Durante oito meses, dezenas de voluntários realizaram medições em seus trajetos diários no metrô parisiense; o objetivo: determinar os níveis de contaminação presentes na rede de transporte, e compará-las com a qualidade do ar que se respira nas ruas. E a conclusão é que a contaminação encontrada nos subterrâneos do sistema está muito acima dos padrões aceitos e recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), do governo francês, o estudo foi apresentado nesta segunda-feira (22) no programa de tevê “Vert de rage” (“Verde de raiva, em tradução literal), que encomendou a pesquisa.
Foi observado também que parte das partículas finas que ficam suspensas nos espaços do metrô vêm de fora, da poluição das ruas. Mas os freios dos próprios trens, quando acionados, também produzem a poeira contaminante e são responsáveis pelo problema.
Segundo a pesquisa, a contaminação por partículas finas PM2,5 (diâmetro inferior a 2,5 micrômetros) nos trens de Paris atinge em média 24 μg/m³, cinco vezes mais que os 5 μg/m³ recomendados pela OMS. A supercontaminação, definida como o excesso de contaminação na estação comparada com o exterior, é de 10,5 μg/m³ em média.
O estudo foi coordenado por Jean-Baptiste Renard, pesquisador do CNRS, e membro do comitê científico da associação Respire, que prestou queixa. Em abril, uma investigação foi aberta contra a empresa que administra o metrô, a RATP, por “pôr terceiros em perigo e fraude”.
Este estudo agora classifica as estações e linhas mais contaminadas. À frente dentre os piores está a linha 5 do metrô, que vai de Bobigny à Place d'Italie, com paradas em três grandes estações ferroviárias de superfície. Nessa linha os níveis de particulados chegam a 18 µg/m3.
Poluição por partículas finas está por todo o metrô de Paris. Linha 5 é a mais contaminada. Imagem: Jeremie Luciani/FranceInfo
Outros estudos
Há um ano, a Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anses) considerou que o conjunto de estudos epidemiológicos e toxicológicos era muito limitado para tirar conclusões sobre os possíveis efeitos da contaminação do ar, mas revelou que os dados sugeriam a “possibilidade” de efeitos cardiorrespiratórios.
A RATP questiona a confiabilidade da metodologia adotada: “Tais medições devem ser realizadas segundo protocolos científicos validados e com material de referência”, reagiu a responsável pelo serviço de desenvolvimento sustentável da RATP, Sophie Mazoué.
Mazoué diz que a empresa implementa medidas, como aparelhos para renovar o ar e lonas de freio, para reduzir os riscos. E aponta como prova da eficácia dessas ações um estudo epidemiológico realizado entre 1980 e 2017 que “não mostra um aumento dos sintomas respiratórios e cardiovasculares em nossos empregados”, insiste a responsável.
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