Cidades nasceram há mais de 5 mil anos para agrupar pessoas, serviços, proteção: a ideia é que tudo estivesse perto, a poucos passos. Já as cidades modernas foram concebidas com base na velocidade, para permitir que as pessoas se desloquem de um ponto a outro, o mais rapidamente possível.
No século 20, a maior eficiência dos sistemas de transportes, com bondes, trens e depois carros, levou as cidades a se expandirem, em distâncias cada vez maiores. Como resultado, os tempos de viagem, na prática, permaneceram os mesmos, como indica o conceito técnico da Constante de Marchetti1.
Os resultados dessa expansão são bem conhecidos: superlotação dos transportes públicos, congestionamentos das vias, horas e horas gastas por dia para realizar as atividades de trabalho, estudo ou mesmo lazer.
No entanto, o desejo da maioria das pessoas de acessar com facilidade os serviços médicos, trabalho, escolas, academias, mercados... esse não mudou. Uma resposta a essa necessidade humana levou ao redesenho das cidades, de forma a permitir que todas as facilidades estejam próximas, em meia hora, ou no máximo a 15 minutos em viagem a pé, de bicicleta ou em transporte público. Nasceu assim o conceito da "Cidade de 15 Minutos", formulação teórica que sugere esse tempo para se chegar a qualquer atividade. O pai da ideia é o cientista franco-colombiano Carlos Moreno, professor da Universidade Paris Panthéon-Sorbonne, defensor de que esse tempo deve ser atingido sem carro, e sim a pé ou de bicicleta, para também promover saúde e sustentabilidade.
Um estudo recente desenvolvido pelos Laboratórios de Ciência da Computação da Sony em Roma (Sony CSL), e publicado na revista Nature Cities, aponta quais cidades no mundo se encaixam (ou não) nesse conceito. Os pesquisadores desenvolveram inclusive uma ferramenta que permite a qualquer pessoa conferir como se posiciona sua cidade nesse ranking global. As informações mais completas estão disponíveis para cidades europeias, mas é possível checar a situação de várias localidades brasileiras. Confira na plataforma The 15 Minutes City.
Cidades de 15 minutos
O termo “cidade de 15 minutos” foi introduzido de fato na década de 1960, mas se tornou diretriz nas políticas urbanísticas apenas por volta de 2016, graças a Moreno. Foi ele quem assessorou a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, no período da pandemia de covid em 2020, quando a proposta passou a ser mais difundida e levada a sério.
A capital francesa se tornou então cidade no mundo a levantar essa bandeira com mais firmeza e convicção. Hidalgo integrou a proposta na sua política urbana, criou ciclovias e passou a revitalizar os espaços públicos. Essa transformação fez de Paris um polo global em acessibilidade urbana, com grande parte da cidade se pondo em conformidade com a regra dos 15 minutos.
Outras grandes cidades também passaram a adotar essa configuração urbana compacta, como Milão e Barcelona. Vale lembrar Portland, nos EUA, que adotou conceito parecido há duas décadas. Mas a grande maioria da população mundial ainda enfrenta distâncias e tempos de viagem muitíssimos acima da meta de um quarto de hora, como, por exemplo, nas cidades de Atlanta e Los Angeles (EUA), e aqui no Rio de Janeiro ou em São Paulo.
(1) Nota: A "constante de Marchetti" é um conceito criado pelo engenheiro de transportes Yacov Zahavi, que calculou no tempo de uma hora (meia hora para ir, meia para voltar) o tempo médio gasto diariamente por uma pessoa para se deslocar.
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