Todo mundo já sabe, mas não custa lembrar que hoje, 22 de setembro, é o Dia Mundial Sem Carro. É uma data simbólica, nascida nos anos 1990, mas que tem suas origens na Guerra do Suez, em 1956, como explica o jornalista Du Dias em um interessante artigo.
A data foi oficializada internacionalmente no ano 2000, quando já eram muito bem conhecidos os problemas gerados pelo excesso de automóveis das cidades: eles consomem muito espaço, são ruidosos, têm baixa eficiência e matam milhares de pessoas todos os anos. Além disso, usam combustíveis fósseis e emitem gases de efeito estufa (GEE), esses que estão abafando a atmosfera e provocando as mudanças no clima do planeta, com as catástrofes que infelizmente se repetem, como já previam os cientistas em 1990.
Hoje, em 2023, conforme dados da indústria, o mundo conta com mais de 1.490.000.000 de veículos motorizados, dos quais 1,11 bilhão são automóveis. No momento os fabricantes de veículos apostam suas fichas na eletrificação e em combustíveis alternativos, mas, a maioria (98%) ainda circula com motores a combustão, que queimam gasolina e diesel.
Supondo uma rápida (e pouco provável) troca de carros por veículos elétricos, a indústria estaria resolvendo o problema da poluição do ar e dos câmbios climáticos, mas continuaríamos a ter congestionamentos, enormes áreas de estacionamento, sinistros de trânsito, neuroses, obesidades, problemas cardíacos e outros malefícios conhecidos por motoristas e também pelos pedestres e ciclistas acuados nas ruas do mundo.
Desta forma, a chamada "transição elétrica" oferece uma oportunidade para o estímulo à melhoria do transporte público, com trens, metrôs, bondes, ônibus, barcas, a maior parte elétrica ou movida por combustíveis renováveis. Como todos sabemos, o transporte coletivo traz uma série de ganhos para a sociedade, inclusive de sociabilização das pessoas, cada vez mais fechadas em suas bolhas de metal e vidro.
Dados divulgados hoje pela Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) indicam que mesmo com a modesta rede férrea disponível nas cidades brasileiras, em 2022, o sistema retornou à sociedade brasileira mais de R$ 30 bilhões, em termos sociais, econômicos e de qualidade de vida:
4Redução de 1,3 bilhão de horas nos deslocamentos;
4Economia de R$ 379 milhões em custos com acidentes;
4Economia de 1 bilhão de litros de combustível fóssil;
4Economia de R$ 10 bilhões com a retirada de ônibus e carros das ruas;
4Redução de 2,1 milhões de toneladas de poluentes na atmosfera.
Pedestres fora dos planos?
Nas últimas semanas o governo federal começou a delinear políticas para apoiar e estimular a mobilidade nas cidades. Há planos para trens, metrôs, ônibus e outros modos de transportes, incluindo a bicicleta, ainda vista com certa desconfiança pelos técnicos de transportes, apesar de sua comprovada eficiência.
No entanto, pouco se falou sobre a mobilidade a pé, que continua à míngua, completamente marginalizada. Calçadas, faixas de travessia, semáforos de pedestres seguem sem cuidados básicos, impedindo o caminhar ou a circulação com cadeiras de rodas.
Pequenos trajetos, de dois ou três quilômetros, poderiam ser feitos confortavelmente a pé desde que as cidades oferecessem calçadas dignas, travessias seguras e alguma cobertura vegetal para aplacar o calor, que vai aumentar, de forma implacável, como exposto acima.
Mais árvores, mais solo permeável, boas calçadas e pequenas praças para descanso fariam milagres na mobilidade urbana e na vida futura das pessoas. E custariam bem menos do que pistas, túneis e viadutos...
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