Drones: o desafio dos voos autocontrolados

Na última parte de sua entrevista, Veronica Sesoko mostra o projeto irlandês de drones para permitir os voos autônomos. Inclusive para o transporte de pessoas

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 02 de dezembro de 2024

Veronica Sesoko (dir.) e parceiros no projeto de d

Veronica Sesoko (dir.) e parceiros no projeto de Dublin

créditos: Arquivo pessoal

Na última parte de sua entrevista, a engenheira brasileira Verônica Sesoko explica como está sendo desenvolvido o sistema de controle de drones da Irlanda, de forma a atender à segurança das pessoas e do meio ambiente no entorno de Dublin. Ela avalia que os veículos voadores autônomos se tornarão mais comuns nas cidades após a definição das normas e sistemas de navegação. Inclusive para o transporte de passageiros.

 

Em respostas anteriores você já mencionou o uso de drones em várias atividades, incluindo bombeiros, construções e também para a inspeção de ciclovias em Dublin. Como está sendo feita essa operação para não interferir na vida da cidade?

Sim, a inspeção de ciclovias é uma das tarefas que a Drone Unit está fazendo. Toda semana voamos na mesma localização e registramos o desenvolvimento da construção ou da manutenção das vias para bicicletas. Em alguns casos, temos que passar pelas regiões onde a Manna Drones está fazendo entregas. Então, como é que seria para conseguir fazer o voo de drones da prefeitura enquanto eles também estão operando?

No momento essa operação ainda é bem manual: nós fazemos o pedido para o serviço ao órgão regulamentador, que vai notificar a Manna e aí eles vão fazer o geofence (geolocalização para delimitar uma área) para os dias de serviço. Daí, naqueles dias as rotas de entregas não passam pelo espaço utilizado para as inspeções. Mas, na nossa visão, isso não seria o melhor, em um mundo futuro. Há várias dessas perguntas que fazem parte do projeto, que envolvem o centro de pesquisa da Maynooth University e o órgão regulamentador.


Mas como isso está sendo  coordenado?

O desafio central é como conciliar as várias empresas, a prefeitura, outros órgãos governamentais e também as pessoas que utilizam drones como hobby para operar na mesma região. E há também o problema dos distúrbios que esse tráfego aéreo possa trazer para as pessoas, o que coloca novas questões. Será que isso incomoda? Qual a altura que o drone tem que estar voando? Nós vamos fazer simulações, envolvendo os moradores, talvez com realidade virtual, simulando vários níveis de tráfego de drones. Esse projeto já está sendo desenvolvido e esperamos que dentro de um ano já tenhamos parâmetros para essa regulamentação. Por enquanto, temos um equipamento instalado no edifício da prefeitura que está registrando todos os voos de drones, onde aconteceram, qual a duração de cada voo e tudo isso. Então, em breve nós saberemos quais serão as regras de tráfego, quais serão os corredores, quem terá prioridade, e saberemos onde e que tipo de drone está voando. E, dessa forma, pensamos que será possível automatizar tudo.

 

Inclusive os drones de passageiros, que já estão sendo apresentados por alguns fabricantes?
Penso que talvez a gente consiga ter veículos autônomos no céu antes que eles estejam nas ruas. Há vários anos a indústria automobilística vem trabalhando na concepção de um "carro autônomo", mas o problema é que esse carro terá que conviver com veículos dirigidos por pessoas, que têm comportamentos imprevisíveis, nem sempre racionais. E esse é um dos fatores que ninguém consegue controlar. Daí que será muito difícil ter um carro autônomo terrestre. Mas parece bem razoável que em alguns anos nós tenhamos esses drones, todos autônomos, voando de uma forma mais coordenada.


Quanto tempo?

Não sei, porque isso depende vários fatores. A tecnologia para a mobilidade de passageiros já existe, mas a parte de regulamentação, de certificações, ainda não está pronta. A prefeitura, por exemplo, demorou um ano para conseguir uma das certificações necessárias para voar esses drones dentro do ambiente urbano. E um dos principais motivos era a dificuldade em obter um paraquedas que fosse certificado. Então, ficaram seis meses parados, aguardando a certificação do paraquedas de segurança para esse modelo de drone que eles pretendiam utilizar. Há vários produtos sendo desenvolvidos pelo mercado, incluindo as normas e certificações, mas eu acho que em um ou dois anos a gente vai começar a ver tudo isso.

 

Por fim, qual é exatamente o seu papel nesse trabalho, que parece fascinante?

Na verdade, o meu trabalho não é tão técnico. A minha função é basicamente entender qual é a visão de futuro, quais são os problemas e as oportunidades que estão surgindo. Eu descobri que gosto muito de inovação, porque é multidisciplinar e me permite conversar com pessoas com ideias totalmente diferentes, às vezes opostas. Eu atuo para coordenar as atividades dos especialistas técnicos envolvidos no projeto, converso com a indústria, os regulamentadores, o pessoal que trabalha na prefeitura, startups e os moradores da cidade. Estou coordenando o pessoal técnico e os outros stakeholders para entender como é que as coisas vão funcionar, e antever os problemas que poderão surgir na prática.

Leia mais: Na primeira parte da entrevista, Veronica Sesoko fala sobre inovação, tecnologia, bikes e patinetes em Dublin. Na segunda parte, ela apresenta os vários usos de drones já praticados na capital irlandesa.

 


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