O projeto piloto Pedalando Juntas foi implantado no final do ano passado, pelo Laboratório Rio Pinheiros*, na comunidade da Peinha, ao lado da ponte João Dias e do rio Pinheiros, na zona sul de São Paulo. A ação acontece aos finais de semana, com a oferta gratuita de bicicletas para o lazer da população.
A proposta de oferecer sem custo as bikes comunitárias tem como objetivo, explicam seus idealizadores, atender a quem realmente precisa desses equipamentos como estímulo ao lazer. Geridas de forma coletiva, as estações de empréstimo são voltadas diretamente para benefício da própria comunidade. Assim, diferem da maioria dos serviços de compartilhamento, em geral administrados por empresas que cobram pelo uso das bikes e que não chegam às favelas e comunidades periféricas.
A inspiração veio do projeto 'Bota pra Rodar', da Associação de Ciclistas do Recife (Ameciclo). Na capital pernambucana, o projeto semelhante é mantido em três comunidades, com as bicicletas sendo usadas para facilitar o acesso dos moradores ao trabalho nos dias úteis da semana. Já a proposta do projeto na capital paulista difere um pouco: o foco do Pedalando Juntas, segundo consta no release do Instituto Caminhabilidade, é o lazer, o esporte e, especialmente, a ampliação do acesso da comunidade a um parque linear na margem do rio Pinheiros.
Acesso à natureza e ao lazer
Localizado em uma das áreas mais urbanizadas de São Paulo, o Parque Linear Bruno Covas, quando estiver totalmente concluído, será o maior parque linear da cidade, acompanhando toda a margem oeste do rio. Inaugurado em 2022, o primeiro trecho de 8,2 km oferece diversas atrações, como ciclovias, playgrounds, áreas para piqueniques e trilhas.
No entanto, o Laboratório Rio Pinheiros, liderado pelas organizações Instituto Caminhabilidade e Metrópole Um pra Um, constatou que muitos moradores das áreas vizinhas ao rio desconhecem que a região é aberta ao público e que é possível aproveitar o espaço. Isso, apesar de cruzarem frequentemente as pontes que o atravessam.
A dificuldade do acesso das comunidades, apesar da proximidade, levou as organizações a realizarem estudos e ativações nas margens do rio, com a perspectiva de garantir que o novo parque seja democrátrico e acessível.
Ao pesquisar como se dá o acesso das comunidades lindeiras, em especial das mulheres e crianças, ao parque e às áreas do entorno, o laboratório identificou que as comunidades - Peinha, Real Parque e Jardim Panorama - estão muito próximas, tanto do parque como das pontes de acesso ao outro lado do rio.
Mas o estudo percebeu também que o trajeto até o local não conta com faixas de pedestres nem ciclovia, o que coloca em risco a vida de quem transita por ali diariamente, como funcionários do parque por exemplo. Diante desse cenário, os pesquisadores desenvolveram um projeto para analisar a caminhabilidade entre a comunidade e o acesso ao parque, e propuseram soluções para melhorar o percurso, como criação de faixas, qualificação das praças ao longo do caminho e implementação de sinalização adequada.
Como essas ações dependem de ação nem sempre rápida da prefeitura, enquanto isso a própria comunidade decidiu pôr em ação o projeto Pedalando Juntas. As bikes foram doadas pelo Instituto Aromeiazero, personalizadas pelo artista Puga e sua manutenção feita pelo mecânico Joílson. Também foi desenvolvido um aplicativo para gerenciar o sistema de empréstimo das bicicletas e equipamentos, inspirado na plataforma da Ameciclo.
Segundo os idealizadores do projeto, os planos incluem a expansão da iniciativa a outras comunidades do entorno do Parque Bruno Covas, além de implementar melhorias na Peinha.
Clique aqui para ler o relatório do projeto Pedalando Juntas.
*Criado em 2021 por iniciativa do Instituto Caminhabilidade e Metrópole Um pra Um, o Laboratório Rio Pinheiros estuda as relações sociais, ambientais e urbanas nas margens e na área do parque e propõe melhorias e maior democratização da cidade.
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