Em 2014, a ciclista italiana Paola Gianotti ganhou o título de "mulher mais rápida a completar a volta ao mundo em bicicleta": 29.430 km em 144 dias. Por si só, o feito já revela a enorme experiência, coragem e determinação da ciclista.
Como em todo grande recorde, a conquista ganha ainda mais valor quando são revelados seus maiores obstáculos e dramas. No caso de Gianotti, o maior obstáculo foi o mesmo que diariamente aflige, fere e mata muitos brasileiros que escolhem a bicicleta como meio de transporte: ser atropelado.
O atropelamento de Gianotti aconteceu 69 dias depois da partida de Milão (Itália), na metade da sua volta ao mundo, em uma estrada do deserto do Arizona (EUA), e quase custou sua vida.
Quatro meses depois, com as fraturas na coluna já consolidadas, Gianotti retomou a pedalada do mesmo ponto onde havia sido interrompida.
Descontados os dias em recuperação, Gianotti tornou-se não só a ciclista mais rápida a dar a volta ao mundo, como também uma vibrante cicloativista, reconhecida internacionalmente.
Pedal pelo Brasil
Em visita ao Brasil desde 4 de abril, Gianotti já pedalou 1.200 km, encarando as não tão gentis estradas do estado de Mato Grosso, onde visitou a Chapada dos Guimarães e o Pantanal.
Em São Paulo desde quinta-feira (13), foi conhecer a ciclovia do rio Pinheiros, e por lá deu uma palestra sobre segurança no trânsito e mobilidade sustentável.
Noite de palestra na ciclovia do rio Pinheiros, em São Paulo. Foto: Ciclocosmo
Confira a seguir parte da entrevista que a ciclista italiana Paola Gianotti concedeu ao blog Ciclocosmo (Folha de S. Paulo). Para ler o texto na íntegra, clique aqui.
Paola, por que você pedala tanto?
Para mim a bicicleta é vida. Pedalar significa viajar, conhecer novas pessoas, desafiar meus limites e levar uma mensagem pelo mundo. A bicicleta é liberdade, felicidade e emoção e sobretudo quando você pedala, você volta a ser criança, sem preocupações, sem esquemas sociais.
Você já pedalou pelas ruas de São Paulo?
Eu ainda não pedalei pelas rua de São Paulo, e fico muito curiosa.
Você está na ciclovia do rio Pinheiros, estrutura que oferece muita segurança ao ciclista. Mas a realidade brasileira fora deste parque, especialmente nas ruas sem estrutura cicloviária, é de grande ameaça a quem pedala. O que pode mudar esse cenário?
Ter ciclovias nas cidades é muito importante pela segurança dos ciclistas. Eu acho que ter uma cidade onde o limite de velocidade seja de 30 km/h é a solução para todas as cidades no mundo. Isso desencoraja o uso dos carros e, no caso de acidentes, seria uma velocidade muito menos perigosa pela incolumidade das pessoas. Claramente deveria ser incentivado também o uso do transporte coletivo para quem não pode utilizar a bicicleta (...).
Na sua volta ao mundo pedalando, onde se sentiu mais segura? E onde se sentiu menos segura?
Nas minhas viagens ao redor do mundo, o lugar onde me senti mais segura pedalando foram os países do norte da Europa, como Dinamarca, Holanda e Bélgica, mas também a França e a Alemanha. Os países menos seguros onde já pedalei são aqueles da América do Sul, mesmo que quando dei a volta ao mundo fui atropelada enquanto estava nos Estados Unidos, no estado do Arizona.
Qual a melhorar maneira de convencer as pessoas a trocarem seus carros por bicicletas?
Acho que a melhor maneira para incentivar as pessoas a utilizar a bicicleta em lugar do carro é oferecer segurança nas estradas, reduzir os estacionamentos de carros, criar pedágios para carros nas cidades, dar algum incentivo a quem utilizar a bicicleta para ir trabalhar e assim promover a cultura do ciclismo.
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