O clima mudou, nós também precisamos mudar. Compreender que as cidades precisam de políticas justas e eficazes direcionadas a combater as mudanças climáticas é um dever dos gestores públicos. No caso de Teresina e nas demais 222 cidades do Piauí, as ações demonstram pouca ou nenhuma intenção de transformar o ambiente urbano a partir de um olhar socioambiental. Ao contrário, a natureza é vista como possibilidade de lucros.
Na capital do Piauí, o governo do estado, por meio da Secretaria dos Transportes (Setrans), está executando obras da primeira etapa da modernização e revitalização do Metrô de Teresina. O investimento é milionário e a promessa é triplicar o número de passageiros. São R$ 193 milhões na primeira etapa e outros R$ 390 milhões já orçados para a segunda etapa.
Lendo, até aqui, até parece uma notícia boa. Afinal, o objetivo é melhorar a mobilidade urbana em Teresina, que há mais de uma década enfrenta uma crise sem fim. Mas...
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Corredor do metrô de Teresina: árvores suprimidas sem explicações Foto: O Corre Diário
No entanto, o que tem indignado especialistas e ambientalistas comprometidos com os desafios em curso das mudanças climáticas, é que o desenvolvimento da Teresina só parece ser possível quando "passa por cima" da natureza e da já pouca cobertura vegetal da cidade, que um dia já foi verde.
Para viabilizar parte da obra do metrô, o governo estadual optou por matar dezenas de Angicos Brancos, majestosos e com décadas de história. O angico que, por sinal, é árvore símbolo da cidade de Teresina. Outras árvores também foram retiradas do local, para dar lugar aos trilhos do metrô de superfície em mais dois quilômetros da linha férrea na Avenida Maranhão, importante via que passa pelo Centro Sul da capital.
Teresina merece viver como uma cidade limpa, segura e com seus ecossistemas estáveis, e não conviver desse jeito com crimes ambientais.
Os impactos promovidos pela destruição das árvores na chamada “capital do Sol” já podem ser sentidos por aqueles que utilizam a ciclovia ao lado do túnel, ciclistas que antes eram protegidos pelas copas dos gigantes angicos. “Fui surpreendida com a devastação; a vontade é de chorar”, lamentou a ciclista Amanda Santos, que costuma usar essa ciclovia quatro vezes na semana. E desabafa, com tristeza: “Por quê, meu Deus, fizeram isso? Tenho certeza de que, para ampliar os trilhos, não precisavam necessariamente derrubar as árvores.”
Amanda tem razão. O desenvolvimento das cidades não pode e nem deve estar separado do debate ambiental e climático.
“As árvores não precisam sair, elas, melhor do que o concreto, sabem fixar-se no solo e proteger as encostas”, afirma o arquiteto e urbanista Luan Rusvell, para quem a solução escolhida foi “burra e egoísta”. Segundo ele, “bastaria usar novas tecnologias para garantir que as árvores continuassem promovendo os seus serviços ecossistêmicos à cidade, que é uma das mais quentes do país”, lembra Rusvell.
Cada dia mais tórrida, Teresina precisa urgentemente de uma política capaz de atender aos enormes desafios sociais e ambientais trazidos pela emergência climática. Eventos extremos, calor extremo, escassez de águas. Fenômenos que tendem a se tornar cada vez mais comuns, caso não se adotem medidas urgentes.
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