Pesquisa mostra relação entre poluição do ar e risco cardíaco

Pesquisadores da USP analisaram autópsias de 238 moradores em SP, e concluíram: quanto maior a exposição à poluição, maiores as chances de desenvolver fibrose cardíaca

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Fonte: Agência FAPESP/ Mobilize (edit.)  |  Autor: Emilio Sant'anna/ Agência FAPESP  |  Postado em: 25 de abril de 2024

Como fica o coração exposto ao carbono negro nas r

Como fica o coração exposto ao carbono negro nas ruas?

créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A relação entre viver em uma cidade poluída como São Paulo e doenças pulmonares ou câncer é bem conhecida. Os problemas, no entanto, vão além.

 

Uma pesquisa inédita, realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com apoio da FAPESP, e publicada na revista Environmental Research, aponta que a exposição de longo prazo à poluição atmosférica está diretamente ligada ao aumento dos riscos cardíacos em moradores da capital paulista. Para indivíduos hipertensos o perigo é maior.

 

Além de fornecer evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular, a pesquisa destaca estratégias públicas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal, como: implementação de medidas que reduzam as emissões de veículos; incentivo ao transporte público sustentável; e incentivo a fontes de energia limpa.

 

Carbono negro

O estudo mostra que a fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração, está relacionada ao tempo de exposição às partículas de carbono negro, um indicador de poluição atmosférica.

 

Para mensurar essa relação, os pesquisadores fizeram a análise das autópsias de 238 pessoas e de dados epidemiológicos. Eles também entrevistaram familiares das vítimas para recolher informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão. A partir da observação macroscópica do tecido pulmonar estabeleceram a presença e quantidade da fração de carbono negro nos pulmões. Amostras de miocárdio revelaram a fração de fibrose cardíaca.

 

Os resultados revelaram associação significativa entre a fração de carbono negro nos pulmões e a fibrose cardíaca nos indivíduos estudados. Isso significa que, quanto mais tempo uma pessoa é exposta à poluição, maior a probabilidade de desenvolver a fibrose. “Esse dado ressalta o papel crucial da autópsia na investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças", afirma um dos autores da pesquisa, o patologista e professor da USP Paulo Saldiva.

 

Além disso, foi constatado que o risco é aumentado para indivíduos hipertensos. Entre eles, a presença do marcador de doenças cardíacas cresce com o aumento da presença do indicador de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes. Entre os não hipertensos, os maiores riscos foram observados principalmente nos tabagistas.

 

A hipertensão, ou pressão alta, é uma doença que pode ser silenciosa e não apresentar sintomas. De acordo com o Ministério da Saúde, em dez anos a taxa de mortalidade passou de 11,8 óbitos para 100 mil habitantes, em 2011, para 18,7 em 2021. Cerca de 60% dos idosos que vivem no Brasil têm hipertensão.

 

Poluição

Se a hipertensão é silenciosa, a poluição nem sempre está tão à vista de todos. Em alguns casos, no entanto, é possível saber onde ela é mais prejudicial. A exposição à poluição dentro da mesma cidade depende de fatores como hábitos e deslocamentos das pessoas. 

 

“Podemos dizer que existem dois indicadores de poluição, um medido pela rede da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], que é objetivo. E outro relacionado a quanto cada indivíduo é exposto a ela”, afirma o patologista. “Ou seja, o nível de concentração de poluição ambiental não significa a mesma dose recebida por todos. Se você está em um corredor de tráfego por horas, recebe uma dose maior porque a concentração daquele ambiente é particularmente mais elevada.”

 

Saldiva explica que diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca e que, agora, fica provado que a poluição é um deles. “A pergunta era ‘a poluição tem tamanho suficiente para aparecer nessa foto?’ Ela tem e foi a primeira vez que foi demonstrado no mundo em humanos. Essa é a diferença do trabalho”, pontua.

 

Conclusões de estudo da USP sobre exposição à poluição do ar em SP Imagem: Reprodução 

 

Segundo o médico, o estudo só foi possível graças ao trabalho realizado pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) na cidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ele afirma que o apoio da Faculdade de Medicina da USP e da Fapesp, em convênios estabelecidos no passado com o SVO, construiu um vasto conjunto de processos e informações que resultam hoje em novas possibilidades científicas.

 

Clique aqui para ler o artigo 'Association of pulmonary black carbon accumulation with cardiac fibrosis in residents of Sao Paulo, Brazil'.

 

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