Os ganhos proporcionados pela adoção da Tarifa Zero vão muito além dos benefícios para os sistemas de transporte público. Estudo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) também constatou que há efeitos positivos externos para outros setores da economia.
Esses ganhos estão presentes na dinâmica social, econômica e urbana das cidades. Pelo menos é o que foi verificado em cinco das 25 cidades que foram analisadas no estudo sobre a adoção da Tarifa Zero universal - ou seja, quando não há nenhuma cobrança no transporte urbano de ônibus. Atualmente, 106 municípios do país oferecem a gratuidade diariamente. Juntos, eles reúnem mais de 5 milhões de habitantes.
Em São Caetano do Sul (SP), verificou-se uma queda no índice de remarcações de consultas médicas na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e a redução das filas de espera, no terminal de ônibus, para utilização dos automóveis que trabalham para plataformas de aplicativos. Em Paranaguá (PR), foi publicada uma redução do número de sinistros de trânsito em 40%, e um acréscimo de 30% das vendas realizadas no comércio na cidade onde vivem 146 mil pessoas.
O aquecimento do setor econômico local também aconteceu em Caucaia (CE), segundo a NTU. O município de 356 mil habitantes credita à Tarifa Zero um aumento de 25% no faturamento do comércio e do setor de serviços, com acréscimo de 25% na arrecadação do município.
Em Ituiutaba (MG), a adoção da tarifa zero trouxe um impacto positivo na geração de empregos, além da redução dos tempos de viagem. Em Maricá (RJ), a renda familiar foi menos comprometida em aproximadamente 20%, conforme levantamento da empresa pública de transporte.
Empregos, comércio e impostos (Fonte: Relatório da NTU)
Mais passageiros
O estudo da NTU revelou uma recuperação no número de passageiros transportados nas localidades com Tarifa Zero. O levantamento constatou que em todos os municípios pesquisados houve uma elevação significativa na demanda por viagens de ônibus, de 33% a até 371%.
O melhor exemplo é a cidade de Caucaia (CE), que adotou a Tarifa Zero em 2021, e em dois anos constatou que o número de passageiros havia saltado de 510 mil para 2,4 milhões por mês. Luziânia (GO) teve elevação de 202% no número de passageiros entre outubro e dezembro de 2023: eram 4,3 mil por dia, mas o número subiu para 13 mil pessoas por dia em apenas dois meses.
Conforme o estudo, a gratuidade vem sendo adotada principalmente em cidades pequenas: 71% das localidades que praticam a Tarifa Zero no transporte têm menos de 50 mil habitantes. No total, 124 municípios adotaram essa política, mas somente 106 deles de forma universal, em todas as linhas e em todos os dias da semana.
Além de revelar o aumento na demanda, a pesquisa também aponta para a necessidade de expansão na oferta de ônibus. Sete cidades apresentaram um crescimento na quantidade de passageiros maior que o aumento da quantidade de ônibus e viagens ofertadas, ou seja, demonstrando uma possível mudança no perfil das viagens e um aumento na produtividade da rede de transporte.
"Esse aumento da demanda precisa ser considerado pela prefeitura que planeja adotar a Tarifa Zero. Não basta cobrir o custo atual; é preciso avaliar a necessidade de aumento da frota e definir fontes permanentes de recursos, para que a gratuidade tenha sustentação”, pontuou Francisco Christovam, diretor executivo da NTU.
Leia o relatório:
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