Dois incidentes envolvendo bicicletas elétricas foram destaque na imprensa do Rio de Janeiro nesta semana. Primeiro, um incêndio em um apartamento no Leblon, provocado por uma bicicleta que estava em processo de recarga durante a noite. Depois, uma bicicletaria, no Flamengo, que ficou inteiramente destruída, provavelmente em razão de problemas no carregamento de uma bateria de bicicleta.

Os dois casos lembram uma série de acidentes, cada vez mais comuns, nos EUA e na Europa, envolvendo baterias de bikes elétricas. No Brasil, onde a frota de bikes elétricas ainda é pequena, esses casos ainda são incomuns. Mas, conforme o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, entre 1º de janeiro e 10 de março a corporação atendeu a 36 incidentes envolvendo bicicletas elétricas, incluindo fogo, queda e colisão de veículos.

Especialistas citados pelo jornal O Dia, do Rio de Janeiro, apontam alguns cuidados para evitar riscos de incêndios e explosões nesses equipamentos de mobilidade. A reportagem ouviu professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), responsável pela certificação e normas técnicas de produtos industriais informou que "o tema não se enquadra no escopo do instituto".

Sobreaquecimento
Gustavo da Silva Viana, professor-adjunto do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRJ e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), avalia que os casos com baterias de bicicletas elétricas são parecidos com os que envolvem celulares. Ela aponta problemas como sobreaquecimento, sobrecarga, dano físico, curto-circuito e defeitos de fabricação como as principais causas de explosões e incêndios. "Se a bateria esquenta demais, por carregamento excessivo, curto-circuito ou exposição ao calor, a temperatura interna pode ultrapassar um limite crítico de 150?°C. Isso inicia reações químicas incontroláveis dentro das células da bateria", explica Viana.

Para evitar esse tipo de acidente, explica o professor, é muito importante sempre usar o carregador original. Além disso, a recarga deve ser feita de preferência em locais ventilados, distante de matérias inflamáveis e nunca à noite, sem supervisão, como foi o caso do incêndio no Leblon. E adverte sobre cuidados com produtos sem certificação e baterias que sofreram danos por impactos. Viana também recomenda manutenção e inspeção regulares e que se evite deixar a bicicleta sob sol intenso ou em locais com temperaturas altas.

"Resumindo, fazer a recarga de um dia para outro não é adequado, pois pode causar 'inchaço' da bateria e superaquecimento. Outro ponto são os carregadores de má qualidade, que não têm circuitos adequados para a demanda da bateria", completa.

Eficientes, mas instáveis
O professor Leonardo de Arruda Bitencourt, do Departamento de Engenharia Elétrica da UERJ, afirma  que as baterias de íon de lítio são a melhor tecnologia no momento, mas lembra que elas são instáveis.

"As baterias tradicionais usadas em carros a combustão são de chumbo, e a gente não vê esse tipo de coisas ocorrendo por aí, certo? É uma bateria mais estável, mas em compensação, ela não é capaz de armazenar tanta energia como essas de íon de lítio, que usamos em eletroeletrônicos" esclarece o pesquisador.

As recomendações e precauções de Leonardo seguem na mesma linha do professor Gustavo Vianna, mas ele acrescenta alguns outros cuidados. Ao guardar a bicicleta, deve-se evitar o acúmulo de panos e outros materiais sobre a bicicleta, dentro de pequenos espaços fechados. Recomenda, ainda, que os usuários não improvisem adaptações, por exemplo, para aumentar a potência da bike. "Isso pode exigir uma corrente elétrica maior da bateria, que por sua vez irá esquentar mais do que o projetado e acabar explodindo". Os especialistas recomendam atenção constante para o momento da recarga. Se a bateria esquentar muito ou ficar "estufada", o ideal é interromper imediatamente o carregamento.

CUIDADOS 

Baterias de bicicletas:

+ Evitar a exposição ao sol ou a locais quentes;
+ Suspenda o uso se notar alteração de cor, forma, aquecimento anormal ou fumaça;
+ Não carregar além do tempo máximo de carga, dormindo, ou fora de casa;
+ Usar somente carregadores e baterias originais de fábrica. Nunca de origem paralela;
+ Não carregar em locais que possam bloquear a sua saída.

Sobre celulares:
Sempre que for carregar coloque o dispositivo longe de superfícies inflamáveis, como tecido e madeira. Prefira locais como concreto, pedra ou superfícies metálicas, onde o risco de propagação do fogo é menor.

Em caso de emergência:
+ Ligar para 193;
+ Desligar a rede elétrica da casa;
+ Isolar a bateria em local arejado e longe de outros equipamentos;
+ Importante: o incêndio na bateria gera fluoreto de hidrogênio, que é tóxico e irritante para os olhos, mucosas e pulmões. 

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