Áreas com restrição à circulação de veículos, exclusivas para moradores, pedestres e ciclistas, são hoje comuns em várias partes do mundo. Além de reduzir o tráfego, elas minimizam o ruído urbano, a poluição atmosférica e os riscos de acidentes.
No entanto, na Inglaterra, as low-traffic neighbourhoods (LTN) estavam sendo questionadas sob o argumento de que, na prática, essas zonas restritas estariam somente transferindo os problemas para as vias e bairros das próximidades.
Para avaliar a questão uma equipe de pesquisa do Imperial College London analisou três LTNs no distrito de Islington, um dos mais populosos de Londres, para identificar seu impacto na poluição do ar, bem como no tráfego dentro das zonas LTN e seus arredores. O estudo avaliou áreas sem carros implantadas no distrito durante 2020, comparando os níveis de poluição e tráfego nas estações de monitoramento dentro das zonas, nas ruas ao redor, e em locais de controle mais distantes, a partir de dados coletados pelo Conselho de Islington entre julho de 2019 e fevereiro de 2021.
Como cada uma das áreas restritas foi implantada em momentos diferente e nem todos os locais de monitoramento coletavam dados continuamente, a média dos resultados entre as três LTN não forneceria uma imagem geral precisa. Assim, a equipe realizou uma análise estatística para evitar a influência de fatores que pudessem afetar os volumes de tráfego e a poluição do ar em determinados momentos – como as restrições da covid, férias escolares ou alterações climáticas.
Usando esse modelo de “análise estatística complexa”, as pesquisadoras - todas mulheres - descobriram que as concentrações de dióxido de nitrogênio caíram 5,7% dentro dos LTNs e pouco menos de 9% em seus limites, em comparação com os locais de controle. Elas também descobriram que o tráfego caiu mais da metade dentro das LTN e 13% nos limites, em comparação com as áreas de referência mais distantes.
Conclusão: as áreas de restrição ao tráfego não apenas melhoram as condições nesses locais, como também desestimulam a circulação do tráfego nas vizinhanças, reduzindo a poluição em toda a região.
Área avaliada e estações de monitoramento no interior do distrito, nas imediações e em zonas distantes
O trabalho verificou que as zonas de restrição evitam que certas áreas da cidade sejam usadas como atalhos (caminhos de ratos) pelos motoristas em seus deslocamentos cotidianos. "A pesquisa refuta claramente o argumento de que as zonas de baixo tráfego necessariamente causarão um aumento no tráfego e na poluição do ar nas ruas vizinhas. Nas três áreas que examinamos, eles reduziram os volumes de tráfego e, significativamente, a poluição do ar dentro e nas bordas da zona. Juntamente com os outros benefícios das LTN que foram demonstrados em pesquisas anteriores - como melhorias na segurança e aumento na caminhada e no ciclismo - isso é um argumento muito forte a seu favor", declarou a pesquisadora Audrey de Nazelle, do Imperial’s Center for Environmental Policy.
Sua colega, coautora do trabalho, a pesquisadora Helen Yang explicou que o estudo foi o primeiro a usar uma "abordagem estatística robusta" para mostrar o impacto das LTN nas áreas vizinhas, e argumentou que os resultados foram realmente encorajadores. "Trabalhamos com um conjunto de dados relativamente pequeno e agora são necessárias mais pesquisas para confirmar essas descobertas em uma escala maior", apontou Yang. O estudo completo pode ser consultado no site Science Direct.
Congestionamentos e danos à saúde
Hoje (25), pela manhã, no "Jornal da CBN", o médico Luís Fernando Correia abordou os problemas que os congestionamentos podem causar aos motoristas que passam muitos minutos (ou horas) em meio ao tráfego parado, com carros, caminhões e ônibus emitindo gases tóxicos. O especialista citou uma recente pesquisa realizada pela Universidade de Surrey, Inglaterra, que comprovou um aumento de 76% nos malefícios de respirar esse ar envenenado nos congestionamentos. Na entrevista ele lembrou que a OMS considera que a poluição atmosférica é um dos dez principais riscos à saúde humana e responde por sete milhões de mortes prematuras, em todo o mundo, a cada ano. Curiosamente, antes de ouvir o podcast no site da emissora, surge um ruidoso anúncio de um SUV, daqueles bem possantes, grandões e poluidores...
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