Desde 21 de dezembro de 2023, a população de Montpellier pode utilizar gratuitamente os meios de transporte públicos locais. Assim, a cidade no sul da França uniu-se a mais 50 outras pelo mundo*, entre as quais Dunquerque, no norte do país, e Talinn, na Estônia. Com seus 500 mil habitantes, Montpellier é a maior metrópole europeia da lista, e muitos de seus cidadãos estão felizes com a medida. Mas não todos.
Metrópole da França orgulha-se da medida adotada em dezembro de 2023 Foto: Prefeitura de Montpellier
Rayene Chabbi, de 31 anos, está aliviada de não ter mais que usar o carro dos pais para cobrir os sete quilômetros até seu trabalho, mas também de economizar os 50 euros mensais que custava o vale-transporte. "Afinal, eu só ganho 1.950 euros por mês. Com a minha irmã é parecido, antes ela nunca usava os meios públicos."
Chabbi agora chega em meia hora ao bairro de Castelnau-le-Lez: "De carro, eu teria precisado de mais dez minutos e certamente ficado presa no engarrafamento, o que sempre me estressa completamente. Além disso, é melhor para o meio ambiente."
A empresa para que ela trabalha, Simax, cofinancia a gratuidade dos transportes, juntamente com 2.500 outras de Montpellier. Através de um imposto de 2% sobre os salários, arrecadam-se cerca de 30 milhões de euros.
A fundadora da firma, Miren Lafourcade, apoia a iniciativa: "Viemos para cá cinco anos atrás, pois estamos bem do lado de um ponto de bonde. Antes era muito complicado chegar ao trabalho com o transporte público. É ótimo que os impostos que a gente paga estejam finalmente sendo empregados em algo que faz sentido."
Julie Frêche (ao centro), ao anunciar a tarifa zero em 2023 Foto: Reprodução
Política ambiental
Tal abordagem agrada a Julie Frêche, vice-presidente de Montpellier Méditerranée Métropole [Região Metropolitana que abrange 31 municípios] e responsável pelo setor de Transportes e Mobilidade Ativa da cidade: "Queremos fazer política ambiental positiva. Graças aos meios de transporte gratuitos, os moradores dispõem de mais renda. Além disso estamos fazendo algo pela qualidade do ar."
A cidade, cujas temperaturas chegam a 50 graus centígrados no verão, está se preparando para dias mais quentes, e planeja plantar 50 mil árvores até 2026 e aumentar as áreas verdes. "Além disso estamos criando 235 km adicionais de ciclovias, acrescentando cinco linhas de ônibus às 41 existentes e construindo uma quinta linha de bondes", anuncia Frêche.
Mas nem todos estão satisfeitos com a situação dos transportes em locais menos centrais de Montpellier. A perspectiva é que a nova linha de bondes venha a ligar também o subúrbio de Saint-Jean-de-Vedas, onde no momento só há uma única parada. Mas enquanto isso, Hugo Daillan, que trabalha nesse município, se queixa: "O bonde só vem a cada 15 minutos, inclusive agora, no fim da jornada de trabalho. Por isso muitos ainda andam de carro aqui."
Daillan tem 28 anos, mora no centro e é membro da associação local de usuários dos transportes públicos. E critica: "Se a gente considera que a cidade se expande cada vez mais, os transportes grátis só servem aos moradores do centro, mas não aos dos arredores. A medida 'gratuita' vem em detrimento de um melhor sistema de transportes. Eles deviam investir esse dinheiro na expansão da rede."
Alexandre Brun, docente de geografia da Universidade Paul Valéry, concorda com ele: "Seria preciso também ligar melhor os subúrbios entre si; no momento muitas vezes é preciso fazer um desvio pelo centro", diz.
Apesar das ressalvas, outros moradores seguem entusiasmados com a gratuidade nos transportes. É o caso do economista Fady Hamadé, o diretor do Instituto de Recursos Ambientais e Desenvolvimento Durável, sediado na metrópole.
"Como todos os serviços públicos, também essa é uma medida de distribuição de renda. E há também efeitos externos positivos: produz-se menos dióxido de carbono e poluição atmosférica. Além disso, vê-se que agora mais gente vem ao centro, também dos grupos populacionais mais pobres. Muitas lojas novas já abriram na zona de pedestres", destaca Hamadé.
*Obs. do Mobilize: O dado refere-se a países europeus; no Brasil, a tarifa zero já é adotada em mais de 100 cidades
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