Incêndios de patinetes e bicicletas movidos a eletricidade causaram oito mortes e pelo menos 190 feridos no Reino Unido desde 2020, e são apontados como a causa de pelo menos seis incêndios por semana, de acordo com ativistas de segurança. Na mais recente tragédia no Reino Unido, envolvendo esse artefato, uma mulher de 44 anos morreu ao colocar a bicicleta para recarregar no quarto, antes de dormir. Três minutos após conectar o aparelho à rede elétrica, uma explosão rapidamente incendiou o cômodo da casa onde estava Rebecca Downes e o marido, Patrick Ramsey. Encurralados pelo fogo, tiveram que pular da janela, e Rebecca, mãe de quatro filhos, não resistiu aos ferimentos. As informações são do jornal Daily Mail.
Em junho passado, quatro pessoas morreram como consequência de um incêndio em uma oficina de bicicletas elétricas em Nova York. Além dos quatro mortos, outras seis pessoas ficaram gravemente feridas, segundo informações da chefe do bombeiros de Nova York, Laura Kanavagh. No dia seguinte à tragédia, ela explicou que havia indícios claros de que o incêndio fora gerado pelo acúmulo de baterias de lítio e bicicletas elétricas na oficina. Em julho, o New York Times publicou uma reportagem com dados assustadores sobre a quantidade de incêndios envolvendo bicicletas elétricas na cidade de Nova York. Desde o início do ano, 108 incêndios já foram registrados e 13 pessoas morreram, incluindo uma criança de apenas oito anos de idade.
De acordo com a organização britânica Electrical Safety First, uma bateria de bicicleta elétrica, totalmente carregada, pode liberar uma grande quantidade de energia explosiva e por isso, a ONG está realizando uma campanha para que baterias de bicicletas e patinetes elétricos tenham regulamentos de segurança similares aos de fogos de artifício. A meta é que os fabricantes desses veículos sejam obrigados a aprovar as baterias em ensaios realizados em laboratórios credenciados. O problema envolve também a segurança dos carros elétricos: na semana passada, um navio de carga sofreu um incêndio provocado pela ignição das baterias de um dos carros que estava sendo transportado. O acidente matou um tripulante e obrigou a tripulação a pular no mar, conforme informação da agência O Globo.
Site da Electrical Safety First, com destaque para o problema das baterias Imagem: Reprodução
Para entender como esse problema pode afetar os brasileiros que circulam com bikes e patinetes elétricos, o Mobilize entrevistou Daniel Guth, executivo da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), e também procurou respostas com a operadora de bicicletas compartilhadas Tembici.
Daniel Guth explicou que a Aliança Bike está acompanhando com atenção as notícias sobre incêndios e explosões provocados pelas baterias de lítio, mas lembrou que os acidentes registrados no Brasil ainda são raros e esporádicos, talvez pela ainda pequena frota de bikes elétricas no país. Ele lembra que o país ainda não conta com nenhuma regulamentação ou certificação baseada em testes e ensaios. Internacionalmente, a norma de segurança para e-bikes é a ISO/TS 4210-10:2020, enquanto na Europa, todas as bicicletas elétricas devem atender à norma de segurança EN 15194:2017.
"Nós trabalhamos durante algum tempo em conjunto com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para incorporar ou adaptar a norma internacional ISO às condições locais, mas essa atividade não avançou, talvez porque o tema ainda não seja tão prioritário para a sociedade e para os governos. Por outro lado, sabemos que essa regulação poderá levar ao encarecimento e restringir o acesso aos produtos. Mas a questão já está no radar da Aliança Bike e nós acreditamos que nos próximos quatro ou cinco anos o país terá que adota alguma norma que discipline esse mercado", prevê Guth.
"Como é um mercado pequeno - foram somente 44 mil bicicletas elétricas vendidas em 2022, o que corresponde a 1,5% do mercado total de bicicletas - as empresas conseguem acompanhar as vendas, e ter um contato muito próximo com os clientes, e assim monitorar as condições de uso, e de manutenção dessa baterias", avalia o executivo da Aliança Bike. E como o mercado é relativamente pequeno, Daniel Guth avalia que ainda existem "poucos aventureiros na área de bicicleta elétricas, muito menos do que nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia".
Ele lembrou que o Brasil já tem uma regulamentação para o descarte de resíduos, mas ressalvou que como as baterias de lítio são consideradas materiais perigosos, as empresas da associação procuram orientar sobre as normas e procedimentos corretos para o descarte, reutilização em instalações estacionárias, ou reciclagem.
Recomendações de segurança
Daniel Guth sugere alguns cuidados para evitar acidientes:
+ Comprar as bicicletas ou baterias somente de fornecedores conhecidos, que ofereçam boa assistência no pós-venda;
+ Evitar bicicletas, patinetes ou baterias usadas, sem conhecer a origem e os cuidados adotados pelos donos anteriores;
+ Seguir estritamente as orientações dos fabricantes para a recarga das baterias e usar somente os carregadores de fábrica, sem adaptações;
+ Fazer o carregamento em local adequado, com acompanhamento permanente, e longe de fontes de calor;
+ Guardar a bicicleta em locais adequados, longe de fogões, exaustores, onde haja materiais combustíveis;
+ Em caso de queda ou choques, inspecionar a bateria para verificar sua integridade, se não há frestas ou furos; na dúvida, procurar uma assistência técnica;
+ Manter a bicicleta em bom estado, com manutenção adequada.
Bikes elétricas compartilhadas
A operadora Tembici, que tem milhares de bikes elétricas para compartilhamento, foi consultada pela equipe do Mobilize Brasil sobre os problemas de segurança com as baterias e as possíveis implicações para usuários das bicicletas compartilhadas. A empresa respondeu por meio de nota, que as bikes elétricas do sistema foram desenvolvidas especificamente para sistemas de compartilhamento:
"As bateria têm capacidade autonomia de até 60 km e por serem específicas para uso compartilhado possuem componentes que já consideram maior utilização", afirma a nota, sem explicar detalhes do sistema de segurança. "Atualmente, as nossas bicicletas elétricas estão presentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Bogotá, que contam com uma tecnologia que proporciona a experiência de pedalar os mesmos modelos de sistemas de Londres, Chicago Nova Iorque, Dubai e Barcelona, e isso influencia diretamente na segurança e conforto de quem pedala", completa o texto enviado pela Tembici.
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