Um ano após o atropelamento coletivo de 17 ciclistas em Porto Alegre, o movimento de cicloativistas que se tornou conhecido ao ser vítima do crime enfrenta um atrito com autoridades locais.
A prefeitura e o Ministério Público tentam disciplinar as passeatas da Massa Crítica, que protesta na última sexta-feira de cada mês com uma "bicicletada" sem trajeto definido, bloqueando ruas.
O evento ocorre em diversas cidades pelo mundo e é organizado pela internet.
O município insiste em convencer os ciclistas a definir um roteiro prévio e a receber escolta, o que, diz, evitaria desavenças com motoristas e proporcionaria mais segurança ao percurso.
Há um ano, o funcionário do Banco Central Ricardo Neis avançou com seu Golf sobre uma passeata do movimento, ferindo 17 pessoas. Neis afirmou que, na ocasião, foi ameaçado pelos manifestantes.
O diretor-presidente do órgão de trânsito de Porto Alegre, Vanderlei Cappellari, diz que o número elevado de participantes acaba causando "transtornos" a outros cidadãos. O evento costuma reunir cerca de 500 ciclistas.
"Sexta-feira é um dia de bastante movimento. Acaba irritando condutores mais exaltados. Havia possibilidade de novos incidentes", diz.
Nas últimas edições da manifestação, uma escolta com agentes de trânsito em bicicletas acompanhou o percurso e ajudou a bloquear avenidas, mas ainda não há consenso sobre as medidas.
Os cicloativistas afirmam que não têm como organizar o trajeto detalhadamente porque o movimento não possui lideranças definidas e discute o caminho ideal enquanto pedala.
O advogado Marcelo Sgarbossa, integrante da Massa Crítica, afirma que o comboio de ciclistas interrompe a circulação por não mais do que três minutos por trecho. "Não é um transtorno tão grande assim", diz.
Nos Estados Unidos, também já houve tentativas de disciplinar a Massa Crítica. Em Nova York, houve até prisões de participantes.
A PÉ
Os advogados de Ricardo Neis vão usar a controvérsia entre município e ciclistas na defesa de seu cliente. Ele foi denunciado pelo Ministério Público sob acusação de tentativa de homicídio contra 17 pessoas.
A Justiça, no entanto, ainda não definiu se o réu irá a júri ou não.
Segundo sua defesa, Neis não voltou a dirigir desde o atropelamento porque ficou "traumatizado" com a situação. Ele chegou a ficar um mês preso.
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