Em SP, ciclovias avançam. Aos trancos e barrancos

Má execução e falta de conservação resultam em armadilhas que podem gerar graves acidentes com ciclistas na capital paulista

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Fonte: Mobilize Brasil / Prefeitura de São Paulo  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 26 de junho de 2024

Falha de construção na ciclovia da av. Santos Dumo

Falha de construção na ciclovia da av. Santos Dumont, em SP

créditos: Mobilize Brasil

Novos trechos cicloviários continuam sendo implantados na cidade de São Paulo. O último, registrado nesta semana, ocupa uma faixa na rua Maria Cândida, uma via importante, que liga o bairro de Vila Guilherme a Santana, ambos na zona norte. É uma boa notícia, mas...


Apesar desse e de outros pequenos avanços, circular de bicicleta na capital paulista ainda exige muita paciência e certa coragem. Após a pandemia, o trânsito de automóveis está visivelmente em crescimento, com grandes congestionamentos a qualquer hora do dia, por todas as regiões da cidade. Há também um recrudescimento da violência no trânsito, visível no desrespeito à sinalização e no maior índice de acidentes (sinistros de trânsito), como detectado em maio passado (Maio Amarelo) pelo sistema Infosiga, mantido pelo Detran-SP. A maior parte das vítimas são pedestres e motociclistas, mas há registros crescentes de sinistros envolvendo ciclistas.

 

Mesmo pequenas falhas no pavimento ou sujeira acumulada - areia, pedriscos, lama ou óleo - podem provocar a queda de ciclistas, especialmente à noite, quando a visibilidade é menor e a atenção tem que estar voltada ao movimento dos veículos ao redor. E se as cidades querem mesmo atrair ciclistas para as ruas, devem considerar que a maioria das pessoas que circulam de bicicletas não é formada por atletas radicais. Há idosos, pais e mães transportando crianças e muitos trabalhadores do pedal, com suas cargas pesadas. Ciclovias precisam ser seguras para todos os tipos de ciclistas.


No início de junho, depois de um período de afastamento, voltamos a circular pela ciclovia recém-implantada no eixo das avenidas Tiradentes, Santos Dumont e Praça Campo de Bagatelle, entre o Centro e a Zona Norte da Cidade. Evitamos a ciclovia da Av. Cruzeiro do Sul porque o trecho de travessia na ponte sobre o rio Tietê estava em obras, sem as barreiras laterais de proteção, como registrado em vários vídeos de feitos por ciclistas paulistanos.


Nas vistorias, notamos alguns problemas permanentes e encaminhamos as informações à Prefeitura de São Paulo. Após alguma insistência, recebemos hoje (25), por meio da Secretaria de Comunicação, os comentários da gestão municipal sobre as falhas detectadas.


1) Na praça Campo de Bagatelle, bairro de Santana, uma obra em edificação da própria Prefeitura tem gerado uma grande quantidade de resíduos de construção que se espalham pela pista de bicicletas e oferecem risco aos usuários. O problema é comum a vários canteiros de obras da cidade e já foi também comunicado ao Sinduscon/SP, que reúne as construtoras paulistas, ainda sem resposta. 

A Prefeitura de São Paulo respondeu que "a Secretaria Municipal das Subprefeituras executa diariamente a manutenção na área, de segunda a domingo e informou que no sábado (22) foi realizada uma lavagem na via. Infelizmente, embora os jardins da praça sejam muito bem mantidos, não é verdade que haja manutenção diária na ciclovia da Campo de Bagatelle, como mostram as fotos.



Ciclovia nas proximidades da praça Campo de Bagatelle,
em Santana, zona norte de SP: restos de areia,
terra e pedrisco eliminados por obra da gestão municipal
   

 

A Prefeitura também não enviou resposta sobre a "fenda" resultante do recapeamento asfáltico na rotatória da praça. O defeito, próximo à sarjeta, é uma verdadeira armadilha para as rodas de bicicletas, mas não foi corrigido pela construtora que realizou o recapeamento. Convém lembrar que a ciclovia da Campo de Bagatelle já havia sido implantada parcialmente em 2022, mas fora removida pelo programa de recapeamento da Prefeitura. Agora, completa, precisa de reparos, ajustes e de limpeza permanente.

 


Ponte das Bandeiras, sobre o rio Tietê:
obra inacabada e materiais de construção abandonados sobre a ciclovia


2) Outra obra, na Ponte das Bandeiras, poderia receber elogios, não fosse pelo estado de abandono em que foi deixada pela SPObras, responsável pelo contrato emergencial da reforma. Além disso, não concluiu a pintura da faixa ciclável no trecho de travessia da ponte. No cruzamento da ciclovia com a alça de acesso junto da ponte, a construtora não havia executado a obra de redução de velocidades (lombofaixa), o que dificultava a travessia de pedestres e ciclistas. Em resposta, a Prefeitura informou que a lombofaixa foi implantada no dia 4 de março, mas não respondeu em relação às outras falhas encontradas.



Av. Santos Dumont: desnível na pista


3) Na avenida Santos Dumont, em direção ao Centro, no trecho entre a Ponte Pequena e a rua dos Bandeirantes (ciclovia na ilha central) a ciclovia construída no final de 2023 apresenta imperfeições no pavimento, com caixas de inspeção sem as tampas de fechamento, o que pode provocar quedas. Na mensagem, sugerimos a colocação das tampas ou o fechamento com concreto leve. Por fim, no trecho próximo à praça Cel. Fernando Prestes, onde a ciclofaixa foi sinalizada sobre o passeio e é compartilhada com pedestres, a pintura de demarcação foi executada ignorando algumas falhas (pequenos buracos) existentes no pavimento.

Em resposta, a Prefeitura afirma que irá notificar a empresa responsável pela obra para que repare os problemas estruturais encontrados na ciclovia da avenida Santos Dumont. E acrescentou que após a realização dos reparos, a sinalização será refeita.

 

Por fim embora não estivesse entre os problemas levantados, a Prefeitura lembrou que "a praça Cel. Fernando Prestes passa por lavagem todas às terças, quintas e sábados"...e acrescentou informações sobre as varrições que são realizadas nas vias das imediações. 

 

As respostas falam por si e evidenciam a necessidade de um programa municipal permanente para a conservação de toda a infraestrutura cicloviária. E também das calçadas, pelo menos nos grandes corredores de pedestres.


[Em tempo: a Prefeitura de São Paulo havia informado que faria no dia 22/6 uma limpeza e lavagem na ciclovia da Praça Campo de Bagatelle. Hoje (28/6) recebemos a informação de que a sujeira permanece intocada...]


 

Discutida durante muitos anos, a ciclofaixa da rua Maria Cândida, na Vila Guilherme, começou a ser demarcada esta semana Foto: Regina Rocha/Mobilize Brasil

 

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