quem vai se importar se as fizermos em áreas para nudistas, aonde ninguém irá nos ver? Nós estamos colocando em questão normas sociais, desativando leis antiquadas que nos dizem o que é certo e o que é errado”.

 

Mas… tem que ir pelado MESMO?
Um detalhe importante é a regra do “venha tão nu quanto você ousar”. Ou seja, a nudez não é obrigatória. “Tudo depende de você: você decide o que lhe é confortável”.

 

Se você tem vergonha do seu corpo, pode ser uma boa hora de repensar conceitos. “Todos nós estaremos lá celebrando a força e a individualidade do corpo. Pessoas de todas as idades, tamanhos, formas e aparências pedalam na World Naked Bike Ride. Na pedalada, você vai ser tratado com dignidade e respeito, não importa o seu corpo. Um dos maravilhosos impactos deste passeio é mostrar ao mundo quão variados os corpos verdadeiros podem ser, ao contrário das imagens manipuladas que inundam os meios de comunicação e causam tanta insegurança”, dizem os organizadores.

 

Criatividade também é palavra de ordem. A nudez deve ser tratada de forma natural e criativa, com cores, alegorias, pinturas, personalização das bicicletas e mensagens (seja no corpo ou em cartazes e faixas) como “não à cultura do carro”, “direitos reais para bikes”, “celebrar liberdade do corpo”. E o que mais causar impacto…

 

E tudo bem andar pelado na rua?
É polêmico. Em outros anos, já houve confusão com policiais. Segundo o evento, “as leis sobre nudez são frequentemente muito vagas e difíceis de aplicar. As leis sobre nudismo geralmente abordam algo chamado de ‘ato obsceno’. O fato é que estar nu não é necessariamente algo ‘obsceno’. Não existe nada indecente com relação a um corpo nu. (…) Existem muitas leis obscenas que os cidadãos do mundo devem aguentar e muitas delas atacam as nossas liberdades individuais”.

 

Por isso a criatividade é tão importante. Com pintura corporal, fitas adesivas, faixas e outros ornamentos, é possível resolver a questão. “Você provavelmente não precisará cobrir muito do seu corpo para estar dentro da lei”.

 

O evento defende também que a dependência do petróleo e a cultura do automóvel sãoameaças muito mais sérias ao planeta do que a nudez “não-sexualizada, colorida e criativa”, proposta na pedalada. “É tudo sobre valores corpo-positivo: viver uma vida saudável, em sintonia com o nosso ambiente, respeitando a beleza natural e a diversidade do corpo humano, e estabelecendo e projetando uma auto-imagem positiva rejeitando a vergonha”.

 

No caso de abordagem policial, a orientação é não revidar e manter a calma e o bom humor. “É mais difícil ficar bravo com uma pessoa alegre e colorida em uma bicicleta. Raiva e agressão trazem de volta apenas raiva e agressão”.

 

As crianças e adolescentes podem participar, desde que com a supervisão dos pais ou responsáveis. Sobre o impacto disso na cabeça de uma criança, a organização defende que relacionar a nudez com algo negativo é um mito. Quanto mais elas forem desencorajadas pela família a se relacionarem com o assunto, mais terão curiosidade. “A única coisa hipócrita que os pais têm que se preocupar é que seus filhos podem querer ficar nus se virem as pessoas se divertindo”.

 

Tem que ir de bike?
Não. Só não pode usar um transporte que dependa da queima de combustível. “Qualquer tipo de patins ou skates é bem-vindo. Você não será capaz de acompanhar o ritmo se estiver a pé, mas qualquer forma alternativa de transporte movido a força humana é bem vinda e encorajada”.

 

Prepare-se!
5ª Pedalada Pelada – São Paulo 2012
10 de março de 2012, sábado
Concentração às 18h para pintura dos corpos e preparação das alegorias
Saída às 20h
Local de encontro: Praça do Ciclista – Av. Paulista x Rua da Consolação
(O percurso do passeio será definido na hora)

 

***

 

Manifestações como essa vem a calhar em dias como hoje, 2 de março, em que três ciclistas morreram atropelados no Brasil: uma na Avenida Paulista, em São Paulo, um em Brasília e um em Belém. Como afirmam os organizadores da Pedalada Pelada, “todos correm risco de vida por viver em uma sociedade que promove a cultura do automóvel em vez das caminhadas, do transporte público ou das bicicletas”.

 

Você concorda? Acha que esse tipo de manifestação pode ajudar a melhorar a questão da mobilidade em grandes cidades?

 

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