De Belo Horizonte para Lisboa: o que o Brasil pode ensinar à Europa

A participação brasileira na Walk 21, com destaque para os trabalhos sobre as ações para melhorar a caminhabilidade na capital mineira

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 16 de julho de 2024

Cruzamento na praça Sete de Setembro, em Belo Hori

Cruzamento na praça Sete de Setembro, em Belo Horizonte

créditos: Reprodução Expedia

Em outubro, a cidade de Lisboa irá sediar a 24ª Conferência Internacional Walk 21, evento anual que reúne experiências de estímulo à caminhada como forma de transporte nas cidades.


Esta edição, na capital portuguesa, vai reunir representantes de governos, organizações da sociedade, pesquisadores universitários, estudantes, jornalistas e outros profissionais que atuam na busca de cidades caminháveis, acessíveis e inclusivas para todas as pessoas, com menos tráfego de veículos motorizados. A discussão é especialmente importante neste momento, quando a humanidade começa a sentir os efeitos dramáticos das mudanças climáticas, geradas em grande parte pelas emissões de gases dos transportes motorizados. Trata-se, também, de reverter a prioridade dada aos automóveis em quase todas as cidades ao longo do século 20 e recuperar os espaços que um dia pertenciam às pessoas.

 

Entre os participantes, de todas as partes do mundo, um grupo relevante de brasileiros estará presente para mostrar alguns avanços conquistados  em cidades brasileiras.


A Walk 21 de Lisboa terá a participação de Leticia Sabino (Instituto Caminhabilidade), Paula Coelho da Nóbrega (Ministério das Cidades); Bibiana Tini, Bruna Sato e Douglas Farias (Metrópole 1:1); Raína Menezes, Natália Gameiro e Vera Bacchi (Instituto Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano de Campo Grande); Ariadne Samios e Andressa Ribeiro (WRI Brasil); Danielle Hoppe e Priscila Gonçalves (ITDP Brasil); e Mauro Ferreira (CET/Rio).


De Belo Horizonte, a arquiteta e urbanista Janaina Amorim levará sua experiência no trabalho de educação de crianças e adolescentes para uma nova mobilidade urbana, mais leve, com menor impacto ambiental. Outro trabalho irá mostrar uma intervenção realizada na Praça Sete de Setembro, local com maior circulação de pedestres na capital mineira.


Para saber mais sobre essa participação mineira no evento europeu entrevistamos Janaína via whatsapp. Ela é mestre em Engenharia de Transportes pela UFMG e gerente de projetos de redesenho urbano na Metrics Mobilidade. Foi uma das fundadoras da Plataforma Mobilithas, organização coordenada só por mulheres que oferece cursos ligados à mobilidade urbana sustentável). Mantém a página Mobilidade Ativa e Saúde no Instagram e é voluntária da Organização Sonhando a Pé, que trabalha a educação e aprendizados sobre o ambiente urbano por meio de compartilhamento de conhecimento entre voluntários e crianças.



 A urbanista Janaína Amorim


Por que você decidiu participar da conferência Walk 21? Qual é a importância desse encontro?

Entendo que é crucial discutirmos sobre a mobilidade a pé em nossas cidades, considerando o cenário atual onde o planejamento urbano prioriza os automóveis e negligencia a caminhabilidade na maioria dos espaços públicos. Participar de um evento internacional de prestígio, como a Walk 21, é uma grande conquista, pois nos permite mostrar nossas experiências sobre o tema e engajar o Brasil em debates significativos sobre este tema.

 

Que trabalhos você irá apresentar no evento?

São dois trabalhos. Um vai apresentar o projeto da Metrics Mobilidade sobre a reprogramação de semáforos para aumentar a segurança e o conforto dos pedestres em áreas centrais, focando no caso de uma das principais interseções da cidade de Belo Horizonte, a praça Sete, no cruzamento da Avenida Amazonas com a Avenida Afonso Pena. Nesta experiência, conseguimos aumentar o tempo de verde para as pessoas a pé atravessarem as faixas de pedestres, concomitantemente à diminuição do tempo de espera das pessoas para poder atravessar. Isso gerou mais conforto e segurança para todos. 

O segundo trabalho aborda uma dinâmica pedagógica criada pelo Sonhando a Pé, que propõe o (re)descobrimento do espaço urbano com a caminhada. Nós o chamamos de "Caça ao Tesouro em Família". Neste trabalho demonstramos a metodologia conduzida com cerca de 100 crianças dentro da programação da 20ª e 21ª edição do Domingo no Campus, evento realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na qual realizamos uma caça ao tesouro para crianças de todas as idades, pautando características do espaço que podem ou não favorecer os deslocamentos a pé, além de despertar um olhar crítico sobre o tema junto ao público infantil.

 

A União Europeia (UE) já tem alguns programas que estimulam a redução de velocidades e a proteção de áreas próximas a escolas e outros locais frequentados por crianças. Aqui no Brasil temos algo a "ensinar" aos europeus?

A União Europeia possui programas incríveis relacionados à mobilidade a pé, e que nos inspiram bastante. No entanto, acredito que sempre temos informações valiosas para compartilhar, incentivar a troca de experiências e, sim, ensinar. Primeiro, porque enfrentamos realidades e desafios urbanos diferentes, o que nos obriga a criar soluções diversas para resolver problemas específicos. Nem sempre as recomendações das cidades do "primeiro mundo" são aplicáveis aqui. Segundo, porque estamos todos aprendendo juntos. O desafio da mobilidade a pé é significativo em todas as cidades do mundo devido à marginalização da caminhada no último século. As cidades têm grandes áreas dedicadas à fluidez dos veículos motorizados, em detrimento da caminhabilidade. Precisamos recuperar a mobilidade sustentável. Embora algumas cidades estejam mais avançadas que outras, é essencial nos unirmos para trocar experiências e discutir essas questões. Quanto mais colaborarmos e compartilharmos nossos conhecimentos, mais fortes nos tornamos diante desse desafio comum.

 

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