Projeto empresta bicicletas a ribeirinhos do Pará

Ação do coletivo Pará Ciclo atende moradores que gastavam até R$ 30 para circular na ilha de Cotijuba com motos; ideia é triplicar número dos equipamentos

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: Luciana Cavalcante  |  Postado em: 07 de julho de 2023

Moradora usa bike do projeto Trilha Dourada, em Co

Moradora usa bike do projeto Trilha Dourada, em Cotijuba-PA

créditos: Divulgação

Moradores sem meio de transporte na ilha de Cotijuba, em Belém, ganharam uma ajuda valiosa. O projeto Bicicletas Douradas empresta as bikes para uso por algumas horas na ilha da cidade do Pará.

 

As bicicletas foram pintadas de dourado em referência ao nome do local, que significa "trilha dourada" em tupi-guarani. São nove exemplares até o momento, mas a ideia é expandir o projeto em Cotijuba, que tem cerca de 9 mil habitantes.

 

Campanha de doação

Elas foram obtidas em dezembro do ano passado em campanha de doação com o Coletivo Pará Ciclo, organização não governamental parceira do projeto. A Ong também faz manutenção, revisão e troca de peças. Além da Ong, o projeto conta ainda com a parceria do Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB), Fundação Escola Bosque (Funbosque) e Prefeitura de Belém. 

 

Crianças da ilha acompanham o início do projeto em dez. 2022. Foto: Pará Ciclo/Divulgação

 

A ideia é triplicar o número desses veículos até o final do ano, por meio de campanhas de doação. Cada morador pode usá-las por até duas horas, sem pagar nada.

 

A ação auxilia ribeirinhos que não têm motocicletas, o meio mais usado, ou que não podem pagar pelo bondinho que circula em Cotijuba.

 

Moradores

Um dos beneficiados foi o músico José Monteiro, de 64 anos, morador da comunidade Pedra Branca, distante cerca de 12 km do centro: "Antes pedia carona para vizinhos porque o transporte aqui é muito caro. Gastava até R$ 120 por semana. Isso quando eles querem levar, porque quando chove a estrada fica só lama", conta.

 

Para ele, as bicicletas também ajudaram a driblar o problema da erosão, que impossibilita o tráfego de veículos pela principal estrada: "A gente consegue passar onde os carros não passam. Esse tem sido meu principal transporte desde que o projeto começou", diz o músico. 

 

 

Grupo celebra o início do projeto de bikes compartilhadas gratuitas em Cotijuba. Foto: Divulgação

 

Para a gestora ambiental Josiane Mattos, de 39 anos, que atua com reflorestamento de áreas degradadas, as bicicletas douradas ajudam no trabalho com o plantio de espécies nativas mapeadas por ela. "Antes a gente pagava até R$ 30 para ir de motoret [motocicletas com carroceria acoplada]. Ela [bicicleta] foi o meio que encontrei para baratear o transporte e seguir atuando no reflorestamento dentro da ilha", diz Josiane, que espera pela ampliação no número de bicicletas.

 

Idealizador do projeto, o professor de escola pública Murilo Rodrigues queria uma alternativa de transporte sustentável e economicamente viável para a comunidade. "Como as distâncias são longas e o transporte por moto é caro, criamos uma alternativa para atender quem não pode pagar por ele", diz.

 

Bondinho e motos

Cotijuba é uma das 42 ilhas que integram Belém e pertence ao distrito de Outeiro, a 27,5 km da capital. Destino turístico por suas belezas naturais, é acessado apenas por barco, da prefeitura ou particular.

 

Por lei, só é permitido o tráfego de veículos motorizados para serviços essenciais. O transporte de passageiros é feito pelo bondinho da prefeitura.

 

Moradores podem usar motos e motorets de forma particular ou para escoamento da produção agrícola, mediante comprovação de domicílio. 

 

Na prática, segundo o professor Rodrigues, proliferam mototaxistas irregulares, que colocam a vida dos moradores em risco. "As motos dominam a ilha. O problema não é a moto em si, porque facilita o transporte para longas distâncias, mas a banalização, o uso indiscriminado para distâncias curtas e condutores não habilitados", diz.

 

Outro problema era o risco de acidentes e também o alto custo do transporte na ilha. "Descobri que a maioria dos alunos já havia se envolvido em sinistros e que moradores de lugares mais distantes tinham que pagar até R$ 40 para ir à escola ou posto de saúde", conta o professor.

 

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