Holanda defende a mobilidade ativa na COP 27

Ministra do Meio Ambiente falou sobre a necessidade de reduzir o uso de carros e de ampliar e melhorar as condições para a circulação de ciclistas e pedestres

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Fonte: Governo da Holanda  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 18 de novembro de 2022

Holanda na COP 27: bikes e pés para chegar ao even

Holanda na COP 27: bikes e pés para chegar ao evento

créditos: Dutch Cycling Embassy


A ministra do Meio Ambiente da Holanda, Vivianne Heijnen,  fez uma forte defesa da mobilidade ativa, a pé e por bicicleta, no evento paralelo “Mudança de marcha: acelerar a mobilidade ativa para as gerações futuras”, durante a COP 27, ontem (17) em  Sharm el-Sheikh, no Egito.


O discurso da representante holandesa foi um dos poucos momentos em que os debates do encontro sobre o clima abordaram a necessidade de reduzir o uso de automóveis nas cidades de todo o mundo e de estimular a caminhada e o ciclismo como forma de transporte. No máximo, os delegados de outros países falaram em "formas sustentáveis de transportes", como o fez Lula, o presidente eleito do Brasil.


Vivianne Heijnen desceu aos detalhes, falou em crianças, em energia, na infraestrutura necessária e, sobretudo na reeducação dos gestores públicos. E anunciou um programa internacional para treinar 10 mil profissionais, em todo o mundo, em projetos e gestão para a mobilidade ativa. Pela importância das declarações, preparamos uma tradução e adaptação da fala da ministra: 


"Senhoras e senhores,


Estou curiosa. Quantos de vocês pedalam de vez em quando? Vejo algumas mãos levantadas. Olhe para todas essas pessoas que andam de bicicleta. Eles não parecem felizes?!


Claro, a Holanda é conhecida por ser uma nação ciclística. Dizem que as crianças holandesas estão entre as mais felizes do mundo. Imagino que uma das razões é que eles podem andar de bicicleta em quase qualquer lugar. Para a escola, para visitar seus avós, para o treino de futebol...


Isso lhes dá a liberdade de crescer como indivíduos e viver uma vida saudável e feliz. Os holandeses dizem que as crianças aprendem a andar de bicicleta antes de aprender a andar. Então, por que estou dando ciclismo e crianças como exemplo?


Como você sabe, nosso objetivo comum é um sistema de transporte de emissão zero e à prova de futuro que também seja inclusivo para as gerações futuras. Mas o que isso significa na prática? Não podemos atingir as metas de Paris sem focar na mobilidade ativa: caminhar e pedalar.


Afinal, 60% de todas as viagens urbanas percorrem menos do que 5 km, mas atualmente usamos veículos motorizados em mais da metade delas. Podemos fazer melhor!


O foco na mobilidade ativa reduz as emissões e contribui para um estilo de vida ativo e saudável e para cidades limpas e habitáveis.


A Holanda é pioneira global quando se trata de mobilidade ativa, especialmente ciclismo. Isso não é surpresa quando você considera que temos mais bicicletas do que pessoas: 23 milhões de bicicletas contra 17 milhões e meio de pessoas. Também temos uma excelente infraestrutura cicloviária, se assim posso dizer.


Pela nossa experiência, é importante focar em quatro áreas para fazer a mobilidade ativa acontecer: disponibilidade, segurança, acessibilidade e planejamento. Ou o mais rápido possível ;)


Como podemos colocar isso em prática?


Primeiro, meios de transporte ativos:
ciclismo e caminhada precisam estar disponíveis e acessíveis a todos, independentemente de sua renda ou idade. Como caminhar de casa para a escola ou trabalho. Na Holanda, as crianças têm aulas de ciclismo na escola primária. E vários municípios possuem bicicletários onde famílias de baixa renda podem encontrar uma bicicleta acessível para seus filhos.

 

Segundo, uma infraestrutura dedicada, segura e de alta qualidade é vital para promover a mobilidade ativa, especialmente para crianças e idosos. Vejo que cidades ao redor do mundo como Milão, Lima, Paris, Cidade do Cabo e Bogotá estão implementando ciclovias, reconhecendo a importância de uma infraestrutura de alta qualidade.

 

Terceiro, a mobilidade ativa melhora a acessibilidade em cidades grandes e em crescimento. Muitas vezes você chega ao seu destino mais rápido de bicicleta do que de carro, especialmente em cidades congestionadas que não podem acomodar um grande número de veículos. Um exemplo da Holanda é Utrecht, que planeja se tornar uma “cidade de 10 minutos”, onde tudo que você precisa vai estar a 10 minutos de sua casa de bicicleta, a pé ou de transporte público. O impacto positivo na qualidade do ar é óbvio.

 

E finalmente, para fazer com que essas ideias sejam realizadas é preciso educar os planejadores para levar em conta a mobilidade ativa desde o início ao projetar espaços urbanos.


Investir em mobilidade ativa faz sentido: o retorno é uma população mais saudável e cidades menos congestionadas, mais habitáveis e sustentáveis.


Felizmente, vejo que cada vez mais países e cidades ao redor do mundo estão reconhecendo a importância da mobilidade ativa e levando esses pontos em consideração. Durante a pandemia de Covid 19, muitas pessoas começaram a andar de bicicleta. E as áreas para pedestres mudaram a maneira como as pessoas podem aproveitar suas cidades natais.

Mas essa maior conscientização não está sendo suficientemente traduzida em ação e financiamento internacional. É importante que bancos de desenvolvimento e organizações internacionais reservem recursos de forma estrutural para investir em mobilidade ativa ao redor do mundo.


Por isso, fico feliz em ver que a mobilidade ativa está sendo discutida aqui na COP27 como uma importante contribuição para as metas climáticas, e que parceiros como Luxemburgo e o World Resources Institute, bem como a Partnership for Active Travel and Health, apelaram aos governos fazer mais sobre mobilidade ativa.

 

Como primeiro passo, tenho o prazer de lançar esta importante chamada à ação para capacitação de 10.000 profissionais de mobilidade ativa da Transport Decarbonization Alliance.

 

A Holanda não está apenas fornecendo expertise para acompanhar o apelo à ação. Também vamos investir 150.000 euros na formação do primeiro grupo de especialistas em mobilidade ativa. Claro que será necessário muito mais  se quisermos atingir as metas.

 

Portanto, convoco todos vocês a fazerem investimentos semelhantes. É por isso que estou organizando este evento hoje, juntamente com nossos parceiros da Transport Decarbonisation Alliance, World Resources Institute e outras partes interessadas. Todos queremos acelerar a implementação da política de mobilidade ativa, que será discutida na primeira sessão do painel. E melhorar os mecanismos de financiamento para a mobilidade ativa, sobre o qual falaremos na segunda sessão do painel.

 

Então, vamos nos unir neste importante tema e trabalhar para um mundo melhor para as gerações futuras. E vamos pedalar! Para encorajar isso, a delegação holandesa – que obviamente pedalou para esta reunião – vai doar suas bicicletas para a empresa Baddel – a organização de compartilhamento de bicicletas aqui em Sharm el-Sheikh."


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