"Baixar velocidade na orla do Rio, de 70 para 60 km/h, é pouco"

Especialistas dizem que medida anunciada pela prefeitura na Avenida Lúcio Costa, entre Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, não basta para impedir atropelamentos

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 22 de agosto de 2024

Av. Lúcio Costa, no Rio: menor velocidade e

Av. Lúcio Costa, no Rio: velocidade menor e "speed table"

créditos: Google Street View/Reprodução

Na última terça-feira (20), a Prefeitura do Rio anunciou um plano para promover a redução da velocidade na Avenida Lúcio Costa, que acompanha a orla da Barra da Tijuca ao Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste da cidade. Hoje, a velocidade máxima permitida nessa via é de 70km/h e, dentro de 90 dias, segundo a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), serão feitas as adequações necessárias de estrutura e de sinalização para baixar a velocidade para 60 km/h. 

 

Mas, será que uma redução de 10 km/h em relação ao que é praticado hoje, em uma via tão movimentada e extensa (15 km), e com histórico de sinistros de trânsito graves, será suficiente para impedir os atropelamentos e melhorar de fato a segurança na travessia dos pedestres?  

 

Para a diretora do movimento Caminha Rio, Thatiana Murillo, ouvida pelo Mobilize Brasil, reduzir a velocidade na Lúcio Costa de 70 km/h para 60 km/h "é bem pouco". "Teria de haver uma redução para pelo menos 50 km/h, já que o ideal, 40 km/h, como indicam os especialistas na área, dificilmente será aceito pela prefeitura", diz a ativista. Ela lembra que grupos de incidência política já vêm, há muito tempo, pedindo a redução de velocidade nas orlas da capital fluminense, por causa dos inúmeros atropelamentos ali registrados. 

 

Segundo Thatiana, além do problema relacionado aos carros nessa via, há também insegurança nas ciclovias, calçadas e calçadões da orla devido ao acesso dos ciclomotores: "Vários acidentes graves já ocorreram nesses espaços que teoricamente deveriam pertencer aos ciclistas. Falta controle e fiscalização sobre os veículos elétricos que invadiram as faixas de bicicleta, e que trafegam inclusive nas calçadas, sem nenhuma segurança para quem está a pé".

 

A prefeitura já vem sendo questionada sobre o problema pela Comissão de Segurança do Ciclismo (CSCRJ), que pede um posicionamento oficial sobre a regulação e controle nesses locais, diz Thatiana. "Mas isso nunca acontece", desabafa. 

 

Outra especialista que compartilha a mesma opinião é a doutora em mobilidade ativa Meli Malatesta. Para ela, avenidas como a Lúcio Costa, que, ou são vias expressas, ou muitas vezes com poucos cruzamentos, exigiriam uma redução mais significativa nos limites de velocidade, como já é de conhecimento do meio técnico.

 

Explica Meli: "De acordo com a Curva de Ashlon [gráfico amplamente conhecido que relaciona a velocidade veicular à ocorrência de óbito], se uma pessoa é atingida por um carro a 60 km/h, há 85% de chance de vir a óbito. Quanto aos 15% restantes, se essa pessoa sobreviver, terá sequelas graves e não conseguirá viver normalmente", alerta.  

 

Faixas elevadas

A Secretaria Municipal de Transportes do Rio informa ainda que a redução da velocidade na Lúcio Costa virá conjugada a um projeto de urbanização que prevê a implementação de elementos físicos, os chamados "speed table", para a redução da velocidade nas travessias existentes.

 

O speed table é um tipo de faixa elevada na pista que força o motorista a reduzir a velocidade ao passar por ela. Ao contrário das lombadas tradicionais, é mais suave e menos desconfortável para os veículos, diz a Prefeitura, mas é eficaz na diminuição da velocidade. Segundo a SMTR, ao todo deverão ser implementadas cerca de 20 dessas faixas na avenida.

 

Meli Malatesta questiona também a eficácia desse tipo de solução em uma via com as características da Lúcio Costa: "A faixa elevada implantada em uma via de 60 km/h, ou seja, de velocidade alta, faria 'os carros voarem' ao se deparar com a elevação". Segundo ela, nesse caso, "é problemático, e o adequado seria estabelecer algo próximo dos 30 km/h como limite de velocidade", acrescenta. 

 

Há inclusive, diz a especialista, uma resolução, regulamentada em 2022, do Conselho Nacional de Trânsito (Resolução Contran 973/22) sobre o tema. Nela, são estabelecidas normas e padrões obrigatórios para o dispositivo, como dimensões de comprimento, largura, altura, inclinação, rampa etc., que devem ser respeitados na construção de faixas elevadas. 

  

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