Vamos descansar um pouco. Estamos parando nesta sexta-feira (22) e voltamos no dia 10 de janeiro. Seguiremos pressionando por mais transportes públicos, elétricos, sem ruído ou fumaça, mais bicicletas e espaços para caminhar, praças e jardins. E de presente queremos cidades mais humanas…
Estamos terminando este 12º ano de atividades do Mobilize Brasil com aquela sensação de quem está em meio a uma longa caminhada. Olhamos para trás e lembramos dos obstáculos enfrentados, dos milhares de passos, tropeços, tombos e saltos que arriscamos para conseguir avançar. E quando miramos à frente, vemos o horizonte distante, com novos desafios, encontros, surpresas e conquistas que virão.
Um breve balanço:
De um lado, vemos a consolidação da política de Tarifa Zero em quase cem cidades do país, uma solução que tem sido adotada para driblar a crise que inviabilizou o transporte público em inúmeras localidades brasileiras, nesta semana em Capão Bonito, cidade com 96 mil habitantes na região sudoeste do estado de São Paulo. Essa gratuidade começa a ser ensaiada também nas grandes cidades, a exemplo de São Paulo, que está oferecendo ônibus com passe livre aos domingos. É um experimento, ainda sem uma avaliação dos resultados, mas já se sabe que no primeiro dia de tarifa zero houve um aumento de 35% no número de passageiros, o que é um indicativo de uma enorme demanda reprimida.
Mas, não basta oferecer a gratuidade sem que a qualidade dos transportes seja incrementada com mais pontualidade, segurança e conforto necessários. E tudo isso tem custo. Talvez a resposta para viabilizar esse transporte acessível com a mais alta qualidade esteja sendo "costurada" no projeto do Sistema Único de Mobilidade, a PEC 25/2023, uma política nacional que poderia estabeler padrões, fontes de recursos e modelos de gerenciamento para todas as formas de transporte urbano, dos trens urbanos às calçadas, incluindo metrôs, barcas, elevadores públicos, teleféricos e, claro, ônibus. E integrar toda essa rede.
Enquanto isso, vimos a entrada em cena de milhares de veículos elétricos, incluindo algumas centenas de ônibus e carros de aplicativos, que já circulam silenciosamente nas ruas de algumas cidades. Assistimos também ao crescimento da frota de bikes compartilhadas, que cumprem um papel importante para as viagens mais curtas, na chamada última milha.
Porém, basta pôr os pés nas ruas para notar que ainda há muito a fazer e conquistar. As cidades, especialmente as grandes metrópoles, continuam a ser ambientes agressivos, inseguros, sujos, com trânsito pesado, ruidoso e fumarento, condições que afastam as pessoas para dentro de suas carcaças metálicas sobre rodas.
A rede cicloviária nacional, duramente conquistada, passa por um momento de estagnação, com raros e tímidos projetos de expansão, muitos deles de caráter quase simbólico. Um bom sinal talvez seja a prometida reinauguração da Ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, após o desabamento em 2016 e uma série de outros problemas apresentados pela estrutura. Outro bom sinal é a política de estímulo ao ciclista adotada na cidade de Niterói (RJ) e a recente inauguração da Ciclovia da Vida na Terceira Ponte de Vitória (ES).
O elo mais fraco e apodrecido da cadeia de mobilidade, infelizmente, continua sendo a infraestrutura para pedestres e pessoas com deficiência. É lamentável que as prefeituras fujam da responsabilidade de conservar calçadas e também se eximam de fiscalizar, orientar e punir os donos de imóveis que não façam a manutenção dessas “avenidas de caminhar”. Além dos passeios, há o problema da sinalização, que sempre prioriza o tráfego motorizado. E faltam árvores para sombra, ou pequenas praças para o descanso do caminhante. Cuidar do pedestre é barato, simples, fácil e ajuda na melhoria do ambiente urbano e no controle das mudanças climáticas.
Cortejo ciclístico de "Santa Claus" em Milwaukee (EUA) Foto On Milwaukee
Se Papai Noel ou os Reis Magos realmente existissem, nosso pedido neste Natal seria um milagre que refizesse as cidades, com grandes áreas verdes, calçadas largas, ciclovias bem construídas, corredores de ônibus e muitos trilhos urbanos entre bondes, trens e metrôs.
E vamos para 2024!
Neste ano vamos reativar a seção Acompanhe a Mobilidade e acionar a atividade #UmaRuaPorDia, com fotos diárias de ruas brasileiras. Aguardem e participem.
Abraços a tod@s!
Equipe Mobilize Brasil
E agora, que tal apoiar o Mobilize Brasil?