"Há uns anos atrás entrei em um desses micro-ônibus amarelinhos para realizar um passeio promovido pela minha escola. Achei o veículo péssimo. Entre outras coisas que me assustaram, não vi cinto de segurança - algo inacreditável para um transporte escolar.
Tive vontade de chamar atenção para o fato na hora, mas fiquei constrangida por não estar na organização do evento. Inclusive, muito a contragosto, calei também quando vi que o motorista permitiu que mais gente entrasse, lotando além do que o espaço permitia.
Era um sábado ensolarado e não havia trânsito pesado na rodovia Rio Santos. Mesmo assim, fiz o percurso inquieta, testemunha das condições de insegurança a que estavam submetidos os passageiros (inclusive eu). O passeio foi um sucesso e felizmente não tivemos nenhuma situação perigosa no caminho.
Hoje, se tivesse que entrar num veículo similar, a história seria outra. Principalmente porque continuo perplexa com o acidente ocorrido com um transporte escolar no último dia 9, em Jandaia do Sul, norte do Paraná. O vídeo é impactante. Há um trecho onde vemos as crianças literalmente voando pela janela com a batida do trem na lateral do carro.
Especialistas de trânsito afirmam que o problema é antigo e recorrente nesses transportes. Vejam bem, se é assim, os responsáveis pela fiscalização dos escolares são cúmplices dos sinistros. No caso de Jandaia, há que se levar em conta também a imperícia e a imprudência do motorista - e não apenas as condições inadequadas do veículo.
Não é o primeiro acidente grave com um ônibus escolar. Mas todas as tragédias anteriores já deveriam ter servido para alertar o quanto é importante ter motoristas capacitados e rotas com a melhor segurança viária possível. Ainda não se conscientizaram. Triste."
*Thatiana Murillo é professora de espanhol e cofundadora do movimento Caminha Rio, de defesa da mobilidade ativa
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