Nunca foi tão caro se deslocar de transporte público no Brasil. Principalmente para a população que sobrevive com o salário mínimo atual de R$ 1.320. Esses passageiros estão comprometendo pelo menos 15% de seu orçamento mensal com o transporte público. A situação é ainda mais grave nas capitais e regiões metropolitanas, onde a média do gasto com os transportes rouba cerca de 20% dos salários, apenas considerando duas passagens diárias em 20 dias úteis de trabalho.
O levantamento é feito a partir de dados da companhia alemã Numbeo, que anualmente divulga a lista das cem localidades com bilhetes mais caros. O Brasil aparece na 49ª posição este ano, cobrando em média R$ 4.80 por cada passe de ida. Em 2020, ocupava o 55º lugar no ranking, ou seja, as tarifas do transporte público passaram a pesar ainda mais para o brasileiro.
Ranking mundial
Os bilhetes mais caros, segundo a pesquisa, foram encontrados na Suíça, Noruega e Holanda, com valores próximos a 20 Reais. No entanto, o ranking peca por não considerar a renda média das pessoas que vivem neses locais. Conforme dados da própria Numbeo, em Amsterdã, Holanda, por exemplo, o bilhete básico custa 3,20 Euros. Mas lá, a renda média está em torno de 3.564 Euros, o que resulta em um gasto mensal de 4% do salário, bem menos da fatia paga pelos brasileiros.
Perda de passageiros
O transporte público por ônibus segue sofrendo as mazelas provocadas pela pandemia de Covid 19. Levantamento atualizado da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) aponta que o setor acumulou, nos últimos três anos, uma perda financeira na ordem de R$ 36 bilhões. O rombo seria referente ao período entre 2020 e 2023.
Os ônibus, assim como os sistemas sobre trilhos, amargaram uma perda de demanda de passageiros que chegou a 80% e, mesmo agora, três anos depois do início da crise sanitária, ainda não conseguiram recuperar o volume de antes da pandemia. O levantamento da NTU aponta que a situação está menos ruim no pós-pandemia, mas que a recuperação foi apenas parcial. E que, diante da demora do retorno dos passageiros, a expectativa é de que eles tenham deixado o sistema de vez, cada um por uma razão.
Entre elas, as principais são a crise econômica - que dificulta o pagamento do valor da tarifa -, os aplicativos de mobilidade urbana e o avanço do home office. De acordo com os estudos realizados, a demanda atual atingiu 82,8% dos níveis verificados na pré-pandemia.
Além dos ônibus, o transporte público sobre trilhos também sofre com os efeitos da pandemia de covid-19. Embora tenha registrado um aumento de 28% na demanda de passageiros em 2022, a rede de metrôs, trens, VLTs e monotrilhos do país ainda não conseguiu recuperar o volume de passageiros anterior à crise sanitária.
A perda de demanda em relação a 2019 chega a 43%. Em 2022, os sistemas de transporte metroferroviário transportaram mais de 7,8 milhões de pessoas por dia, o que significou um aumento de 28% em relação aos 6,1 milhões de passageiros transportados/dia em 2021.
Em 2022 foram transportadas 2,3 bilhões de pessoas por ano. Mas, quando o movimento é comparado com 2019, a diferença se destaca. Naquele ano, 3,3 bilhões de passageiros foram transportados. Ou seja, 11 milhões a mais.
*Edição e adaptação por Marcos de Sousa, do Mobilize Brasil
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