Debate denuncia precarização do transporte público no Grande Recife

Temas como bilhete único, climatização da frota, subsídio, manutenção de ônibus foram discutidos em audiência sobre transporte público da RMR nesta segunda (4)

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Fonte: Alepe  |  Autor: Alepe/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 05 de março de 2024

Para o governo Bilhete Único beneficiará 90% dos p

Para o governo Bilhete Único beneficiará 90% dos passageiros

créditos: Divulgação

Uma audiência pública realizada na capital pernambucana nesta segunda-feira (4) pela Comissão de Defesa do Consumidor debateu o transporte coletivo na Região Metropolitana do Recife (RMR). No centro da discussão, a recente implantação do bilhete único no Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife. 

 

A medida está valendo desde o último domingo (3), e extinguiu o Anel B, reduzindo a tarifa de R$ 5,60 para R$ 4,10. No entanto, a diminuição ocorre em um cenário de queda de receita e problemas de manutenção da infraestrutura do sistema. 

 

O encontro na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) reuniu representações de passageiros, profissionais do setor e do Grande Recife Consórcio de Transporte, órgão gestor do transporte público na RMR. Este último órgão é vinculado ao governo do estado, através da Secretaria Estadual de Mobilidade e Infraestrutura. 

 

Debate reuniu usuários e gestores do sistema de transporte metropolitano Foto: Nando Chiappetta

 

Queda na demanda

Representante do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), Bernardo Braga, apontou a forte queda na demanda. De acordo com ele, o número de passageiros dos ônibus caiu praticamente pela metade entre 2013 e 2023.

 

Em relação a 2022, a redução no último ano foi de 6%. “É preciso adotar um modelo de custeio adequado, que não dependa da arrecadação tarifária”, analisou.

 

Especialista em mobilidade urbana, o professor da UFPE Maurício Pina expôs um diagnóstico sobre a atual situação do transporte metropolitano: “Além da má qualidade do serviço, questões como desemprego, aplicativos de transportes e a facilidade para compra de motocicletas são algumas causas da redução da demanda”, observou. “O sistema precisa ser atrativo para conseguir mais passageiros”, afirmou o professor.

 

Manutenção dos ônibus

Queixas estruturais, apresentadas por muitos participantes, marcaram a audiência. A necessidade de climatização dos ônibus foi um dos pontos mais debatidos. 

 

O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, Aldo Lima, descreveu as condições de quem utiliza o sistema de transporte público na RMR: “O trabalhador do setor e o usuário sentem na pele o que é estar no coletivo lotado, numa temperatura de quase 40 graus, muitas vezes por mais de uma hora. No caso dos profissionais, pode chegar a doze horas”, relatou. 

 

“A climatização não chega a 15% da frota”, afirmou o presidente da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), João Mamede.

 

A Lei nº 16.787/2019, que estabelecia condições para a renovação da frota entre 2020 e 2023, foi lembrada em vários momentos. Segundo a norma, 70% dos veículos novos deveriam ser equipados com ar-condicionado. 

 

O coordenador da Frente de Luta pelo Transporte Público, Pedro Josephi, questionou o texto: “A lei diz que só vai haver renovação de frota se houver aumento de tarifa. Nós comemoramos essa medida na época, mas na prática ela impede a troca dos veículos”, avaliou.

 

A falta de acessibilidade também foi destacada na reunião, pelo presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, Paulo Fernando: “Além da acessibilidade nas paradas e estações de BRTs, muitas plataformas elevatórias não funcionam, não têm manutenção”, pontuou.

 

O investimento no metrô do Recife foi outra questão levantada para melhorar a mobilidade na RMR. O presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Luiz Soares, denunciou o estado do sistema: “Desde 2017 há um sucateamento. O metrô só funciona por causa dos trabalhadores. Se não fosse a categoria, ele já teria parado ou teria acontecido uma tragédia”, lamentou.

 

Sustentabilidade financeira

O deputado Diogo Moraes(PSB) representou a Assembleia Legislativa na última reunião do Conselho Superior de Transporte Metropolitano, que sacramentou a implantação do bilhete único. Ele comunicou que deu entrada em um pedido de informação para sanar dúvidas sobre o impacto orçamentário da nova tarifa.

 

“Há um déficit claro de quase R$ 170 milhões. Está previsto um aporte de R$ 311 milhões, mas a lei orçamentária só prevê R$ 173 milhões”, frisou. “Existe uma preocupação com o corte de frota e de linhas. Ganha-se de um lado, com o bilhete único, mas há o risco de perder por outro”, completou o parlamentar.

 

O diretor-presidente do Grande Recife Consórcio de Transporte, Matheus Freitas, afirmou que a implantação do bilhete único demonstra sensibilidade do governo com as questões relacionadas ao transporte público. 

 

Melhoria do sistema

“Temos ciência da necessidade urgente de melhorar a percepção da população sobre o sistema e estamos continuamente trabalhando nisso. Assim como o bilhete único, outras ações serão implementadas”, ressaltou.

 

O secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura, Diogo Bezerra, informou que em 2023 entraram em circulação 80 novos ônibus, a maioria climatizados. O gestor ainda sugeriu que os deputados estaduais destinem emendas ao orçamento do estado para a renovação da frota. 

 

“A Casa poderia aportar emendas para a compra de veículos, e isso ajudaria a melhorar o sistema e reduziria custos. Esse tipo de parceria é fundamental”, disse o secretário. Ele também afirmou  que a redução no custo para o passageiro, com o bilhete único, torna o sistema mais atrativo, o que aumentaria a arrecadação.

 

O deputado Sileno Guedes (PSB), que presidiu a audiência, reiterou a importância das emendas parlamentares: “Quando a Alepe for discutir a peça orçamentária, o governo pode trazer essa sugestão e mobilizar a bancada”, frisou. O deputado reforçou, ainda, o questionamento sobre o subsídio para cobrir a redução de receitas que deve ser ocasionada pelo bilhete único. 

 

“Ainda não há manifestação do Executivo via projeto de lei para autorizar esse subsídio, e sem essa previsão a qualidade do serviço pode cair ainda mais do que constatamos neste encontro”, considerou o deputado.

 

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