A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) se juntou a outras entidades nacionais médicas, que atuam na preservação da segurança viária e no fortalecimento do transporte público coletivo e se posicionou contra o uso de motocicletas para o transporte remunerado de passageiros, como acontece com o Uber e o 99 Moto. Para quem não sabe, são os médicos do tráfego que avaliam a aptidão física e mental de condutores de veículos, atuando na prevenção de sinistros de trânsito.
Assim como outras entidades, a Abramet entrou na discussão diante de uma possível regulamentação do serviço com motos em São Paulo, a maior capital do Brasil e a única que tem conseguido barrar a liberação do Uber e 99 Moto no país. Na verdade, a Prefeitura de São Paulo está travando uma batalha judicial contra as plataformas de transporte desde o início de janeiro, quando a 99 e a Uber tentaram, pela segunda vez, implantar o serviço na cidade.
Risco histórico
O Uber e 99 Moto já operam em mais de 3.500 cidades brasileiras e em todas as capitais - com exceção de São Paulo até agora. O entendimento da Abramet é de que, pelo risco histórico que o transporte com motocicletas representa no Brasil, ele não é seguro e segue sendo o mais perigoso para deslocamentos, principalmente com passageiros na garupa.
“Sabendo que a motocicleta tem 28% da frota nacional e está relacionada a aproximadamente 55% das internações nos hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde), este modal é o mais perigoso nos nossos deslocamentos. E esse fato deve ser considerado na hora da escolha do tipo de transporte”, afirma Áquilla Couto, diretor de comunicação da Abramet e porta-voz nacional da entidade sobre o tema.
A presença do passageiro nas motocicletas é outra característica negativa do serviço de Uber e 99 Moto destacada pela Abramet. Isso porque o garupa amplia a vulnerabilidade do veículo e, consequentemente, o risco de sinistros de trânsito.
“O risco de quedas e colisões é ainda maior nas motocicletas quando, além do piloto, há o passageiro. Uma pessoa na garupa altera completamente o centro de gravidade do veículo. Dificulta as manobras, e provoca impacto na frenagem. A falta de experiência e a desatenção do garupa, além do peso extra, são alguns dos fatores relacionados com o aumento de chance de sinistros de trânsito”, pontua Áquilla Couto.
E segue, destacando que o risco para o passageiro do transporte com motos chega a ser maior porque está exposto do mesmo jeito que o piloto, mas quase sempre é pego de surpresa nas quedas e colisões. “O risco do passageiro é semelhante ao do condutor, porém sem o total domínio da direção. Precisa ter confiança nas habilidades e práticas de direção segura, pois, caso haja queda ou colisão, todos serão prejudicados”, afirma.
Na visão da Abramet, a regulamentação do transporte de passageiros com motos - seja mototáxi ou a versão digital do serviço, no caso o Uber e 99 Moto - vai gerar um grande impacto na rede pública de saúde. “Podemos usar o exemplo de Belo Horizonte (MG), que nos primeiros seis meses de funcionamento do serviço registrou um aumento de 22% de internação dos leitos se comparado com a média nacional”, diz o diretor da Abramet.
Melhorar o transporte público
A entidade nacional pondera que é urgente e importante melhorar o transporte público, principalmente na ampliação do serviço nas pequenas distâncias, na chamada primeira ou última milha de deslocamento, onde o ônibus e o metrô não chegam. É nesses percursos de um a três quilômetros que o Uber e o 99 Moto têm conquistado passageiros.
“Há um fenômeno cultural nas comunidades, onde o uso da motocicleta já está enraizado socialmente. E onde muitas pessoas aprendem a conduzir motos ou são transportadas sem a capacidade de identificar os riscos. E isso é agravado pelo fenômeno econômico, com a distância crescente entre as residências e os locais de trabalho”, alerta Áquila Couto.
“O transporte público não resolve o problema do último quilômetro, já que os ônibus grandes não atendem às áreas internas das comunidades, deixando as pessoas com deslocamentos de um a três quilômetros que precisam ser solucionados. E, mais uma vez, as motocicletas acabam sendo a única alternativa viável”, analisa.
Responsabilização
A Abramet também defende que os aplicativos de transporte precisam ser responsabilizados pelas vítimas de quedas e colisões, sejam condutores ou passageiros. “Existe uma prestação de serviço, intermediado pelas empresas de aplicativos, que fornecem o transporte. À medida que os lucros do serviço são concentrados e os prejuízos são divididos por todos através do SUS e da Previdência Social, creio que deveríamos refletir sobre as regulamentações e a distribuição de responsabilidades”, pontua.
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