Em SP, parque e ciclovia são "vetados" a moradores próximos

Moradores podem ver, mas não conseguem chegar ao Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros. As pistas da Marginal Pinheiros funcionam como "muros" para os pedestres

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Fonte: Sampapé! / Mobilize Brasil  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 17 de março de 2023

Moradoras observam os jardins e ciclovia: sem aces

Moradoras observam os jardins e ciclovia: sem acesso próximo

créditos: Produtora do Corre


Aberto parcialmente ao público em julho de 2022, o Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros foi lançado pelo governo do Estado de São Paulo com a promessa de tornar-se o maior parque linear da cidade de São Paulo, acompanhando toda a margem oeste do canal do Pinheiros. No futuro, o parque ocupará uma faixa com 17,1 km de extensão, na margem oeste do rio, entre a ponte Cidade Jardim e o Centro Empresarial.


O primeiro trecho inaugurado tem 8,2 km de extensão e conta com diversas atrações, como ciclovias, playgrounds, áreas para piqueniques e trilhas. Apesar disso, as pessoas que moram em bairros próximos ainda desconhecem que a área está aberta ao público e que é possível usufruir do espaço. 

 

Quase cem comunidades estão no raio de influência da nova área de lazer, conforme levantamento realizado pelo Laboratório Rio Pinheiros, um grupo de estudos formado pelos urbanistas do Metrópole 1:1  e ativistas da organização SampaPé! em parceria com a Farah Service, empresa que planejou o parque. Segundo o estudo, o acesso desses moradores à nova área de lazer é quase impossível em razão das oito pistas das avenidas marginais e da grande distância entre os dois pontos que permitem a entrada ao parque.

 

Tão perto e tão longe
Algumas dessas comunidades, como a Peinha, o Real Parque e o Jardim Panorama, ficam muito perto e podem ver os novos equipamentos, mas são impedidas de chegar ao parque pela "muralha" do tráfego pesado. Conforme a pesquisa do Laboratório Rio Pinheiros, os únicos acessos caminháveis para o parque estão na ponte Cidade Jardim e na ponte Laguna - distantes 6,2 km entre si, ou cerca de 1h30 a pé.


O Real Parque e o Jardim Panorama estão próximos da ponte Morumbi - algo como 15 minutos de caminhada - mas não há acesso nessa ponte. A comunidade da Peinha está a apenas 5 minutos caminhando da ponte João Dias, onde existe uma entrada para o parque, mas inacessível aos pedestres: o acesso fica no meio da ponte, mas não há semáforo e nem faixa de pedestres para que as pessoas possam atravessar o trânsito intenso.


“O parque tem o potencial de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas que há anos são negligenciadas e mais vulnerabilizadas pelas políticas públicas e pelo planejamento urbano. Qualificar um parque tão próximo às pessoas, mas não garantir o acesso seguro é cruel e amplia ainda mais as desigualdades na cidade”, afirma a ativista Leticia Sabino, diretora do Sampapé!.


Ação com as conunidades
Para mudar este cenário, a organização SampaPé! realizou uma atividade envolvendo as mulheres e crianças das comunidades com oficinas participativas de diagnóstico dos trajetos a pé até as pontes mais próximas e a co-criação de soluções.


Além da implantação de um acesso na ponte Morumbi - sugestão já apresentada à concessionária do parque - as demandas mais necessárias envolvem a segurança viária, como a redução de velocidade do tráfego e a criação de faixa de pedestres com semáforos nas pontes, além da sinalização de prioridade aos pedestres nas travessias.


No início de fevereiro, as sugestões de melhorias geradas pelas comunidades foram apresentadas ao poder público, com a participação de representantes de Subprefeituras (Butantã e Campo Limpo) e da SPUrbanismo. 

 


Ciclovia e jardins no novo parque: poucos acessos e nenhuma conexão com o transporte público 
Foto: FarahService


Potencial para a mobilidade urbana

Mais do que um parque, a faixa ajardinada e dotada de ciclovia poderia também integrar uma malha de mobilidade para os bairros lindeiros, permitindo que os moradores pudessem usar suas bicicletas para chegar até locais de trabalho, pontos de comércio e, especialmente, alcançar as estações do trem urbano e do metrô, com a possibilidade de integração e até do transporte das bikes nos horários fora de pico.


Para isso, a solução mais adequada seria a construção de pontes-passarelas que cruzassem as faixas das avenidas Marginais. Ironicamente, a Ciclopassarela Flutuante inaugurada nas proximidades da estação Granja Julieta permite a travessia do canal e a ligação com a ciclovia da margem leste, mas não dá acesso aos trens da Via Mobilidade, nem aos bairros do outro lado do rio.

 

Ciclopassarela do novo parque: sem conexão com a estação de transportes Foto: Governo do Estado de São Paulo

 

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