Dados do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro publicados pelo jornal "O Globo" revelam que três em quatro ocorrências de trânsito (77%) atendidas pela corporação no ano passado na cidade do Rio envolviam motocicletas. Ou seja, 20.877 de um total de 27.16, o equivalente a um acidente com moto a cada 25 minutos.
Seguindo a mesma proporção, três a cada quatro vítimas (76%) socorridas por bombeiros se envolveram em acidentes com moto: foram 8.028 de um total de 10.531 no ano passado. Dados da rede municipal de saúde do Rio também alertam para a escalada de atendimentos em ocorrências com moto: foram mais de 19 mil em 2024, um acréscimo de 32% em relação a 2023.
E embora 77% dos acidentes envolvam motos, elas representam apenas 16% do total da frota que circula pela cidade, dado que revela a vulnerabilidade desse tipo de veículo, especialmente quando conduzido de forma imprudente, sem respeito às normas de trânsito.
Imprudência
O motoboy Adenir Rocha de Melo trabalha com entregas há 13 anos e já sofreu pelo menos oito acidentes, o mais grave em outubro passado. Ele lamenta que, diferentemente de quando começou, hoje, enquanto explode o número de mototáxis e motoboys nas ruas, as empresas passaram a exigir pouco ao contratar profissionais:
"Tenho moto com placa vermelha e curso de motofrete, o que deixaram de pedir. Atualmente, só com a habilitação e a moto você se cadastra nos aplicativos. Passou a ter muito motoqueiro novo, sem experiência nas ruas. Alguns pilotam até falando no celular. E tem a pressa também. A gente ganha mal e precisa correr para pegar mais serviço. Por isso, acontece tanto acidente".
Não é raro se deparar com motociclistas na contramão, avançando o sinal vermelho, sem capacete, cortando pela direita e mesmo circulando em calçadas e passarelas de pedestres. Tudo o que a legislação de trânsito proíbe e é estendido às motonetas (scooters) e aos ciclomotores (veículos de duas ou três rodas, que atingem até 50km/h), incluindo a exigência de capacete e de placa."
O acidente com moto é o mais letal entre as ocorrências de trânsito e, mesmo quando a vítima sobrevive, pode provocar danos irreversíveis, como a amputação, informa a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS). O Hospital Municipal Miguel Couto, no bairro do Leblon, viu o número de pacientes feridos em acidentes com moto crescer quase 50% em 2024. Em 2023, foram realizados, em média, 165 atendimentos desse tipo por mês. No ano passado, a média mensal foi de 250 atendimentos.

"Os acidentes com moto são também um problema de saúde pública. Mais de 1.500 pacientes dão entrada nos nossos hospitais com ferimentos por acidente de moto por mês, sem contar os que não resistem até o momento do socorro e vão a óbito. Precisamos nos adaptar à nova realidade do trânsito. É fundamental uma mobilização entre os diferentes agentes do poder público em torno de novas medidas para proteger a vida e a integridade dos pedestres, passageiros e motociclistas, ressalta o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz."
Em paralelo, o crescimento do número de motos saltou no município do Rio e no estado. Em 2024, o Detran contabilizou 550.400 motos na capital, um aumento de 69,7% em uma década, enquanto a frota total subiu 21,1%. No estado, há mais de 1,65 milhão de motocicletas, 64% a mais do que em 2014 (o aumento dos veículos foi de 31%).
Bicicletas e patinetes
Os conflitos em ruas e calçadas vão muito além de motos e empacam na precariedade da legislação. Tanto os denominados autopropelidos (a resolução 996/2023, do Contran, ampliou a categoria, absorvendo ciclomotores que atingem até 32 km/h) como as bicicletas (incluindo as elétricas) são dispensados do uso de placa, o que dificulta a identificação. Para patinetes, um decreto de 2019 proíbe o uso em calçada e fixa regras para trafegar em ruas e ciclovias do Rio. Há ainda lei municipal, de 2024, que prevê a circulação de bikes elétricas em ciclovias.
Entre os pedestre, sobra insatisfação. "Nem na calçada se pode andar em paz. Do nada aparece um louco com bicicleta. E para atravessar a rua temos que olhar para os dois lados. Sem vem moto ou bicicleta é melhor esperar passar porque não costumam respeitar o sinal", lamenta o servidor aposentado Paulo César de Souza, morador de Botafogo.
Em tempo: levantamento realizado pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) em 2024 mostrou que dos mais de 30 milhões de proprietários de motos, motonetas e ciclomotores registrados no país, mais de 17 milhões não têm a Carteira Nacional de Habilitação válida para dirigir esses veículos.
* Matéria editada e resumida pelo Mobilize Brasil. A original, completa, foi publicada em 9/3/2025 no jornal "O Globo" com o título Sem freio: dados do Corpo de Bombeiros revelam que três de cada quatro acidentes de trânsito no Rio têm moto envolvida.
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