Na última sexta-feira, 12 de maio, foi realizada mais uma edição da campanha De Bike ao Trabalho, promovida no Brasil pela rede Bike Anjo. Foi uma boa chance de incentivar o pedal como meio de transporte no dia a dia e destacar a viabilidade desse veículo simples e fantástico.
Além de se exercitar no trajeto, a bicicleta – assim como o caminhar – propicia um contato direto com a cidade, com a natureza exuberante em que florescem ipês e paineiras. E acreditem: cada estação do ano tem um colorido especial aqui no Distrito Federal.
Bicicletário da CLDF no dia da campanha Foto: Uirá Lourenço
É sempre muito bacana e animador ver mais pessoas usando a bicicleta. Fico imaginando se houvesse mais incentivos para pedalar no dia a dia, com ciclovias contínuas e iluminadas, menor limite de velocidade nas vias e menos vagas para os motoristas na garagem. Sonhamos com esse futuro possível e, por isso, desde 2016, sempre na segunda sexta-feira de maio, temos promovido o De Bike ao Trabalho. E também organizamos a atividade no Dia Mundial sem Carro, em 22 de setembro.
Em meu local de trabalho, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), surgiram alguns novos adeptos, além dos apoiadores de sempre, servidores que suam a camisa e vêm de longe para um dia mais leve e descontraído. Ornelio veio do Gama, Ana Clélia pedalou desde o Lago Sul, e Hugo veio de Águas Claras. Leia, a seguir, os depoimentos de Ana e Hugo.
Ana Clélia Foto: Uirá Lourenço
Ana Clélia, do Lago Sul à Câmara Legistativa do DF
"Eventualmente vou para o trabalho de bicicleta e é um dia muito feliz quando tenho essa oportunidade. Aproveito o trajeto de outras maneiras: aprecio o céu maravilhoso de Brasília, o vento no rosto pela manhã, a natureza e até mesmo a arquitetura das edificações.
A cidade plana favorece o uso da bike, e é uma delícia pedalar aqui. Além disso, a CLDF tem uma estrutura excelente para o ciclista, com vestiários com guarda volume e chuveiro, e um local seguro para estacionar a bicicleta.
Antes de me aventurar a usar a bicicleta para o trabalho, planejei o percurso, observei qual caminho seria mais seguro e mais fácil. Para mim, os 12 km de casa ao trabalho são tranquilos na maior parte do trajeto. Há ciclovias, ciclofaixas, calçadas e ruas com pouca circulação de carros. Porém, existe um pequeno trecho preocupante, que é a saída da Ponte das Garças em direção à L2 Sul. Neste local, como não há ciclofaixa nem calçada, a única alternativa é pedalar na mesma via que os carros. Eu imagino que a pé é praticamente inviável. Estranhamente, a Ponte das Garças tem um guarda-corpo, mas na saída da ponte não existe nenhum recurso de proteção para quem está de bicicleta ou a pé. O mesmo problema ocorre em outros pontos da cidade, como na Estrada Parque Aeroporto (EPAR).
Moro no Lago Sul, local muito bom para pedalar. Tem ciclofaixa na via principal, boas condições de asfalto e de calçadas e há muita gente que pedala no Lago Sul, por esporte, lazer, trabalho, escola… Difícil mesmo é o acesso ao Lago, onde temos que se aventurar e dividir a via com os carros em alta velocidade.
A viabilidade de usar a bicicleta para ir ao trabalho depende de alternativa segura para o deslocamento. No caso Lago Sul, é preciso prover acessos para quem não está motorizado. Pedestres também têm dificuldade, se quiserem se deslocar da L2 sul para o Lago Sul, por exemplo."
Hugo Leite Foto: Uirá Lourenço
Hugo Leite, pedalando desde Águas Claras
"Moro em Águas Claras, a cerca de 21 km de distância, e decidi adotar essa prática por motivos de saúde e preocupação com o meio ambiente. No início, deparei-me com o desafio de superar o bloqueio mental que nos faz acreditar que não é possível utilizar a bicicleta como meio de transporte para o trabalho. São tantas questões que surgem: o tabu social, a presença de carros nas vias, a falta de ciclovias adequadas, a distância a percorrer, o preparo físico necessário, o tempo de deslocamento, a questão do banho após pedalar, os equipamentos e até mesmo o receio de um pneu furado no caminho. A mente não se cansa de levantar essas barreiras contra a saúde e a mobilidade.
Como engenheiro, resolvi encarar cada um desses argumentos que vão contra o uso da bicicleta para ir ao trabalho e analisá-los em prol dos benefícios para a saúde e a utilização consciente dos recursos naturais. Percebi que muitas dessas preocupações podem ser resolvidas com planejamento, organização e adaptação.
No que diz respeito ao meu trajeto diário, considero-o bastante acessível até a altura da Octogonal. A partir dali, não existem ciclovias adequadas, apenas calçadas com inúmeras imperfeições, o que me obriga a compartilhar o espaço com os veículos. No entanto, observei que os motoristas da região do Sudoeste estão acostumados a conviver com bicicletas, tornando a coexistência mais pacífica. Talvez isso se deva ao nível de renda e escolaridade da cidade, além da consideração de questões como mobilidade e eficiência energética.
Ao chegar à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), sinto-me acolhido, pois contamos com bicicletário, vestiários equipados com água quente e armários. Percebi que até a válvula do chuveiro, com tempo de uso, foi pensada para economizar água durante o banho, evidenciando a preocupação com o uso consciente dos recursos.
Por fim, acredito que a adoção de ciclovias na região do Sudoeste, até o Setor de Indústrias Gráficas (SIG), assim como temos nas principais avenidas de Águas Claras, seria uma excelente opção para incentivar a mobilidade urbana e o uso da bicicleta como meio de locomoção. Essa medida ampliaria as possibilidades de deslocamento e promoveria uma alternativa mais saudável e sustentável.
Em resumo, sinto-me feliz em contribuir com a minha saúde e, ao mesmo tempo, promover o uso mais adequado e racional dos recursos que Deus nos proporcionou. Pedalar até o trabalho trouxe-me inúmeros benefícios e superou todas as barreiras que, inicialmente, pareciam ser impossíveis"
Veja um vídeo sobre o dia De Bike ao Trabalho em Brasília: