Revisão do plano diretor pode levar SP ao caos

Ante a ameaça dessa onda espalhar-se para outras cidades, reproduzimos o artigo de Caio Guatelli, publicado na coluna Ciclocosmo, da Folha de S.Paulo

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Fonte: Ciclocosmo  |  Autor: Caio Guatelli / Ciclocosmo  |  Postado em: 19 de junho de 2023

Verticalização em São Paulo: qual é o limite?

Verticalização em São Paulo: qual é o limite?

créditos: Diogo Moreira / Governo do Estado de São Paulo

Um intensa e agressiva onda imobiliária vem transformando radicalmente a paisagem urbana na cidade de São Paulo. Edifícios altos, cada vez mais altos, "brotam" em terrenos antes ocupados por casas e sobrados, transformando completamente os bairros e as relações de vizinhança. 
 
O processo não é novo - já ocorreu décadas atrás em alguns bairros - mas desta vez tem o potencial de inviabilizar a vida na capital paulista, aqui incluindo itens como saneamento, fornecimento de energia e também a mobilidade, Enfim, vai faltar rua para tanto tráfego.
 
Agora, no processo de revisão do Plano Diretor Estratégico, setores do mercado imobiliário conseguiram incluir no texto medidas ainda mais "liberalizantes", permitindo novos espigões em pontos afastados até quase 1 km dos corredores e terminais de transportes, o que trará mais problemas de circulação na cidade. Para todos: motoristas, pedestres, ciclistas e também para o transporte público.
 
Ante a ameaça dessa onda espalhar-se para outras cidades, reproduzimos o artigo de Caio Guatelli, da coluna Ciclocosmo, no jornal "Folha de S.Paulo". É um alerta para a votação do novo plano, marcado originalmente para esta quarta-feira (21), mas adiado para sexta-feira (23), agora com modificações que atenuam, mas não eliminam os riscos.
 
 
"Atual revisão do Plano Diretor pode levar São Paulo ao caos
 
A falta de estudos de impacto na infraestrutura da cidade, comum a qualquer grande projeto urbanístico, deveria invalidar a atual revisão do Plano Diretor Estratégico do município de São Paulo.

O alerta foi dado por Luis Fernando Di Pierro, mestre em engenharia de transportes pelo Imperial College de Londres e coordenador do Plano Regional de Mobilidade Sustentável da Baixada Santista. Ele chama a atenção para o risco de um “caos urbano” caso o projeto seja aprovado na Câmara Municipal sem a realização de um EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança) —mecanismo de análise multidisciplinar estabelecido pelo Estatuto da Cidade, uma lei federal.

A proposta de alteração da lei, apresentada pelo vereador Rodrigo Goulart (PSD), tem sido duramente criticada por urbanistas, movimentos sociais e pela bancada da oposição por prever a expansão dos limites de verticalização —de 600 metros para um quilômetro no entorno de estações de metrô—, por flexibilizar as exigências por moradias populares e por aumentar o limite de vagas de garagem nas futuras construções.


Como mostrou o Painel (coluna Painel da Folha de S.Paulo), o teor da proposta sofreu interferência de incorporadoras imobiliárias e chegou a levantar suspeitas de improbidade do vereador Adilson Amadeu (União Brasil) por, no âmbito das negociações da revisão, pedir ajuda ao Secovi-SP (sindicato das construtoras em São Paulo) para o projeto de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).


Em seu alerta, Di Pierro lembrou que as estações de metrô ficam distantes 2 km umas das outras. “Se aumentarem o raio de verticalização para 1 km, as áreas ficarão contíguas. Com a futura expansão da rede do metrô, a verticalização vai ocupar tudo. A cidade não comporta. Será que não pensaram nisso?”.


O engenheiro observou ainda que o texto beneficia a construção de apartamentos caros para um público que dispensa o uso de transporte público. “Se a ideia é usufruir da estrutura do metrô, por que aumentar o número de garagens? Não faz sentido”.


Com larga experiência em consultoria urbanística, o engenheiro indica que projetos dessa envergadura geralmente são precedidos de estudos que comprovem a capacidade de suporte da rede de água, de esgoto e do sistema viário. “Nada disso foi feito”, disse. Di Pierro contou que enviou um ofício ao Ministério Público alertando sobre a ausência do EIV, e sugeriu ao órgão que tomasse providências para impedir o andamento do projeto sem os devidos estudos de impacto na infraestrutura.


“Se adensar mais, certamente teremos uma série de problemas. A disputa pelo espaço viário vai aumentar, vai faltar espaço principalmente para ciclovias, o trânsito vai piorar, vai haver aumento da emissão de gases do efeito estufa… É uma loucura o que querem fazer, a cidade já está no limite”.

Nas contas do engenheiro, a expansão proposta pela Câmara Municipal vai aumentar em 178% (quase o triplo) a área permitida para construção de prédios altos na cidade de São Paulo...."


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