Você sabe o que é andoativismo ?

É um nome para o ativismo de que defende o direito de caminhar com segurança e conforto pelas ruas e rodovias do mundo. José Osvaldo Martins explica a ideia

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: José Osvaldo Martins  |  Postado em: 06 de março de 2023

Painel

Painel "Walking Men", de Maya Barkai, em Buenos Aires

créditos: Walking Man World, by Maya Barkai


Jornalista e caminhante convicto, José Osvaldo Martins defende a ideia de criar um nome para o movimento em defesa da mobilidade a pé. E sugere o termo "andoativismo", uma palavra que pode fortalecer o movimento dessas pessoas que insistem em ter os pés no chão.


Andoativismo é uma forma de ativismo voltado a pessoas que gostam e/ou precisam se deslocar a pé para seus locais de interesse. Evitamos a palavra "pedestre" pelo desgaste do termo. Preferimos chamá-las simplesmente “caminhante” pois assim lembramos à sociedade que são (somos) essencialmente pessoas.


O termo "andoativismo" se conecta aos conceitos de mobilidade urbana sustentável e cidades para pessoas, que já são valorizados em grandes cidades mundiais, como Bogotá, Paris, Helsinque, Nova York e outras que perceberam os malefícios do excesso de veículos e os benefícios de oferecer boas condições para que as pessoas possam caminhar com segurança e conforto.

 

Por que andoativismo? É um neologismo que une as palavras andar e ativismo, a exemplo do cicloativismo (ciclismo + ativismo. O nome sintetiza os anseios de milhares de pessoas que lutam por cidades melhores para caminhar e que precisam estar unidas em torno desse ideal. Assim, a palavra consolida, confere identidade e força a esse movimento.


Os caminhantes tiveram historicamente pouca representatividade coletiva na sociedade, embora desde o surgimento dos automóveis já houvesse quem protestasse e apontasse o absurdo de pessoas serem expulsas das ruas. Também apontavam a perversidade de aceitar as mortes geradas pelos novos veículos como "mero efeito colateral do progresso". Durante todo o século 20, ativistas isolados e grupos organizados tentaram mostrar que algo estava muito errado, mas eram abafados pela tendência utilitarista-comercial que predominava (e ainda predomina) nos centros urbanos. A partir dos anos 1970, com os enormes congestionamentos, a poluição atmosférica, e os milhares de mortos e feridos no transito, começaram a surgir movimentos em favor dos caminhantes, tendência que cresceu na virada do século e atingiu países de todo o mundo e também o Brasil.

 

 O feliz e o infeliz...mas quem é quem? 
Ilustração de Andy Singer, do livro CARtoons – Atropelando a ditadura do automóvel

 

Em cidades hiper saturadas de carros e motos, ainda prevalece a falsa ideia de que as pessoas felizes são aquelas que vão para qualquer destino de automóvel, e que aos infelizes só lhes resta andar a pé, noção arcaica que acaba relegando o caminhante às margens, às sobras de espaço.

 

Caminhantes são maioria absoluta em qualquer cidade, mas por isso mesmo, paradoxalmente, não há um sentimento coletivo ou de pertencimento. As pessoas veem a locomoção a pé como uma condição e não como algo que têm em comum com os demais.


Estudantes, trabalhadores, idosos, crianças, gestantes se deslocam a pé ou em cadeiras de rodasa todos os dias, mas não se reconhecem como parte de um grupo capaz de atuar politicamente e pressionar a sociedade. Diferentemente das pessoas que fazem uso da bicicleta e se organizaram em torno de objetivos comuns, formando grupos de representação, os pedestres se enxergam como indivíduos isolados e chegam mesmo a achar que não precisam reivindicar nada, posto que a ideia de "as ruas são para carros" foi naturalizada. E as calçadas, espaço destinado aos caminhantes, não são projetadas para um trajeto fluido, linear, decente. Quando existem, são mal cuidadas, estreitas, repletas de degraus, postes e toda sorte de obstáculos.


Dar nome a uma causa faz barulho. A palavra se espalha e invade o cotidiano das pessoas, passa a ser debatida, refletida, assimilada, as pessoas passam a ter conhecimento sobre o que se propõe e assim a sociedade passa a reparar no que se ignorava.


Em resumo: Andoativismo é o ato de lutar por cidades humanas, dignamente caminháveis, focadas em pessoas, e no caminhar como forma mais natural, limpa, não agressiva, saudável e contemplativa entre todas as formas de deslocamento.


Leia também:
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O lado bom de andar a pé

 


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Comentários

Kauane - 14 de Junho de 2023 às 17:10 Positivo 1 Negativo 0

O andoativismo seria o ideal para o mundo que vivemos hj, eu por exemplo vou para a academia que é do lado da minha casa de carro por ter medo de andar a noite nas ruas de SP.

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