Lições de Dublin: tecnologia, bikes e drones

Veronica Sesoko fala sobre inovação, tecnologia e bikes na cidade. E apresenta o projeto que vai ampliar o uso de drones na capital irlandesa e daí para toda a Europa

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa / Mobilize Brasil  |  Postado em: 27 de novembro de 2024

Veronica Sesoko, do projeto Drone Innovation Partn

Veronica Sesoko, do projeto Drone Innovation Partnership

créditos: Arquivo pessoal


V
eronica Sesoko é bisneta de japoneses, nascida em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Formada em engenharia civil pelo Instituto Mauá de Tecnologia, saiu do Brasil para estudar inglês e foi ficando em Dublin, na Irlanda. "Na verdade, a ideia inicial era fazer mestrado no Japão, mas eu gostei tanto da Irlanda que resolvi ficar aqui mesmo. Cursei o mestrado em Transportes no Trinity College Dublin e, logo depois, consegui um emprego no City Council (prefeitura) e fiquei três anos e meio trabalhando na área de inovação e cidades inteligentes".


Depois de passar por outros empregos, sempre na área de inovação, neste ano Veronica voltou para a prefeitura dublinense, mas desta vez trabalhando em um projeto para estudar formas seguras de utilizar drones em serviços urbanos. A atividade envolve uma parceria com a Maynooth University e o Irish Aviation Authority, órgão que regulamenta a aviação na Irlanda, além de empresas privadas.


Nesta longa entrevista (em três partes), ela fala sobre as iniciativas de inovação adotadas em Dublin, discute os sistemas de bicicletas públicos da cidade, e levanta possibilidades (e dúvidas) sobre o futuro dos drones em cidades da Irlanda e de toda a Europa.


Olhando aqui do Brasil, nos parece que a prefeitura de Dublin, e talvez toda a Irlanda, está muito interessada em inovar, ou seja, em adequar a cidade para este momento que vivemos, com as mudanças climáticas e os novos desafios que os aglomerados urbanos terão que enfrentar. É por aí?

Eu diria que é um mix de tudo isso. Dublin também é conhecida como o "Vale do Silício" aqui da Europa. Alguns anos atrás a Irlanda resolveu diminuir os impostos para as empresas e isso atraiu grandes companhias americanas, que fixaram suas sedes na cidade. Hoje, por exemplo, nós temos aqui os "headquarters" do Facebook, do Linkedin, e de várias outras empresas de tecnologia. Microsoft, Google, Accenture, Meta, todas elas têm matrizes na Irlanda. E também há muitas indústrias farmacêuticas por aqui.


E aí, um pouco por conta disso, eu acho que a cidade desenvolveu essa cultura de inovação, atraindo muita gente com várias habilidades diferentes. Nesse processo, a Prefeitura entendeu que havia uma oportunidade e buscou desenvolver parcerias com essas empresas, na perspectiva de investir em smart cities, ou seja, em cidades inteligentes.


Conforme o tempo foi passando nós fomos mudando um pouco nosso foco, para além da digitalização. E nos colocamos o desafio de melhorar a comunicação com os cidadãos, como lidar com os desafios climáticos, como incorporar as novas tecnologias que vão mudar o jeito como a cidade funciona, e que vão demandar novas legislações. Por exemplo, quando chegaram os patinetes elétricos surgiu uma grande discussão: Não é regulamentado? Pode-se usar? Como é que se pode usar? Vai ser regulamentado pela Prefeitura ou será regulado em nível nacional? Enfim, uma série de perguntas para as quais ainda não havia respostas. Então, essas questões são incorporadas em projetos dentro da área de cidades inteligentes e de inovação para começar a olhar como é que a gente pode se beneficiar de tudo isso.


Anos atrás, uma colega nossa, a jornalista Denise Silveira, esteve em Dublin, durante o festival Velocity, e fez uma entrevista contigo, quando você trabalhava exatamente no projeto de desenvolvimento de bicicletas e patinetes elétricos na cidade. Esse projeto avançou, evoluiu, se consolidou na cidade?
Sim, o esquema de compartilhamento de bicicletas completou dez anos e eles estão negociando a expansão do sistema. Na época, quando eu comecei, só havia uma empresa operando, e agora já temos três, inclusive uma que opera com bikes sem estações, no sistema dockless. Uma das discussões para o próximo contrato é exatamente como é que vai ser a expansão, porque no momento a maioria das bicicletas estão localizadas na área central, a zona entre os canais.


Então, eles querem expandir também para fora desses canais, ou seja, ir mais para os subúrbios, onde estão as áreas residenciais. Nesse pacote, a partir da iniciativa de uma das operadoras concorrentes, também foram incluídas bikes elétricas. Apesar de Dublin ser bem plana, há algumas subidas e tem muita gente que não se sente confiante de pedalar para subir. E há também aquelas pessoas que querem usar as bikes para ir ao trabalho, mas não querem chegar suadas.


Além da expansão da rede de bicicletas, a prefeitura está expandindo as ciclovias na cidade também. Ainda não está ideal, mas a gente chega lá.


Mulheres circulam de bicicleta ao lado de uma estação de bike-sharing Foto: Cian Ginty / Irish Cycle



No Brasil nós tivemos uma experiência com bicicletas e patinetes dockless, mas essas tentativas não se consolidaram por vários motivos, como o vandalismo e coisas do tipo, aliás, como aconteceu em várias cidades do mundo. Vocês conseguiram avançar aí em Dublin de uma maneira mais segura, mesmo com o sistema dockless?

Uma das regras para usar as bicicletas dockless é que você tem que parar em lugares demarcados, que têm o bike stand. Toda vez que completa sua viagem, tem que tirar uma foto provando que a bicicleta está devidamente estacionada no lugar correto. E se não estiver no back stand, pode levar uma multa. E se você parar nas áreas que não são permitidas, o aplicativo não o deixa encerrar a viagem.


E sobre patinetes elétricas?

Elas foram regulamentadas no ano passado, mas as regras são muito restritivas, até mesmo com a proibição de serem transportadas em ônibus, bondes e trens. As autoridades alegam que suas baterias não são seguras, ou "maduras" o suficiente para obter a certificação. Isso porque, em caso de incêndio, seria um risco muito grande. Assim, na verdade, nós ainda não temos patinetes compartilhadas. 


<...continua >


Leia mais: Nas próximas partes da entrevista, Verônica Sesoko explica como está sendo desenvolvido o sistema de controle de drones da Irlanda. E fala sobre o uso dessas pequenas aeronaves para o monitoramento da rede de ciclovias de Dublin.

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