Já está circulando a terceira edição da Revista Urbanidade, publicação periódica da Rede Urbanidade, do Distrito Federal. O lançamento, no dia 25 de janeiro, contou com a participação de especialistas, ativistas e representantes do poder público, que debateram aspectos do tema central da publicação: o andar a pé no Distrito Federal. A publicação é uma iniciativa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
O evento de lançamento contou com a presença do professor Peter D. Norton, da Universidade da Virgínia, autor dos livros Fighting Traffic e AutoNoRama, recém-traduzido para o português. Norton é estudioso da carrodependência e apresentou um histórico do fenômeno, que se espalhou dos Estados Unidos para o mundo. “A dependência dos veículos motorizados não começou por desejo da maioria, mas por pressões políticas e econômicas. Desde sempre as comunidades resistem a ela”, enfatizou o historiador.
A abertura do encontro foi feita pelo promotor de justiça Dênio Augusto de Oliveira Moura, coordenador da Rede Urbanidade. Ele lembrou que o respeito ao pedestre envolve diversos direitos fundamentais, como igualdade, proteção ao meio ambiente e saúde. “Ao protegermos o pedestre e a pessoa com deficiência, atingimos, direta ou indiretamente, toda a sociedade”, afirmou.
Uirá Lourenço, criador do blog Brasília para Pessoas e colaborador do Mobilize Brasil, tratou das travessias no Distrito Federal sob a perspectiva de pedestres e ciclistas, e apresentou exemplos práticos das dificuldades encontradas. “As soluções para esses desafios passam pela redução de velocidade, redesenho das vias e ações permanentes de educação e de fiscalização”, argumentou o ativista.
Bruno Batista, da equipe de mobilidade urbana do WRI Brasil, discutiu o conceito de “ruas completas”, que surgiu como uma reação à carrodependência. A ideia é distribuir o espaço urbano de maneira mais democrática, em resposta ao contexto local, para dar segurança e conforto a todas as pessoas. “No Brasil, o WRI tem apresentado as ruas completas como uma forma de trabalhar outros conceitos importantes, como redução de mortes no trânsito e incentivo ao transporte público”, explicou o especialista.
Wilde Cardoso, coordenador da Associação Andar a Pé, apresentou o histórico da implantação das faixas de pedestre no Distrito Federal e a mudança de cultura trazida por esses equipamentos públicos a partir da década de 1990. “Precisamos continuar a sonhar e a agir juntos, governo, sociedade civil e mídia, para que o respeito à faixa não arrefeça e para que possamos construir uma cidade melhor para todos”, avaliou. Ele propôs que o respeito às faixas de pedestre — orgulho de todos os brasilienses — seja formalmente reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Distrito Federal.
O professor Benny Schvarsberg e a economista Magda Sifuentes refletiram sobre as “linhas de desejo”, que são formadas a partir do uso espontâneo que os pedestres fazem do espaço urbano. Os autores destacaram que a origem desse fenômeno está na falta de calçadas e outros espaços para pedestres e é exacerbado pela priorização do automóvel. “Em todo o mundo, as medidas de estímulo ao transporte público andaram juntas com aquelas para coibir o uso abusivo de carros particulares, a partir de crises estruturais profundas”, explicou o professor.
Magda Sifuentes destacou sua experiência como prefeita de quadra na identificação das necessidades de mobilidade da população. “Soluções simples fazem grande diferença na qualidade de vida de idosos, crianças e pessoas com deficiência”, observou.
Veja o vídeo do lançamento
Conheça as três edições da Revista Urbanidade
O que é a Rede Urbanidade
A Rede de Promoção da Mobilidade Sustentável e do Transporte Coletivo foi criada em novembro de 2019, é uma iniciativa da Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) em parceria com estudiosos e representantes de associações e entidades que se dedicam à causa da mobilidade. O grupo tem como objetivo assegurar a participação efetiva da sociedade na elaboração, na implementação e na fiscalização da política local de mobilidade urbana. Além disso, pretende ser um espaço democrático de articulação, discussão e busca de soluções para os desafios existentes nessa área, na perspectiva do desenvolvimento sustentável.
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