Sinal verde, só para automóveis?

Experiência com semáforos controlados pela inteligência artificial do Google promete fluidez ao trânsito, mas poderia ser aplicada para priorizar o transporte público

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 17 de julho de 2024

Semáforo da Av. Atlântica com Av. Prado Jr., no Ri

Semáforo da Av. Atlântica com Av. Prado Jr., no Rio

créditos: Reprodução Eduardo Anizelli/Folhapress

Reportagem publicada hoje (17) na Folha de S. Paulo informa que cinco cruzamentos da cidade do Rio de Janeiro estão sendo controlados com auxílio de inteligência artificial do Google.


Conforme o texto, o projeto Green Light não usa sensores ou câmeras, mas dados em tempo real do Google Maps - programação dos sinais de trânsito, horários de pico, hábitos dos motoristas etc. - para sincronizar os semáforos. Se uma rua aparece no aplicativo com trânsito congestionado, a IA do Google calcula um ajuste no equipamento, de modo a promover maior fluxo dos carros. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET), desde novembro de 2023, quando a experiência foi iniciada, o uso da tecnologia reduziu em 10% o tempo de espera do motorista nos cruzamentos. Segundo a CET Rio, e também há expectativa de reduções nas emissões de gás carbônico (CO2).

 

O experimento foi questionado por Meli Malatesta, doutora e especialista em mobilidade, que inicialmente estranhou a ausência na notícia de qualquer referência a pedestres, cadeirantes, ciclistas e outros "entes" que circulam pelas cidades e precisam cruzar essas vias com segurança e conforto. Com experiência de 35 anos na CET/SP, a urbanista entende que não é possível pensar a vida urbana apenas levando em consideração o trânsito motorizado. Em entrevista realizada pela internet, Meli Malatesta convidou a urbanista e engenheira Luisa de Moura Chaves e o engenheiro Jonie Daniel de Magalhães, ambos especialistas em simulação de transportes, para discutir o tema.

 

Luisa de Moura Chaves entende que o conceito da chamada "onda verde" tem potencial para melhorar a fluidez do trânsito em algumas vias, mas adverte para as limitações dessa técnica, que pode drenar mais fluxo para as ruas que recebem esse tratamento e criar novos pontos ou eixos de congestionamento. 

 

Ela e seu colega Jonie Daniel avaliam que esses sistemas de abertura contínua dos semáforos poderiam ser aplicados sobretudo em faixas e corredores do transporte coletivo para aumentar a velocidade e a eficiência do transporte público e assim atrair mais passageiros e desestimular o uso de automóveis nas cidades.

 

Luisa acredita que antes de aplicar tecnologias de computação as cidades deveriam investir na melhoria das infraestruturas básica, como calçadas, lombofaixas e outros recursos de traffic calming, além de programas de urbanismo tático, buscando reduzir a velocidade do trânsito em algumas vias.

 

Os três pesquisadores coincidem na perspectiva de que a tecnologia possa ser um fator de segurança especialmente para os pedestres, com semáforos sonoros, detectores de pessoas com mobilidade reduzida e temporizadores adequados para a travessia das vias. Meli Malatesta lembra que no Brasil os semáforos de pedestres adotam como padrão a velocidade de 1,2 metro por segundo, mas pesquisas indicam que a média no país estaria em 0,7 metros por segundo. "Há uma variação dessa velocidade, dependendo da região do país, mas sabemos que a população brasileira está envelhecendo, o que sugere a necessidade de rever as velocidades e tempos de travessia das ruas", explica Meli.

 

Ela também acredita na necessidade de repensar a forma de condução dos ônibus que fazem o transporte público das cidades. "Os ônibus têm picos de velocidade que podem provocar quedas ou atropelamentos de pessoas idosas. Talvez seja o momento de revisar os critérios para de velocidade desses coletivos", completa Meli Malatesta.


Para saber mais
sobre o projeto Green Light acesse

 


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