Skowa, o cantor de "Atropelamento e Fuga" nos deixou

Morreu ontem (13) o líder da banda Skowa e a Máfia, que tornou conhecida a canção "Atropelamento e Fuga". Para lembrá-lo, recuperamos artigo de Thatiana Murillo

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Fonte: Caminha Rio/Mobilize Brasil  |  Autor: Thatiana Murillo*  |  Postado em: 14 de junho de 2024

Skowa, nos tempos da

Skowa, nos tempos da Mafia e de "Atropelamento e Fuga"

créditos: Reprodução delirivmcordia

Marco Antônio Gonçalves dos Santos, o Skowa, se foi ontem, aos 68 anos. Não, não foi por atropelamento, embora ele sempre estivesse a pé, quando circulava pelas ruas da Vila Madalena, em São Paulo, cidade onde construiu sua carreira de músico, compositor, cantor e também ator.


Skowa atuou em uma série de formações musicais, como o Sossega Leão, Gang 90, Premê, além de ter trabalhado com Jorge Ben Jor, Itamar Assunção e na banda Skowa e a Máfia, onde era o cantor e band leader. Nos últimos anos integrava o lendário Trio Mocotó.


Atropelamento e Fuga foi composta  como um rock em 1987 por Alex Antunes e Akira S. Mas com a gravação de Skowa e a Máfia, a canção ganhou uma versão funkeada, que fez sucesso em todo o país.


Como homenagem, reciclamos este artigo da professora e ativista Thatiana Murillo, de 2021, que infelizmente continua muito atual.  Boa viagem Skowa...



Você dirige o automóvel / Eu lhe dirijo argumentos / Você digere alguns momentos / Mas cola seus olhos ao ponteiro / E cola o ponteiro ao vermelho / E cola o seu carro ao da frente / Você diz a verdade quando mente / Porque amplifica sua voz quando fala / Seu carro vai rápido como uma bala / Seu carro é irrefutável / Mas as vielas são inviáveis (…) 
Você dirige o automóvel / Mas eu dirijo seus tormentos /
A minha lógica pedestre / Vai ser seu atropelamento / Eu serei o responsável / Irresponsábilizável (…)

 

Foi no fim da década de 1980 que a banda Skowa e a Máfia ficou conhecida com o hit Atropelamento e Fuga. Reproduzo os versos que me parecem mais impactantes e que não saem da minha cabeça nestes últimos dias em razão dos vários “acidentes” que mataram ciclistas e pedestres em várias cidades do Brasil. Um dos últimos – infelizmente não o último – aconteceu no Rio de Janeiro, causado por um capitão do Corpo de Bombeiros supostamente embriagado.


Não sei se o músico Skowa sonhava com um trânsito mais seguro naquela época, mas o fato é que trinta anos depois, a crítica continua certeira para o grau da violência do trânsito nas ruas brasileiras. Estatísticas apontam 
cinco mortes por hora, a um custo de R$ 3 bilhões ao nosso Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos anos.

Apesar dos radares, da Operação Lei Seca e das campanhas educativas, é duro constatar que o trânsito ainda mata mais do que a violência urbana ou doenças cardíacas. Para sairmos desse ranking macabro, organizações da sociedade civil, departamentos de trânsito e parlamentares ligados ao assunto se movimentam para incluir a educação de trânsito nas escolas como conteúdo obrigatório no ensino fundamental.


Concordo com a iniciativa, mas não com sua obrigatoriedade. 
É jogar muita expectativa nos bancos escolares sem endurecer as penalidades que hoje são aplicadas para os infratores.

Acredito que as escolas deveriam ficar com outra função: ensinar o aluno a pensar a cidade na sua totalidade. Talvez, nesse processo de entender o porquê do desenho das nossas ruas, a mobilidade faça mais sentido de acordo com a realidade que cada um vive no seu território. É interessante que esse aprendizado seja prazeroso e oferecido através de projetos mais leves e mais descontraídos, sem o peso da avaliação ou da obrigação – que os alunos geralmente não suportam, sobretudo os adolescentes.


Uma formação de excelência para os condutores talvez fosse um investimento mais eficiente no sentido de deixar o trânsito civilizado. O motorista se faz no dia a dia dirigindo, o motociclista pilotando, o ciclista pedalando e o pedestre andando
. É na prática diária, no ir e vir, no espaço que a cidade nos oferece que construímos os nossos deslocamentos familiares com todas as delícias e amarguras que encontramos pelo caminho.


Se as cidades continuarem com o mar de rotas que convidam motores a acelerar e ao mesmo tempo 
empurram pedestres e ciclistas para os pedacinhos que sobram nos cantos das ruas, sinto muito, mas estaremos estagnados.


Skowa sintetizou a questão cantando os versos…

A minha lógica pedestre vai ser seu atropelamento, eu (pedestre) serei o responsável.”

 

*Thatiana Murillo
É professora, cofundadora da organização Caminha Rio


 



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